Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Bem feito!

Bem feito, quem mandou não acompanhar pela Band?

Maria Lucia Pereira de Sampaio, arquiteta, Porto Alegre



Informação necessária

Quero agradecer pela atenção com o que fazemos na ESPN Brasil e pelos comentários sempre criteriosos. Mas preciso fazer uma ressalva quanto ao que a autora escreveu a meu respeito na nota cujo título é ‘Mesmice irritante’. A matéria em que eu disse que Sebastian Cuattrin é argentino naturalizado brasileiro começava afirmando que os canoístas que representaram o Brasil em Atenas dariam uma boa dupla sertaneja, por terem o mesmo nome. Em seguida o texto dizia que, apesar da coincidência, os dois não tinham nada a ver com o sertão brasileiro. Um é descendente de poloneses (Sebastian Szubski, filho do técnico da equipe nacional, Zdislaw), e o outro, Cuattrin, é argentino… (o que é fato, já que ele nasceu em Rosario, em setembro de 73).

Não creio que tenha sido uma referência gratuita e, aí sim, irritante. A informação era necessária no contexto da reportagem. Concordo com o que você diz sobre o que acontece freqüentemente com Fernando Meligeni e outros atletas, mas não acho que tenha, usando suas próprias palavras, repetido uma eterna asneira.

André Kfouri, jornalista, São Paulo



Potencial fantástico

Faço uma ponderação às apreciações acerca da cobertura jornalística nas Olimpíadas 2004. A equipe feminina de voleibol do Brasil sem dúvida está entre as três melhores do mundo, no mínimo. É a segunda no ranking da FIVB e eliminou a primeira, os EUA, em jogo considerado final antecipada, como foi no Grand Prix. Claro que sentiu a pressão pra fechar contra a Rússia, o que não aconteceu só com o Brasil, aliás. A Mari fez 37 (!) pontos no jogo e errou a última bola. O Dante em Sidney 2000 errou a última contra a Argentina nas quartas e hoje é campeão olímpico. Tivemos pouco tempo de preparação, cerca de oito meses com o Zé Roberto, bom técnico (três meses treinando), enquanto um ciclo inteiro com o Bernardo Rezende.

O potencial do voleibol feminino é fantástico. Fabiana é campeã mundial juvenil 2003 e melhor jogadora. Paula e Jack machucadas são duas estrelas. Mari, uma realidade, sem nunca ter disputado nada internacionalmente e já decidindo. Se tivermos um ciclo sem crises no feminino não tenho dúvidas que o Brasil brigará pelo ouro novamente, do qual mesmo em Atenas já esteve tão perto. O voleibol mundial é amplamente dominado pelo Brasil, em todas as categorias, algo muito difícil em esportes coletivos.

Concordo sobre os comentaristas-amigos, ex-jogadores, com perda de criticidade. E o Barbosa é ‘bonachão’. Tem-se que investir em formação integral e geral no basquete feminino, apesar de termos conquistado o vice mundial sub-21 em 2002, um resultado fantástico: pela estrutura que se tem aqui. chegar a semi foi um ótimo resultado.

Mozart Maragno, estudante, Florianópolis



Paixão da derrota

Ora, pois! A autora, como todos nós, não agüenta mais tanta boçalidade na TV. Mas chamar de modesta uma equipe como a do vôlei feminino e classificar o técnico Guimarães de fraco só pode ser atribuído à paixão da derrota, em nada correspondendo à informação, que ela reclama. Afinal de contas, para que esse inconcebível desejo de medalhas? O resultado nacional é muito melhor do que a realidade miserável, em que crianças vivem nas ruas e as que vão às escolas não têm acesso a esportes e se dão por satisfeitas em comer aquela gororoba que chamam de merenda.

