O artigo é um tanto confuso. Não se sabe se é só para instilar veneno contra a tal da ‘bancada religiosa’ ou para defender os transgênicos. Se for pela primeira razão, seria bom rever os conceitos. Primeiro, porque o Partido dos Trabalhadores, que o autor parece prezar, teve grande contribuição – enorme, ousaria dizer – da esquerda católica para sua fundação (na dúvida, entreviste Frei Betto). Segundo, porque o repúdio quase mundial aos transgênicos nada tem a ver com fé religiosa. E não é por ser carola que alguém prefere não comer transgênicos. É só consultar as pesquisas.
Se o autor do artigo se desse ao trabalho de semanalmente ler as revistas Science e Nature constataria que há preocupações suficientes de setores da comunidade científica que desaconselham sua ingestão. E se preocuparia com a saúde de seus netinhos. O texto tem traços da pleistocênica retórica do Partidão. Mas os tempos são outros. Graças a Deus (que me desculpem os ateus).
Claudio Roberto Cordovil, jornalista científico, Rio de Janeiro; blog: Delicatessen Transgênica (www.transgenico.tk)
O que são OGMs?
Caro Deonísio, o que se questiona não é a pesquisa com transgênicos, mas sim o desconhecimento do impacto que pode causar no meio ambiente e na saúde humana. Eu, particularmente, gostaria de saber o que consumo. A propósito, você acusa os que são contra os transgênicos de retrógrados, mas poderia me explicar o que são OGMs (organismos geneticamente modificados)? Que mudanças foram feitas? Como são cultivados? Ser contra a pesquisa cientifica é uma aberração que deve ser combatida a todo custo, mas ficar refém da Monsanto é burrice mesmo. O senhor saberia explicar a origem da Monsanto e sua finalidade antes de se envolver com OGMs?
Não sou contra os OGMs, nem a favor, simplesmente desconheço, e não quero consumir alimentos sem saber de sua procedência e se foram feitas pesquisas honestas sobre seu impacto na saúde humana e no meio ambiente, e acredito que os agricultores que plantaram transgênicos devem ser punidos, cometeram um ato ilegal e devem responder por isso. Se fosse num país sério seriam presos.
Adriano Oliveira, estudante, Passo Fundo, RS
Rumo à Idade Média – Deonísio da Silva
Deonísio da Silva responde
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Meu caro Cláudio Roberto Cordovil, obrigado por me ler em nosso Observatório. Não passo de um escritor que escreve o que pensa, sem compromisso com ninguém, a não ser com a verdade e com a sinceridade de meus propósitos. Pelo mesmo motivo que canta o bem-te-vi, que daqui a pouco será provavelmente conhecido por well-I-saw-you, tantos são os exageros dos neologismos, eu escrevo, e o sapo salta. Não me peça para contrariar a minha natureza. Mas se o pássaro jamais desafina e o sapo não se expõe tanto, quem escreve, vive na chuva se molhando. E os leitores, repartidos, aprovam ou desaprovam, ‘não as duas que ele teve, mas só as que eles não têm’. Este é o mundo maravilhoso da Galáxia Gutenberg, onde tudo é posto em questão.Talvez o assunto seja confuso, não o texto. Reitero, porém, que meu propósito não foi instilar veneno na ‘bancada religiosa’ (batalho por um Estado leigo, sem interferência desta ou daquela religião) nem defender os transgênicos. Apenas opor luz às trevas, discutir a questão a partir de outros mirantes, não o da condenação prévia.
Não preciso entrevistar Frei Betto para saber a opinião dele: é meu amigo e sei o que pensa sobre temas tão candentes, mas amigos podem discordar, já que entre eles a menor distância entre dois pontos não é a reta, é a conversa clara.
Não há repúdio mundial aos transgênicos. Reconheço, porém, a hegemonia de tal repúdio na mídia. Não sei quais os propósitos da Monsanto, assim como desconheço os das companhias de cigarros. Mas os experimentos destruídos por José Bové tinham sido autorizados pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, na época em poder do PT.
Leio tudo o que posso e certamente menos do que devo, mas por acaso não pertence à comunidade científica quem inventou os transgênicos? E se netinhos tiver um dia, desejo que sejam bem esclarecidos, sem submissão a onda nenhuma.
Repilo, porém, o seguinte trecho, com veemência e vontade de vomitar: ‘O texto tem traços da pleistocênica retórica do Partidão’. Por que será que os artigos são assinados? Para esconder ou camuflar ideologias? Quanta vontade de ferir para uma simples carta discrepante! (D.da S.)
