Assim que surgiram as primeiras matérias sobre o desfecho do seqüestro, declarei verbalmente minha indignação e perplexidade. Fiquei ainda mais surpreso quando notei que ninguém na redação demonstrou reação significante sobre o fato. É realmente preocupante a insensibilidade dos coleguinhas perante a vida real.
Luiz Carlos Santana de Freitas, jornalista, Brasília
Papel da Globo
A mídia tem grande poder de persuadir, mas não usa essa persuasão para mudar, resgatar nossa cultura. Sou fã da TV Cultura, assisto com muita freqüência, mas tenho a consciência de que não é uma emissora popular, não alcança um público jovem. Quem deveria fazer uma campanha de mudanças e resgate dos bons costumes seria a Globo, pois tem esse tipo de público.
Geraldo Manoel da Silva, professor, Vitória de Santo Antão, PE
Isenção mais difícil
Alguns acontecimentos marcantes são negligenciados pela mídia. Outros aparentemente de menor importância tomam um espaço maior do que de fato necessários. Por exemplo, algumas linhas editoriais parecem querer confirmar paradigmas já estabelecidos do que atualizar a nossa maneira de ver o mundo e conseqüentemente de vermos a nós próprios. Os fatos expostos na mídia, a cada dia mais, dão a impressão de que são escolhidos visando alguma espécie de retorno, em vez de visar o esclarecimento de seus leitores ou telespectadores.
O jornalismo cada vez mais (na minha opinião) cede espaço à propaganda. Seja a dos anunciantes, seja a do próprio relator das notícias. O relato isento a cada dia fica mais difícil de ser encontrado. Com o avanço tecnológico, qualquer pessoa pode divulgar informações (verdadeiras ou não) por inúmeras mídias. Necessitando para isso principalmente de recursos financeiros. A mercadoria notícia deixa de ser exclusividade de determinados grupos e passa a ser um bem comum manipulável. A visão do reportador do fato altera a sua maneira de transformar o acontecimento em notícia.
Michel Chad, engenheiro químico/escritor São Roque, SP
Febre de ‘pogroms’
O texto de Alberto Dines conduz à necessidade de uma outra reflexão: primeiro, a de que parece atribuir à atuação terrorista a condição de conseqüência inexorável da fé islâmica, como que legitimando a nova cruzada proposta por Bush: ‘Diante da surpreendente constatação do diretor-geral da rede televisiva al-Arabya, Abdulrachman al Rashed, de que ‘todos os terroristas do mundo são muçulmanos’ (Folha de S.Paulo, 5/9, pág. A-16) continuará a farsa ‘politicamente correta’ de fingir que o radicalismo islâmico nada tem a ver com este banho de sangue que corre nos quatro cantos do mundo?’.
Isto implica, em realidade, repetir a linha do Frei Diego de Landa, eclesiástico contemporâneo de Cortez, que, diante dos sacrifícios levados a cabo pelos maias, entendeu por bem destruir a maior parte dos seus escritos – poucos chegaram aos nossos dias, como se sabe. ‘Todos os terroristas do mundo são muçulmanos’ não implica dizer ‘todos os muçulmanos do mundo são terroristas’, mas sim que ‘alguns muçulmanos do mundo são terroristas’. Não estou entrando na ‘farsa politicamente correta’, ao contrário do que possa parecer – e já prevendo o bombardeio, sabendo que terei de ofertar outra resposta para aclarar meu pensamento, porque serei acusado de autoritário e dogmático por tomar posição (como já fui em outra oportunidade), apesar de não a pretender impor –, mas pura e simplesmente alertando para o fato de que, dentro em breve, teremos instaurada uma verdadeira febre de ‘pogroms’ contra muçulmanos.
E eles existem no Brasil, sim. Na Região Sul são muitos. E, no entanto, não se sabe de absolutamente nenhuma ação terrorista perpetrada por muçulmanos no Brasil. Por outro lado, a frase ‘todos os terroristas do mundo são muçulmanos’ acaba, por via de conseqüência, afastando da pecha de terrorista alguns dos demônios sempre perseguidos por Washington, pois não haveria terrorista irreligioso, a exemplo dos de orientação marxista. Também não se chamaria de terroristas os integrantes da Ku-Klux-Klan, porque são protestantes (aliás, eleitores de Bush). Muito menos, os skinheads, muito comuns em São Paulo, porque têm ódio de tudo o que não seja ariano. Tampouco os integrantes do IRA, que são católicos.
(…) A violência está tão banalizada que, hoje, mais interessa buscar os suspeitos de costume do que, propriamente, evitar que ela venha a ocorrer – o que jamais se conseguirá com ataques ‘preventivos’, que, por serem gratuitos, não deixam, também, de assumir um caráter eminentemente terrorista. Desde logo informo, para evitar mal-entendidos: não sou muçulmano, mas não posso deixar de referir que o mesmo livro que fala acerca do Jihad, a Guerra Santa – sim, falo exatamente do Corão – contém a seguinte passagem que os próprios crentes (como se autonominam os islâmicos) deveriam meditar: ‘Combatei, pela causa de Deus, aos que vos combatam, mas não provoqueis, porque Deus não estima aos agressores’ [Corão, Livro 1, Sura 2, Aleya 190].
Não defendo qualquer tipo de terrorismo, tampouco, provenha de onde provenha. E penso (…) que ainda estamos muito longe da afirmação dos valores universais sem permitir a risada zombeteira dos que quase destruíram a humanidade em nome da hierarquização entre raças e culturas.
Ricardo Camargo, advogado, Porto Alegre