Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conceitos impostores

(…) Quando tu tens uma posição clara, que tu fazes questão de deixar clara – para que teus leitores saibam de onde tu estás falando, de que lugar epistemológico, de que espaço geográfico, de que postura política – é porque tu és parcial. É porque tu és uma péssima profissional, que não aprendeu que é preciso ser ‘neutra e imparcial’. E aí chovem as críticas. Gente que, não sem interesses determinados e também parciais, insistem nesses conceitos impostores. E pior, há veículos de imprensa que, se apresentando à sociedade como ‘neutros e imparciais’, calam, censuram e impedem que vozes parciais, honestas, corajosas e verdadeiramente anti-sistêmicas possam circular. É um paradoxo! Mas, facilmente entendível. Estou falando do que aconteceu com a escritora Urda Klueger, cronista do jornal Diário Catarinense, em Florianópolis.

Ela não é jornalista, mas ocupava uma coluna no jornal, justamente uma coluna de opinião, onde, supostamente, ela poderia dar a sua opinião. Os leitores, que não são ignorantes, sabem que, historicamente, uma coluna de opinião é, obviamente, de opinião. Pois ela, dia desses, decidiu falar sobre o massacre, o genocídio a que está submetido o povo palestino. Contou uma história, falou seu pensar. Como todo texto polêmico, esse recebeu uma carta de uma leitora, Heloísa Herscovitz, professora da UFSC, praticamente dizendo que ela não poderia externar seu pensamento daquela forma, acusando-a de anti-semitismo e ignorância. A carta foi publicada e Urda voltou a falar do tema na sua coluna, exercendo seu direito ao debate livre e libertário. Pois essa única carta provocou uma revolução dentro do jornal e a escritora foi ‘orientada’ a não falar mais sobre o assunto ‘palestinos’. Coisa estranha, né?

Só que a Urda nunca foi mulher de agir como cordeiro. Ela disse não! (…) Urda é mulher guerreira, de Blumenau, que desde menininha aprendeu a ver o mundo a partir da vítima. Urda tem a coragem de falar dos negros, dos pobres, dos desgraçados, dos malditos, dos que estão à margem. (…) Urda foi censurada, calada no direito de dizer sua palavra. Urda foi punida por falar do massacre, da vergonha, do terrorismo do Estado de Israel. Na tal carta, a professora de jornalismo diz que Urda não falou dos terroristas que matam pessoas, que só olha um determinado lado. É, Urda, esquecestes mesmo de falar dos homens e mulheres-bomba, que se imolam porque entendem que, às vezes, é melhor morrer que viver na dor. (…) Urda seguirá fazendo suas palavras andarem, em outros papéis, nas ondas do ar, no mundo. (…)

Elaine Tavares, jornalista, Florianópolis



QUEIXA CENSURADA
Carta aberta de demissão

Comunicamos que a partir de hoje, 16 de junho de 2004, não trabalharemos mais para o Projeto Telecentros, da Coordenadoria do Governo Eletrônico da Secretaria Municipal de Comunicação e Informação Social. Nesta segunda-feira, 14, a coordenação do projeto ordenou a retirada de um artigo e 10 comentários publicados em um site não-institucional (www.agentenarede.org) sobre o atraso dos salários dos trabalhadores dos telecentros, que se repete mensalmente desde dezembro de 2003. Não podemos ser indiferentes a atitudes de apoio à censura e, ao mesmo tempo, de desrespeito aos trabalhadores.

De um lado, mês após mês, cerca de 600 trabalhadores ficam sabendo de última hora que o salário não será depositado na data acordada. Na segunda-feira passada, 7 de junho, fomos avisados de que o salário seria creditado com 15 dias de atraso.

Além disso, os trabalhadores não são funcionários da Prefeitura; fazem parte de uma cooperativa organizada por uma organização não-governamental contratada pela Prefeitura de São Paulo. Os sócios da cooperativa que trabalham nos telecentros nunca foram convocados para assembléias nem tiveram acesso a balanços de contas e contratos. A precariedade do vínculo de trabalho está diretamente relacionada ao atraso dos pagamentos, tema do texto censurado.

No dia 9, publicamos o artigo ‘Mais um feriado pagando juros e micos’ no site comunitário ‘A Gente na Rede’, acessado sobretudo por usuários e trabalhadores de telecentros. O texto lamentava o novo atraso e dizia que ninguém sabia mais o que fazer naquela situação. (…) Nesses anos de trabalho no Governo Eletrônico, construímos projetos para os telecentros, acreditando que a inclusão digital é um caminho para a democratização da comunicação. (…) Não estamos dispostos a deixar de lado os valores éticos, transmitidos inclusive nas oficinas, e ser coniventes com o silêncio e a censura diante de uma realidade que afeta a nós, a centenas de colegas e às comunidades que usam os telecentros.

Carolina Motoki, Paula Takada e Thiago Guimarães, São Paulo



OPERAÇÃO ANACONDA
Quem paga o mal causado?

Percebo agora que, da maneira como foi colocada a acusação, com todo aquele estardalhaço, havia apenas o objetivo de vender gato por lebre. Li também na revista IstoÉ que não há qualquer prova contra os juízes Ali e Casem Mazloum. Mais do que isso, segundo li, eles provaram que são inocentes. E agora, quem é que paga a conta pelo mal a eles causado? Os procuradores da República que agiram com irresponsabilidade (no mínimo)? A União? a imprensa brasileira?

Aloísio Marques S. Fortes, professor, São Paulo



Grande farsa

Quem acompanhou o sensacionalismo da imprensa sobre o Caso Anaconda teve a impressão que sentenças eram vendidas como produtos em balcão de negócios. A imprensa, entretanto, nunca divulgou quais sentenças teriam sido vendidas pelos juízes. Os procuradores e desembargadores do Tribunal Federal de São Paulo também nunca disseram. A revista IstoÉ divulgou extensa matéria a respeito, e pelo que se pôde notar, essa operação foi uma grande farsa vendida pela imprensa.

Querem sufocar a verdade. Tanto é que o Ministério Público entrou com habeas corpus contra o próprio Ministério Público para impedir uma investigação de grampos ilegais. Ficou claro não só que se trata de mais um erro judiciário, mas que algo muito podre e vil está por trás dessa operação. Os irmãos juízes, para mim, foram inseridos de forma irresponsável e criminosa nesse processo. A imprensa deve ir a fundo nessa história. O Judiciário, a bem da verdade, deve afastar o sigilo do processo, a não ser que tenha algo a esconder.

Amyr Antunes Lancelot, consultor, São Paulo