Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Artigos de Muniz Sodré

Novidade para gente nova

É fato consabido na comunidade dos especialistas em marketing jornalístico que jovem não lê jornal – em papel, entenda-se. Não se leva em consideração, no caso, a leitura fragmentária de pílulas noticiosas na internet. Daí a novidade anunciada por Rupert Murdoch, o grande tycoon da mídia americana, presidente da News Corp, durante a recente reunião […]


O espetáculo e suas perversões

Diante de uma prateleira de supermercado, a mulher, de aparência muito humilde, explica à outra por que não tinha torcido pela seleção brasileira: ‘Eu, aqui, me virando para comprar comida, e aquela turma de milionários correndo atrás de uma bola no campo…’Em princípio, uma frase dessas, colhida ao acaso no instante fugaz de uma ida […]


Os neojornalistas estão chegando

Em sua coluna semanal do Globo (20/6/2010), Caetano Veloso comentava sobre um amigo jornalista para quem o convite feito a celebridades para escrever em jornais é uma tentativa furada de enfrentar a crise da palavra impressa no mercado. O jornalista estaria ‘sentindo saudades de um suposto tempo em que jornais eram feitos por jornalistas’. Assim, […]


O tempo contado da política

A imprensa escrita tem-se esmerado em reprisar informações sobre o tempo televisivo dos candidatos à presidência da República. Fica-se assim sabendo que Plínio de Arruda Sampaio (candidato do PSOL) terá escassos 44 segundos, embora disso ele pareça fazer pouco caso: ‘Vamos martelar nossos endereços eletrônicos’. A petista Dilma Rousseff, no caso da formalização de apoio […]


Quando o Estado é infrator

Uma única vez, em todo o tempo em que escrevo para o Observatório da Imprensa, tive um artigo recusado pelo editor – recusa corretíssima, aliás. É que eu havia escrito um texto sobre o absurdo de multas aplicadas a motoristas no Rio de Janeiro a partir de um fato ocorrido comigo. Eu estacionara o carro […]


O triunfo estatístico do banal

Na quinta-feira (1/4), era um júbilo só o sistema Globo: a final doBig Brother 10, exibida dois dias antes, dera à rede de TV 40 pontos de média de audiência. ‘Menos que as edições anteriores (na ordem: 59, 45, 55, 56, 57, 51, 48 e 46 de média)’, comentava uma coluna do jornal, ressalvando: ‘Em […]


Sobre as vozes do espanto

A propósito do amplo espaço concedido pela mídia ao julgamento dos Nardoni em São Paulo, vale a pena chamar a atenção para um aspecto particular da cobertura: a ausência de escuta das vozes favoráveis ao casal de acusados. É claro que a defesa dos réus fará valer todos os recursos jurídicos nesse sentido, além daqueles […]


A deriva dos factóides

Uma vez mais, o New York Times torna-se palco de um episódio de fraude ou daquilo que outros chamam de ‘lesa-integridade-jornalística’. Com ou sem eufemismo, o fato envolve o repórter de economia Zachery Kouwe, acusado de ter copiado passagens de artigos do Wall Street Journal, da agência Reuters e de outros, usando-as em reportagens e […]


Semiótica da caixa de isopor

Na primeira página do Globo (13/1/2010), uma charge mostrava a escala da evolução humana com o presidente da República na quarta posição, logo após o Homo Sapiens, com uma caixa de isopor na cabeça. O noticiário da catástrofe no Haiti monopolizou as atenções gerais, mas permaneceu a sensação de ter havido algo de curioso, senão […]


Leitura crítica de um escândalo

Em sua coluna mais recente (O Globo, 11/1/2010), Ricardo Noblat aborda o escândalo do Distrito Federal, perguntando-se sobre a natureza do país em que um deputado filmado quando escondia dinheiro nas meias pode voltar à cena como presidente da Câmara Legislativa. Escreve: ‘Está para se ver ato mais revelador do estado de apodrecimento dos costumes […]


O referendo do relógio cuco

Há uma boutade em O Terceiro Homem que se conta ter sido um improviso de Orson Welles no instante da filmagem. Referindo-se à Suíça, diz ele ao interlocutor que, em meio a traições, envenenamentos e assassinatos dos Bórgia, os italianos produziram uma Renascença. Já os suíços, após séculos de ordem e democracia, produziram o quê? […]


Um aquário com peixes míopes

‘Para bem se observar um aquário, é melhor não ser peixe.’ O dito não chega a ser um grande aforismo, mas dá conta em poucas palavras da ponderável cautela que se deve ter na análise de situações que envolvem o observador por todos os lados, como os peixes num aquário, impedidos de ver a totalidade […]


É necessária uma nova Abolição?

Há uma questão atravessada na garganta de grupos empenhados na defesa das políticas afirmativas da cidadania negra. Trata-se de saber por que os jornalões (nome talvez mais palatável do que ‘grande mídia impressa’) brasileiros não dão voz alguma a quem se manifesta favorável a medidas como a instituição das cotas ou ao Estatuto da Igualdade […]


Sobre a lógica da depredação

A imprensa deu tratamento de quasefait-divers às ocorrências dos dias 7 e 8 de outubro na linha férrea administrada pela empresa SuperVia, no Rio de Janeiro, quando multidões depredaram vagões de trem em regiões populosas como Nova Iguaçu, Nilópolis, Mesquita e Deodoro. Em outras palavras, o acontecimento foi descrito como uma anomalia (corroborada inclusive por […]


Uma suspeita em questão

A imprensa, de um modo geral, só nos informa sobre causas quando os efeitos se tornam acontecimento. Tecnicamente, está correto, esta é a lógica de produção da notícia. Acontece também de não se especular sobre causas em ocorrências muito chamativas. É o caso desse italiano (casado com uma brasileira) que, de férias em Fortaleza, foi […]


Para onde vai o jornalismo

Perplexidade é palavra que pode inicialmente fazer lembrar o famoso Guia dos Perplexos, de Moshe Ben Maimon ou Maimônides, o mais importante pensador do judaísmo na Idade Média. Complexo, denso e em muitos aspectos atual por sua inquirição sobre integridade e ética, o tratado de Maimônides sempre foi lido pelos eruditos como uma busca de […]


Judiciário e o vazio da representação

Como parece sabido, toda notícia é a singularização de um fato, isto é, a redução da amplitude do acontecimento aos elementos que, de modo claro, o individualizam. Talvez por isso a imprensa venha tratando a tendência do Poder Judiciário a coibir a imprensa como se isto se devesse ao arbítrio isolado de determinados magistrados.A coisa […]


A ideologia como gramática da clarificação

‘Toda ordem traz uma semente de desordem; a clareza, uma semente de obscuridade’ (Raduan Nassar)No empenho de conhecer um fato ou uma coisa, deles se faz inicialmente uma apreensão, ao mesmo tempo racional e sensível, condicionada tanto pela formação quanto pela posição social do indivíduo. Uma espécie de roupagem perceptiva e cognitiva cobre o objeto […]



Um fim prenunciado

Houve quem ficasse ofendido com a comparação, feita pelo ministro Gilmar Mendes, do jornalista ao chefe de cozinha. Em princípio, não há motivo para zanga. No geral, além de ganhar melhor do que o comum dos jornalistas, chefe de cozinha é profissão em alta, com requintes que só se obtêm com mais anos de prática […]