Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

AOL compra site The Huffington Post


O Estado de S. Paulo, 9/2/11


Howard Kurtz, The Daily Beast


‘Huffington Post’ tem desafio de não se perder na AOL


A surpreendente compra do site de notícias ‘The Huffington Post’ pela AOL é, fora de dúvida, um triunfo de Arianna Huffington, da mídia online, do novo e brilhante sobre o velho e indigesto e, talvez, da AOL, uma antiga potência que hoje é uma miscelânea de sites populares e outros nem tanto.


Mas o negócio também suscita uma enorme quantidade de perguntas inevitáveis sobre o que ocorre quando um empreendedor constrói algo de sucesso e depois o vende a uma grande corporação.


Conseguirá o produto ágil, irreverente e por vezes picante conservar seu DNA depois de transplantado para uma cultura corporativa muito diferente? Será que a própria Huffington, uma socialite e apresentadora de televisão de primeira linha, além de provocadora, se conformará em ser empregada de alguém? Poderá o bombástico negócio produzir um choque de sinergia para ambos os lados, ou ele trará ecos da compra do Bebo pela AOL por US$ 850 milhões há três anos – e venda do site de relacionamento social no ano passado por meros US$ 10 milhões? Uma coisa é certa: o negócio de US$ 315 milhões balançou o mundo da web desde que foi anunciado, na segunda-feira.


Huffington me disse que seu relacionamento com o presidente executivo da AOL, Tim Armstrong, dissipou quaisquer temores que ela pudesse ter. ‘A minha visão e a dele estão muito afinadas’, disse ela. ‘Ele é muito apaixonado por jornalismo de qualidade e reconhece a necessidade de uma voz clara.’ Como a nova diretora editorial da AOL, Huffington disse que seu objetivo será ‘assegurar a junção de todas as seções diferentes que não tiverem uma clara identidade de marca – enquanto manteremos todas as seções que a têm – de maneira a produzir um jornalismo melhor, de maior impacto e empreendedor’.


Alguns veteranos da internet estão aplaudindo. ‘É realmente uma iniciativa ousada’, afirmou Jim Brady, que chefiou noticiário e esportes para a AOL de 1999 a 2003 e comandou o site do Washington Post por meia dúzia de anos após isso. ‘A AOL certamente precisa imaginar o que ela quer ser. Eu vejo toda essa gente no Twitter dizendo que porcaria mais porcaria dá porcaria. E fico rindo porque isso está vindo de pessoas trabalhando para empresas pelas quais ninguém ofereceria US$ 2 milhões.’ Até agora, disse Brady, a imagem da AOL era ‘rançosa’.


‘As pessoas sentiam que eram notícia velha’, afirmou ele. ‘Isso foi uma enorme injeção na veia.’ Jeff Jarvis, um ex-editor que dirige o programa de jornalismo interativo da City University de Nova York, disse que Huffington será um ativo valioso para seu novo empregador.


‘O que Arianna traz é humanidade’, apontou Jarvis. ‘Ela tem gente que conta. Ela compreende o valor da paixão. Ela compreende o valor da cura.’ Quanto ao modelo de negócio de seu site de quase seis anos, Jarvis, que escreveu para The Huffington Post e fez postagens cruzadas de seu blog Buzz Machine, disse: ‘Há este argumento: ‘Todo o mundo escreve para ela de graça’. Há uma razão para isso. Ela reúne pessoas num lugar, e eu acho isso valioso. Foi brilhante.’


Questionamentos. Perguntas semelhantes sobre identidade afloraram quando a AOL comprou o blog cheio de atitude TechCrunch, em setembro. Um dos colunistas do site, Paul Carr, escreveu no domingo que ‘ninguém aqui foi mais cético que eu sobre a estratégia de conteúdo da AOL’, e que ele subiu num palco com Armstrong ‘e descreveu nossos superiores como ‘o lugar onde as empresas iniciantes morrem’. E, no entanto, ao menos uma vez eu me vi aplaudindo Armstrong – e a AOL como um todo – por conseguir um feito duplo: uma brilhante aquisição estratégica por um preço lógico’.


Carr acrescentou que ‘por enquanto, a AOL cumpriu a promessa de não interferir em nosso editorial, e não há razão para supor que isso mudará com Huffington’.


A AOL precisou de quase uma década para se divorciar da Time Warner após a desastrosa fusão de 2000, que prejudicou ambas as companhias. Steve Case, cofundador da AOL e foi responsável por esse negócio, expressou no Twitter sua reação ao comentário de Armstrong de que ‘1 mais 1 dá 11’: ‘Mesmo? Não foi essa a minha experiência.’