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Caro Adriano Oliveira, obrigado por sua leitura. Meu propósito foi justamente este: discutir os transgênicos. Antes de escrever meu artigo, tendo amigos cientistas, resolvi consultá-los e notei em vários deles um medo atroz de discordar do pensamento hoje hegemônico na mídia, que condena previamente os transgênicos, sem que seus autores se dêem o trabalho de mostrar aos distintos leitores ‘o impacto que pode causar no meio ambiente e na saúde humana’, para usar suas palavras.Não posso aceitar, entretanto, que os transgênicos sejam tratados com tanta superficialidade por aqueles que os condenam preliminarmente. Meu artigo pode ser pequena ajuda para que venham a público e digam, enfim, por que razão as autoridades sanitárias aprovaram os transgênicos. Não exigiram os estudos e pesquisas? Espero que nossas autoridades cuidem da questão, mas nego àqueles que escrevem sem pensar, só para entrar na onda dominante, de tal modo que pela assinatura já sabemos de antemão se serão contra ou a favor. Deles não recebo lição sobre assunto nenhum, muito menos sobre os transgênicos. Se tiverem saberes semelhantes ao domínio da língua portuguesa, estamos fritos.
Você diz, Adriano, que ‘ se fosse num país sério seriam presos’. Mas por quê? O Ministério Público não sabe alguma coisa que você sabe? (D. da S.)
MÍDIA & RELIGIÃO
Faz tempo que anseio por um texto desse nível, que denuncie ou ao menos expresse um desabafo em relação aos desmandos de uma instituição daninha como a Igreja Católica. Parabéns. P.S.: não sou evangélico, agnóstico ou ateu.
Sandro Silva, estudante, Salvador
Intolerância religiosa? E a culpa da mídia? – Marcelo Idiarte
Conivência assustadora
Pertinente a sua observação, caro Júlio. Mas o que me preocupa ainda mais é a conivência assustadora dos grandes veículos de comunicação com o curandeirismo sutil exercido pela Igreja Católica: que vende a idéia da cura e da salvação pela fé tanto quanto as demais religiões, mais ou menos esdrúxulas.
Marcelo Idiarte, diagramador, São Leopoldo
O falso milagre nas ondas do rádio – Júlio Ottoboni
OLHA A LÍNGUA!
Há tempos constato aqui no Brasil o escrúpulo em escrever os nomes próprios no plural. Assim, em recente número de revista de história, encontrei em texto sobre José Bonifácio uma referência a ele e aos seus dois irmãos como ‘os Andrada’. O mesmo acontece com o nome das tribos indígenas brasileiras: ‘os ianomami’, ‘os carajá’, aliás com k: ‘os karajá’, e assim por diante. Isso é erro recente de português. Basta lembrar que no Rio de Janeiro existe uma Rua dos Andradas, em São Paulo a Rua dos Gusmões. E o famoso romance de Eça de Queiroz tem o título no plural: Os Maias.
Roldão Simas Filho, Brasília
PADRÕES DE BELEZA
Sou leitora assídua de revistas femininas desde a adolescência, fim da década de 80. Não assino nenhuma; vou à banca e escolho as mais interessantes, pelas chamadas de capa, que nem sempre refletem o que está no interior das páginas. Existem revistas e revistas – para as ‘teens’, profissionais liberais que não são mães, mães, donas-de-casa, executivas, intelectuais, esportistas, adeptas à malhação, esotéricas, estilosas – e todas vão ao encontro das necessidades de seu público e de seus anunciantes, como acontece com jornais, rádios, TVs, sites e revistas, segmentados ou não.
Existem revistas caras e baratas, e nem sempre as que custam menos são inferiores em informação. Há leitoras que querem ler sobre sexo, trabalho, saúde, viagens, comportamento e, como não poderia deixar de ser, beleza. Quando ligam a TV, as mulheres são bombardeadas por apelos que levam à busca pela imagem perfeita. Nas ruas da cidade, painéis publicitários exibem estrelas belíssimas.
Não se pode fechar os olhos a tudo isso. Se a pessoa vai embarcar ou não nessa tendência, vai depender dos seus valores pessoais, da sua relação com seu próprio corpo e inúmeros outros fatores. A indústria da beleza e os avanços nessa área são responsáveis pelas vendas das revistas femininas. Mas existe uma cultura nacional de culto ao corpo que não é nova, apenas vem se acentuando. Nessa imensa gama de revistas femininas, destacam-se trabalhos excelentes e matérias pobres de conteúdo. Algumas têm a ousadia de ‘maquiar’ reportagens de anos anteriores, sem o menor constrangimento.
O que sustenta o caixa das revistas são os anunciantes, que se baseiam nas vendas dos exemplares. Se as vendas crescem, é sinal de que as leitoras estão satisfeitas. Isso é que pauta os assuntos abordados. Se as leitoras não são exigentes, algumas revistas se acomodam numa linha ‘que deu certo’ e não inovam. Tudo depende de quem compra. Nesse sentido, quem condiciona quem?
Nádia Almeida, jornalista, Praia Grande, SP