Muito boas as indagações de João Gonçalves. Infelizmente, é isso o que acontece em todo o país. Os jornais não fazem mais jornalismo em tempos de eleições. Não vão atrás de confirmar ou desmentir nenhum fato ou acusação trocada entre os candidatos. Será decisão das empresas de não se indispor com ninguém? Aqui, chegou-se ao cúmulo de os dois partidos colocarem no ar personagens fazendo determinado percurso de ônibus. Num o cidadão demorou 2 horas. No programa do outro candidato demorou menos de 30 minutos (teria tomado uma linha direta). Nenhum jornal se dignou a colocar um repórter para confirmar o tempo real da viagem e, mostrar, por exemplo, quantos horários existem na linha direta, quantos com a pinga-pinga que leva duas horas. Quem não toma aquelas linhas de ônibus só sabe o que os candidatos disseram.
É um exemplo corriqueiro, simples, já que a aqui a questão do transporte coletivo está no centro dos debates. Mas há casos de acusações de corrupção, favorecimentos etc.. E o jornalismo não informa, não apura, não confirma ou desmente nada. Ou seja, presta um desserviço à democracia. E depois as empresas vêm fazer discurso de liberdade de informação e compromisso com o interesse público…
Jaime Luccas, jornalista, Florianópolis
As tarefas que o jornalismo não cumpriu – João Gonçalves
Estética antiga
Eu já venho notado esta moldagem estética na política brasileira não é de hoje (e olha que sou nova). O carisma ou bom material de campanha garantem muitos votos. Quando dessas ocasiões, minha mãe diz uma coisa sobre a qual sempre entro em conflito, até pela própria aplicação de democracia que conhecemos: que cada governado tem o governante que merece. Sabe que atualmente isso não me sai da cabeça? Sei que pensar dessa forma é radicalizar, mas é muito difícil encarar a realidade ano após ano e continuar vendo a população como vítima indefesa.
Maíra Matos, Rio de Janeiro
A propaganda e a bizarrice eleitoral – Muniz Sodré
Fora da pauta
É um absurdo que os meios de comunicação de massa não estejam na pauta dos debates de políticos ditos sérios. Questões como o monopólio, a regulação e, principalmente, a qualidade da programação não passam nem perto das discussões dos candidatos. O problema é que infelizmente nossos políticos ditos de esquerda desconhecem as sutilezas lingüísticas praticadas pelos veículos de comunicação. Um belo exemplo: o Fantástico, que ao denunciar um caso de corrupção no governo Lula (Bolsa-Família), faz a sintaxe com os gols do fim de semana. Ou seja, tirando do telespectador a possibilidade de refletir sobre o caso. Tudo isso deixa a vida em tons pasteis, criando uma realidade pouco questionável.
Pedro Boschi, estudante, Niterói, RJ
Gerentes da verdade
O comerciante Eduardo Guimarães já disse quase tudo em resposta ao artigo do diretor de redação do Estadão, Sandro Vaia, sobre as pesquisas em relação à cobertura eleitoral da mídia paulistana. Mas, como jornalista, me permito acrescentar alguns comentários. Gostaria de saber de onde o diretor do Estadão tirou essa idéia de que não existe matéria – ou fotografia – positiva, neutra ou negativa. Se assim fosse não haveria, país afora, dezenas de jornalistas e outros profissionais muito bem pagos para analisar (e não fazer clipping) o conteúdo de notícias e reportagens: se são favoráveis ou desfavoráveis a partidos, governos, políticos, empresas e outras organizações.
Aprendi na primeira fase do curso de Jornalismo que uma fotografia, dependendo do ângulo de enquadramento, da expressão do sujeito etc., passa imediatamente ao leitor-observador uma idéia positiva/favorável ou desfavorável/negativa. Na inauguração de uma obra, por exemplo, de uma bateria de fotos o editor quase sempre poderá optar entre aquela do governador/prefeito/presidente feliz, sorridente, ou outra em que ele aparece meio deslocado, cansado, cara de mal-humorado. Depende do que ele quer reforçar. E a notícia será sempre a mesma inauguração. Nem é preciso entrar no terreno da política para afirmar que quase toda matéria – dependendo do tratamento que lhe dá o editor – parecerá negativa ou positiva para o leitor.
Ou seriam ‘lidas’ da mesma forma as seguintes manchetes: 1) ‘Balança comercial tem superávit de US$ 25 bilhões’; 2) ‘Balança tem superávit recorde de US$ 25 bi’; ‘Governo (ou ministro X) festeja recorde de US$ 25 bi na balança’? Será que não envolvem nenhuma percepção de negativo ou positivo as diferentes chamadas sobre o balanço de uma companhia de capital aberto: ‘Empresa X aumenta em 10% o faturamento’; ‘Empresa X aumenta em 20% as exportações’; ‘Empresa X tem R$ 100 milhões de prejuízo’? São todas informações verdadeiras, presentes na reportagem. E como editor e co-editor de capa de um jornal econômico por quatro anos me deparei com essas situações diariamente. Digo mais, assisti a um dono de jornal cobrar do editor de economia porque havia feito a chamada do balanço de uma empresa – que era grande ‘parceiro’ (leia-se anunciante) – justamente pelo prejuízo, o que, obviamente, levou o leitor a ver toda a matéria com olhos negativos.
Está mais do que na hora de nós – jornalistas, editores e diretores de jornal – assumirmos postura mais democrática, deixarmos de ser os donos ou ‘gerentes’ da verdade e o pobre do leitor que engula a informação da forma que melhor convém ao veículo. Se é que ainda existem leitores de jornal que acreditam que os fatos e as notícias estão ali e sobre elas os veículos e seus editores não exercem forte influência. Mais fácil acreditar em Papai Noel.
Melhor seria as empresas e os jornalistas submeterem-se às críticas da sociedade e encararem de frente a necessidade de uma ampla discussão sobre o direito à informação, o interesse público, a ética e a democratização dos meios de comunicação. Afinal, fazer jornalismo e vender informação não é a mesma coisa que fabricar sapatos ou vender batatas. São negócios, claro. Mas, como disse nosso amigo comerciante, o jornalismo é, primordialmente, um serviço público, e por isso deve submeter-se a críticas.
Jaime Luccas, jornalista, Florianópolis
Repto ao leitor
Sr. Eduardo, para ser breve: não tenho nada contra que o jornalismo e os jornais se submetam a críticas. Mas é bom que elas sejam lastreadas em fatos, e não em subjetividades. Quero eu responder com um repto ao senhor: alguma das notícias apontadas pelas pesquisas da USP e da Candido Mendes como ‘negativa’, ‘neutra’ ou ‘positiva’ era falsa? Qual? Em que dia foi publicada? Em que página? Acho que essa é a discussão substantiva, como recordou Carlos Brickmann, evocando mestre Ewaldo Dantas, no Circo da Notícia da semana passada. Só existem dois tipos de notícias: a falsa e a verdadeira. O resto é mofo ideológico.
Sandro Vaia, diretor de redação de O Estado de S. Paulo