Mark Potts, um jornalista que virou consultor de internet, disse que não ‘ficou muito impressionado’ com o negócio. ‘Arianna será uma grande pensadora editorial? Isso foi uma jogada desesperada da AOL. Afora o aspecto badalativo da coisa, não estou seguro de que ajudará a AOL. Não sei bem o que ela faz. Ela parece ir em festas e aparecer na TV. Acho que ela é a face.’


Mas Huffington será mais que a face de uma empresa que, um dia, disse aos Estados Unidos ‘você tem email’ e depois foi ofuscada por sites e blogs de conteúdo mais original e provocativo. Ela supervisionará uma coleção pesada de sites e subdivisões que incluem Fanhouse, Engadget, MapQuest, PopEater, Politics Daily e uma teia de sites de notícias comunitárias chamada Patch. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK


 


 


Folha de S. Paulo, 8/2


Fernanda Ezabella, de Los Angeles


AOL compra site The Huffington Post


A AOL, portal de internet que vem perdendo fôlego nos negócios e que fez 25 anos em 2010, anunciou na madrugada de ontem a compra do The Huffington Post, site de notícias que em menos de cinco anos virou sinônimo de jornalismo on-line.


O acordo, de US$ 315 milhões (R$ 540 milhões), cria a Huffington Post Media Group, que tem potencial de atingir 270 milhões de visitantes únicos mensais no mundo e 117 milhões nos Estados Unidos.


É a maior aquisição da AOL desde que a empresa se separou da Time Warner, em 2009, e ilustra o objetivo de transformá-la numa gigante de conteúdo editorial.


Arianna Huffington, cofundadora do site, vai comandar todo o conteúdo editorial da AOL, no cargo de presidente e editora-chefe da Huffington Post Media Group.


Em 2010, o gigante da internet, que também presta serviços de provedor, comprou o influente blog de notícias de tecnologia TechCrunch por US$ 25 milhões.


A AOL também possui o blog Engadget e o site Patch.com, que cobre 800 cidades dos EUA com jornalismo feito por cidadãos locais, de olho nas eleições presidenciais de 2012.


‘Combinando o HuffPost com a rede de sites da AOL, aumentando a iniciativa de vídeos, de foco local e alcance internacional, sabemos que temos uma empresa que pode ter impacto enorme’, escreveu Huffington.


A notícia vem num momento em que grandes empresas de mídia procuram se adequar às novas tecnologias e atrair novas formas de publicidade.


Na semana passada, Rupert Murdoch lançou o primeiro jornal exclusivo para iPad. Mas, diferentemente do gratuito Huffington Post, o ‘Daily’ custará US$ 0,99 por semana.


A AOL pode ser acessada em várias línguas. Em 1999, a empresa americana iniciou operações no Brasil, oferecendo conteúdo e acesso à web, mas fechou as portas em 2006 após problemas técnicos de instalação que acabaram afetando sua imagem.


QUEDA


Enquanto o Huffington Post não para de crescer, como um dos sites de notícias mais visitados, a AOL vem reduzindo seus poderes.


As receitas do quarto trimestre de 2010 recuaram 26%, para US$ 600 milhões, em razão da queda de assinantes de internet discada nos EUA e dos anúncios publicitários, sua maior fonte de renda. Em 2010, fechou 2.500 vagas, demitindo praticamente um terço de seus funcionários.


Com um investimento inicial de US$ 1 milhão, o Huffington Post surgiu em 2005, em parceria de Arianna com Kenny Lerer, ex-executivo da AOL. O site começou como um pequeno blog, mas foi crescendo em acessos, influência e anúncios.


Passou a dar lucro em 2010, quando registrou receita de US$ 30 milhões, baseada em propaganda.


Folha de S. Paulo, 8/2


Editora do site planeja lançar seção sobre o Brasil


Um dos cinco objetivos que Arianna Huffington traçou para seus negócios neste ano é o lançamento de seções internacionais no seu site de notícias Huffington Post, ‘começando pelo HuffPost Brazil’, escreveu a executiva ontem.


O anúncio estava em seu editorial que comemorava a venda do Huffington Post para o gigante da internet AOL.


‘No primeiro encontro do nosso time sênior deste ano, eu falei sobre cinco áreas que gostaria que nós atacássemos’, escreveu, falando também sobre investimentos em seções locais, ênfase em produtos de serviço, mais vídeos originais e inclusão de conteúdo sobre música, games e comunidades minoritárias.


Huffington esteve no Brasil em dezembro, quando participou de um debate na Folha e se reuniu com políticos e empresários.


Um jantar na casa do publicitário Nizan Guanaes reuniu Olavo Setubal Jr. e Ricardo Marino, do Itaú. Ela também se encontrou com Marta Suplicy.


