Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Blogueiros, mas profissionais

Não tenho dúvidas de que a internet aumentou exponencialmente a capacidade de interação e interferência do público no mundo das notícias, mas teria mais cuidado na avaliação desse fenômeno dos blogs. Em primeiro lugar, não creio ser possível falar em ‘blogueiros’ em geral: seria importante perceber que, como tantas inovações tecnológicas ao longo do século passado, o ciberespaço reproduz relações de poder que estão na sociedade – o que, aliás, o próprio autor do artigo reconhece, ao dizer que os blogs mais acessados são de jornalistas independentes ou profissionais contratados por empresas de comunicação. Em decorrência, não me parece justo falar em mudança de status numa suposta oposição entre ‘blogueiros’ e jornalismo institucionalizado. O que se altera é a velocidade na contestação a uma notícia inverídica ou precária, mas é preciso notar também que é freqüentemente a velocidade que conduz a equívocos como esse da CBS (ou que, eventualmente, pode servir para ‘justificar’ ou ‘desculpar’ atitudes de má-fé).

Não deixa de ser curioso ler, na matéria seguinte (‘O calvário de Dan Rather’), que o âncora lamenta o ocorrido dizendo ter sido ‘um erro cometido de boa-fé e no espírito de tentar manter a tradição de reportagem investigativa, sem medo, nem favoritismo’. Ora, uma das características fundamentais do jornalismo (e me recuso a usar o termo ‘investigativo’, que me parece pré-condição para essa atividade) é justamente investigar – isto é, checar a veracidade das informações, antes de divulgá-las. É precisamente o que o distingue dos blogs ‘em geral’: o referencial de credibilidade. Se a CBS tivesse seguido os procedimentos de praxe – e, pelo visto, não foi por falta de aviso -, não estaria enfrentando essa situação. A propósito, recordo aqui de um exemplo, entre muitos, que o falecido JB proporcionou: a investigação sobre o famoso atentado no show do 1º de Maio de 1981, no Riocentro, com uma reconstituição que demonstrava cabalmente a falsidade da versão oficial. Foi há mais de 20 anos, num tempo em que não havia internet, muito menos blogs. E foi uma demonstração do que o jornalismo precisa ser.

Sylvia Moretzsohn, professora, Rio de Janeiro



Checar é o mínimo

Resumidamente, o que se depreende dos dois textos lidos é que há uma grande polêmica, com razão, acerca dos weblogs. Nem sempre, como diz o texto, o que circula na rede é confiável. Checar essas informações é o mínimo que se deve fazer antes de um veículo de comunicação convencional divulgar algo.

Jose Mauro Batista, estudante



União e repercussão

Achei muito interessante como esta ‘camada’ de pessoas (blogueiros), distante uma da outra, muitas vezes com pensamento diferente, unem-se sobre determinado assunto mundial, e acaba gerando tanta repercussão.

Manuela Vasconcellos, jornalista, Santa Maria, RS

Leia também

A vitória dos ‘jornalistas de pijamas’ – Carlos Castilho

O calvário de Dan Rather



Debate sonegado

Falta análise sobre o escândalo Rather-CBS, onde uma denúncia contra Bush foi baseada em documentos grosseiramente falsificados, bem como sobre o papel dos blogs no desafio à supremacia esquerdista na grande mídia. O artigo de Lins da Silva é uma peça absurda de desonestidade intelectual e histórica. Projeta nos EUA a realidade brasileira, onde o culto à personalidade de Lula é fabricado. Nem de longe toca no assunto CBS. No Brasil, o assunto é praticamente ignorado, o que é desinformar o público. Até quando a mídia brasileira vai se fazer de avestruz, não repercutindo o escândalo CBS-Rather? Como o Observatório se posiciona? Isto é um bom teste para a lisura deste canal. Por comprometimentos ideológicos, vai sonegar o debate sobre a imprensa?

Paulo Tarrasch, analista, São Paulo

Nota do OI: ‘A vitória dos ‘jornalistas de pijamas’’, de Carlos Castilho (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=295ENO001) e ‘O calvário de Dan Rather'(http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=295ENO002) são dois outros textos que publicamos sobre o assunto. Não pautamos colaboradores: cada um comenta o que prefere. Além disso, escreva ou não ao OI, todo mundo tem ‘comprometimento ideológico’, inclusive o prezado leitor – o que é mais do que legítimo –, desde já convidado a nos escrever sobre o tema. Nosso espaço está à disposição para a contribuição dos leitores, de onde provêm mais de 60% do material do OI.

Leia também

George W. Bush a indulgência da mídia – Carlos Eduardo Lins da Silva



Editorial atrasado

A Folha publicou editorial a respeito da greve do Judiciário em 21/9/04, no qual chama a atenção para as ‘conseqüências nefastas’ do movimento. Foi a primeira vez que o jornal se manifestou sobre o assunto, antes disso a cobertura vinha sendo ‘bastante irregular’, como confirmou seu ombudsman em resposta a e-mail. Mas quando a greve atingiu extensão ‘histórica’ (85 dias), o que coincidiu com as declarações do ministro do STJ clamando por uma intervenção no estado, passou a ser um espetáculo. Escrevi novamente ao ombudsman, Marcelo Beraba, pedindo-lhe explicações sobre a omissão da Folha, uma vez que a última greve da categoria ocorreu há apenas três anos e atingiu 81 dias, e a atual situação era bastante previsível, dado o silêncio do TJ, que não falava em negociação, o que durou mais de um mês.

O jornal bem poderia ter publicado o referido editorial nos primeiros dias do movimento. Resumindo: dessa vez recebi apenas uma resposta automática, talvez porque escrevi na sexta à noite e ele só virá a ler na segunda. O fato é que anteriormente as respostas eram pessoais. Creio que a imprensa deve, sempre que possível, agir de forma profilática, alertando para os prováveis prejuízos aos quais determinadas situações podem levar. Sou grevista e sempre quis que a situação se resolvesse o mais rapidamente possível. Os motivos da greve vocês devem saber. Infelizmente, nossos reclamos só são ouvidos quando estamos na rua, em frente ao Palácio da Justiça.

Alexandre de Barros Camargo, auxiliar judiciário, Guaratinguetá, SP



Concessões e transparência

Fico feliz quando leio matérias desse tipo [‘O debate que ainda não houve’] através das quais a discussão do tema – tão importante para a sociedade brasileira – acontece de forma clara e transparente e sem partidarismo. Sem tendências. Pena que são raros os veículos que adotam tal postura.

Edson Pessoa, administrador, Belo Horizonte

Leia também

O debate que ainda não houve – Venício A. de Lima