Ignoramos a perda diária de talentos em todos os níveis e choramos porque uns felizardos perderam o ouro. Fomos 18º. Se Daiane… se o vôlei feminino (vá lá, ficamos por um ponto)… o futebol feminino… e o nosso herói desconhecido, Vanderlei. Se tudo isso virasse ouro teríamos 8 e bateríamos em 15º. E daí? Continuariam morrendo os mendigos e os apresentadores amigos continuariam espalhados nas editorias de economia, política…

Paulo Menezes, jornalista, Salvador



A vitória escorregou

Como errar é humano (a grega Glória Maria que o diga!), aponto um pequeno deslize que, neste contexto, pode ser relegado a segundo plano. A seleção feminina de vôlei perdeu para Rússia na semifinal, e não nas quartas. Foi para disputa de bronze contra as cubanas e também perdeu. Acompanho o voleibol e acho que vale alguma coisa, sim. Se não valesse nada não teria ficado entre as quatro melhores do mundo. A equipe tinha condições de vencer, mas não teve controle emocional para finalizar um jogo praticamente ganho. Acho que faltou atuação da equipe técnica e a vitória escorregou pelas mãos.

Ana Claudia de Siqueira, jornalista, Campinas



Tintas carregadas

Marinilda Carvalho, em ‘Furo galáctico’, comenta (com razão) a excessiva boa vontade dos jornalistas e comentaristas esportivos com atletas brasileiros que não conseguem resultados satisfatórios em competições de alto nível. Mas, a meu ver, carrega nas tintas (corroborando Nélson Rodrigues) ao tentar desqualificar o brasileiro, ‘que não está preparado para ser o melhor do mundo em coisa alguma.’

Não é bem assim. Dizer que o atleta brasileiro, mesmo o mais competente, tem poder mental mínimo e sempre ‘amarela’ é evidente exagero. Por acaso Pelé, Éder Jofre, Ademar Ferreira da Silva, Popó, Ayrton Senna, Nélson Piquet, Fittipaldi, Ronaldinho, os jogadores de vôlei que ganharam já duas medalhas de ouro em Olimpíadas, não têm/tiveram preparo mental para suportar a ‘pesada e sufocante’ responsabilidade de serem os melhores do mundo?

Está certo que ganhar uma medalha olímpica é importante, mas pode-se considerar ‘bisonho’ um atleta que tira um quarto lugar? O time feminino de vôlei não vale nada? Só quem vale então é o time da China, que ganhou o ouro? A derrota da seleção feminina de vôlei causou estupefação, mas houve um atirador americano que errou o alvo, na prova de tiro, e causou risos. Os americanos também amarelam e não têm condições de serem os melhores em nada? Creio que faltou ponderação a Marinilda Carvalho. O Brasil não é uma potência esportiva, mas é a maior potência no futebol, o esporte mais popular do mundo. E os jogadores não parecem dar a mínima para o peso de serem os melhores.

Rogério Ferraz Alencar, técnico da Receita Federal, Fortaleza



Não somos potência

É preciso que a imprensa brasileira pare com o ufanismo desbragado na cobertura de eventos esportivos em geral. O Brasil não é uma potência esportiva (a não ser no futebol e, no momento, no vôlei) e incomoda que os ‘galvões buenos’ da vida (só pra citar o mais famoso e irritante) fiquem nos enganando quanto à nossa qualidade no esporte, que está narrando ou comentando. Chega de enganação!

Sergio Fonseca, comerciante, Feira de Santana, BA



Marinilda Carvalho responde

Prezados leitores, sobre as modalidades:

1) Vôlei feminino: o acidente foi nossa vitória nos primeiros dois sets e até o finzinho do terceiro. Quando as russas acordaram (isso acontece muito no vôlei) não nos deixaram vencer, e nem podíamos. Procurei não citar nomes no texto, porque as atletas não são culpadas pessoalmente. Cabe ao técnico avaliá-las. Mas o nosso não tem audácia, nem para convocar nem para substituir – parou no tempo, no ouro de 1992. Bem, por que não podíamos vencer? Um time que depende de uma atacante instável como Virna não tem força de decisão. No terceiro set está sempre esgotada, física e emocionalmente, porque, embora mais velha, infantilmente se exaure a cada pontinho. Fez 14 pontos naquela partida, contra 37 da Mari, a excelente jogadora de apenas 21 anos injustamente crucificada pela derrota – o que esperar de uma imprensa que primeiro exalta – ‘glacial’ – e depois detona? Podemos ter condenado (espero que não!) ali uma jogadora vencedora, pela incapacidade do técnico. Fernanda Venturini há tempos perdeu a imaginação – é só rever os tapes. Está desmotivada, e não é de hoje. Arlene é uma das piores líberos do mundo.

Vi, sim, todos os jogos do Grand Prix, e dali veio a certeza de que não tínhamos chance nas Olimpíadas – ‘viramos o fio’ (os antigos entendem esta expressão). O vôlei feminino de ponta está em renovação no mundo, e só não sabe disso quem não acompanha. Os outros times não jogaram nada no Grand Prix, estavam em preparação olímpica mesmo. Cada jogo do Brasil no torneio foi uma quase derrota. Cada vitória na Olimpíada foi uma derrota adiada. (Por isso confundi quartas-de-final com semifinal: já nos vi derrotados na partida contra os EUA.) Faltou convocação, faltou substituição, faltou preparo psicológico. E a derrota acachapante deve ser atribuída à comissão técnica, por isso é desagradável citar nomes de atletas.

2) Ginástica olímpica: para que falar da Daiane? Ela só levaria o ouro por milagre, e simbolizou a incompetência analítica da nossa mídia esportiva, que apostou (de mentirinha) numa atleta operada dois meses antes. Logo nesta modalidade, em que o peso da ginasta, ao bater no chão após os saltos, chega a algumas toneladas. Um ortopedista amigo comentou que nem a Mulher-Gato ousaria aterrissar livre, leve e solta naquele tablado, depois de uma cirurgia no joelho: o instinto de sobrevivência fala mais alto. E Daiane ficou em honroso quinto lugar porque os juízes são assim mesmo com quem chega a uma competição com o nome estrelado.

3) Basquete: nem merece comentário. O passado nos alimenta. Esperemos o futuro.

4) Futebol feminino: irrepreensível. Como disse a Pretinha: ‘Treinamos seis meses e ganhamos prata; elas [os EUA] estão juntas há 12 anos’.

5) Hipismo: até os grãos de areia das pistas sabem que no hipismo competem conjuntos. Baloubet refuga e comete faltas, é claro, porque o ‘genial’ Rodrigo Pessoa se descontrola em Olimpíadas. Levamos a prata graças ao ‘acidente’ do conjunto americano. Mencionar apenas o pobre sela francês foi, além de uma brincadeira com o dito popular ‘tire seu cavalinho da chuva’, uma cortesia com seu parceiro.

Sobre a crítica:

** Não sinto um ‘desejo incontrolável’ por medalhas, não pretendia comentar heróis ou títulos já conquistados, muito menos a patente miséria brasileira. O escopo do texto eram as derrotas (mais) previsíveis que a mídia poderia ter antecipado se fosse menos ‘amiga’.

** Deixei bem claro o desconto aos atletas das modalidades esportivas abandonadas pelo poder público.

** Nada tenho a ver com os EUA, sou brasileira.

** O tom foi agressivo, sim. Peço desculpas ao leitor por não ter conseguido controlar a raiva. Que continua forte contra os cartolas enroladores e a imprensa cúmplice.

** Por fim, crítico não tem que fazer melhor coisa alguma. Precisa apenas conhecer bem o assunto que critica. É ridículo que, em nossos dias, alguém ainda ache que o crítico de artes plásticas, por exemplo, precise ser pintor, e ainda por cima, bom! Considero-me credenciada por acompanhar atentamente muitos esportes, conhecer as regras, ver torneio de (quase) tudo (até golfe e sinuca…), seguir a evolução das modalidades (58 anos de vida facilitam essa tarefa). Portanto, defendo meu direito à crítica de nossa mídia esportiva, que reputo, com tristeza, uma das piores no conjunto da imprensa: boa parte é despreparada, ignorante, enganadora, sensacionalista, puxa o saco de atletas e dirigentes. Daí a indignação que o leitor-jornalista chama com razão de patada. Um abraço a todos. (M.C.)