Procurado pela reportagem sobre os planos para o HuffPost Brazil, o site não respondeu a tempo do fechamento desta edição.


O Huffington Post tem hoje uma equipe de 210 pessoas e reúne o trabalho de 9.000 blogueiros voluntários, incluindo algumas personalidades, como o senador Al Franken, Joe Solmonese (presidente da Human RightsCampaign) e a atriz January Jones.


 


Folha de S. Paulo, 8/2


Dan Sabbagh, The Guardian


Novo executivo planeja apostar suas fichas no jornalismo digital


Estamos todos com muita vontade de criticar a AOL, mas seria insensato fazê-lo.


Em algum lugar da memória coletiva vive a fusão com a Time Warner. Mas seria simplório pensar na AOL como companhia fadada ao fracasso quando ela tem um novo presidente-executivo, Tim Armstrong, com novo plano.


Ele deseja apostar o futuro de seu negócio no jorna- lismo digital, daí a aquisição do Huffington Post por US$ 315 milhões.


A AOL deseja enfrentar concorrentes como o ‘New York Times’ e o ‘Washington Post’ e talvez até mesmo o ‘Guardian’.


Ariana Huffington usou a força de sua personalidade para construir uma força genuína na mídia dos Estados Unidos. O Huffington Post é um site que recebe 25 milhões de ‘unique visitors’ ao mês, a espécie de tráfego que causaria alegria a qualquer organização de mídia.


E o negócio gera dinheiro real -o plano para este ano é uma receita de US$ 60 milhões, ante US$ 31 milhões no ano passado.


A AOL enfrenta problemas. O faturamento caiu 26% no ano passado, para US$ 2,4 bilhões, e a empresa teve prejuízo de US$ 728 milhões. O plano jornalístico de Armstrong tem contradições. Algumas de suas ideias têm qualidade irregular, como o projeto Patch, a iniciativa de jornalismo local da AOL.


Outras são deprimentes, como um memorando interno no qual ele recomenda que os funcionários escrevam cada qual de cinco a dez reportagens diárias.


Mas a AOL adquiriu o TechCrunch, um dos gran- des blogs de tecnologia do Vale do Silício, e agora o Huffington Post.


Isso pode surpreender as pessoas que se acostumaram a ouvir falar do declínio do setor tradicional de notícias, mas conteúdo noticioso é um dos principais fatores de atração de tráfego on-line.


Tradução de Paulo Migliacci


O Estado de S. Paulo, 8/2


Gigante da internet se volta para o conteúdo


A compra do site de notícias Huffington Post, uma das mais respeitadas publicações online do mundo, representa mais um passo dentro da estratégia da gigante da internet AOL de mudar o direcionamento de seu negócio do acesso à web para a produção e distribuição de conteúdos. A empresa é hoje considerada por analistas como uma ‘máquina de informações’.


Hoje separada do Grupo Time Warner, depois de um ‘casamento’ de nove anos, a empresa é proprietária de uma série de marcas respeitadas no mundo digital, como Mapquest (serviço de navegação), Politics Daily (publicação sobre política), Pop Eater (site sobre cultura pop), Moviefone (notícias sobre filmes e reservas de ingressos) e o portal de tecnologia TechCrunch. Outra aposta é o Patch.com, uma rede de notícias ‘ultralocais’ que cobre dezenas de comunidade nos Estados Unidos. Para analistas, o Huffington Post vai levar a briga para outro nível, com a AOL disputando público com concorrentes como o New York Times e o Washington Post.


A seu favor, a AOL tem um número considerável de leitores em seus sites: todos os meses, eles reúnem 117 milhões de usuários únicos nos Estados Unidos, número que sobe a 270 milhões no mundo.


No entanto, a aposta no conteúdo ainda não foi suficiente para compensar a redução do faturamento no acesso à internet. No quarto trimestre de 2010, a receita da empresa caiu 26%, para US$ 596 milhões, enquanto a venda de publicidade teve queda de 29%, para US$ 332 milhões.


Direcionamento. O objetivo da AOL é associar o Huffington Post aos demais sites de notícias que a nova proprietária já possui. Entre os possíveis ganhos estão o reforço da cobertura local nos Estados Unidos, graças ao Patch. Outra possibilidade é o enriquecimento da oferta de mídias – a AOL tem estúdios de vídeo em Los Angeles e Nova York.


Arianna Huffington, fundadora do Huffington Post, informou que a negociação com a AOL foi rápida e objetiva. Ela disse ter recebido um e-mail solicitando uma reunião no mês passado. Almoçou com Tim Armstrong, CEO da AOL, no dia seguinte. O negócio foi selado no último fim de semana, durante o Super Bowl (evento esportivo americano), no segundo encontro entre eles.