O jornalista, escritor e professor de Jornalismo Eduardo Ritter acaba de lançar o seu segundo livro, Jornalismo Gonzo: medo, delírio, mentiras sinceras e outras verdades (Insular, Florianópolis-SC). O livro aborda o estilo criado e praticado pelo jornalista e escritor norte-americano, Hunter S Thompson, nos anos 1970, e que aparece em obras como Medo e Delírio em Las Vegas e Rum: diário de um jornalista bêbado, ambos adaptados para o cinema com interpretação de Johnny Depp.
Além de apresentar a biografia de Thompson, o livro de Ritter também resulta de um estágio doutoral de um ano na New York University (NYU) e participação na Gonzofest de Louisville (Kentucky), cidade natal de Thompson. O autor relaciona o estilo com a sinceridade adotada pelo jornalista norte-americano em seus textos. “Hunter Thompson era o principal personagem de suas histórias. E, para isso, ele fazia uso da sua fala franca e assumia todos os riscos necessários para dizer a sua verdade nos principais veículos de comunicação dos Estados Unidos, como o jornal New York Times e as revistas Rolling Stone e Playboy”, destaca Ritter.
Para isso, Ritter recupera o significado do termo grego parresía, aprofundado por Foucault nas suas últimas aulas no College de France em meados dos anos 1980 , e que, sinteticamente, significa fazer uso da fala franca no espaço público assumindo riscos. Hunter Thompson exerceu a parresía o que fez um dos jornalistas mais polêmicos de sua época, fazendo com que o trabalho desenvolvido por ele a partir dos anos 1960 ultrapassasse as fronteiras dos Estados Unidos. Até hoje, o estilo Gonzo, criado por Thompson, inspira jornalistas ao redor do globo. “Com um texto agressivo e sincero, ele jogou drogas, bebidas, medo, delírio, humor, mentiras e verdades nas páginas de jornais e revistas. Transformou a cobertura de uma prova de turfe, de um rali no deserto e de uma convenção de policiais em Las Vegas em clássicos da literatura ocidental. Tornou-se o inimigo público número 1 de Richard Nixon antes de ser chutado para fora da Casa Branca. Brigou e xingou editores, entregou reportagens aos 49 do segundo tempo e publicou o que não queriam que fosse publicado. Mas, acima de tudo, escreveu textos sinceros”, avalia Ritter.
A obra conta ainda com prefácio do jornalista, escritor e professor, Juremir Machado da Silva, e texto de abertura de duas pessoas que foram muito próximas de Hunter Thompson enquanto ele esteve vivo. Ron Whitehead, poeta de Louisville, destaca que acompanhou o trabalho de Ritter na sua estadia nos Estados Unidos. “Eu tive a honra de conhecer e conversar longamente com um dos principais estudiosos brasileiros do Jornalismo Gonzo e da vida e obra de Hunter Thompson, meu amigo Eduardo Ritter”, salienta em seu texto. Já Anita Thompson, viúva de Thompson, acentua que o cenário político e social vivido pelo Brasil aumenta a importância da obra de Ritter. “Como nos Estados Unidos, o Brasil também opera nas costas da classe trabalhadora e o trabalho de Hunter é um antídoto, que envolve, que motiva e que dá forças para lutar contra a corrupção dos poderosos”, acentua. Ela também relata que recebeu a visita de Eduardo Ritter em Owl Farm, fazenda em que Thompson viveu a maior parte da vida e onde escreveu algumas de suas principais obras, como Medo e Delírio em Las Vegas. “Das dezenas de escritores que produziram livros sobre Hunter, Eduardo é um dos que melhor conseguiu capturar o espírito gonzo totalmente”, avalia.
Além de escritor e jornalista, Eduardo Ritter também é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), campus Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul.