Concordo em parte com o artigo de Alberto Dines (a quem admiro e respeito, de quem sou leitora assídua). No que respeita aos episódios e prêmios distribuídos em Cannes certamente o cinema como arte foi esquecido, a arte como expressão da sensibilidade humana na sua relação com o mundo foi verdadeiramente expressa no magnífico filme do Walter Salles e ele merecia a Palma de Ouro. Tarantino está longe de qualquer coisa que se assemelhe a uma arte que construa uma reflexão crítica aliada à sensibilidade nas pessoas.
Mas considerar como simplesmente panfletário o trabalho de investigação documental tratado cinematograficamente por Michael Moore, um trabalho que em nome do engajamento urgentíssimo (e não oportunista) deixou a desejar em quesitos artísticos, é um exagero no mínimo inconseqüente. Qualquer obra de arte é também expressão dos grandes dilemas de uma época. Walter Salles soube expressar melhor que Moore numa perspectiva artístico-cinematográfica a questão o desafio da construção, nos homens, de um compromisso fraterno com a humanidade. Moore não foi melhor documentarista do que Salles foi cineasta.
Foi o que ocorreu. Pressões de uma conjuntura conturbada por uma guerra e uma eleição que podem definir o destino da política mundial. Salles foi ao âmago e foi magistral, não ganhou a Palma de Ouro, Moore falou do ‘aqui e agora’ e foi intencionalmente, ‘faltou arte’, pois era um grito de alerta para tentar inverter tendências objetivas deste momento crucial da história humana. Moore levou a Palma, mas sem merecê-la mais que Salles.
Injustiça? Contradição posta pela conjuntura? Palmas para Salles e para Moore. Ambos são indispensáveis nesse momento na história da arte, ambos nos fazem refletir. Moore certamente retornará ao seu lugar logo após as eleições norte-americanas. A Palma de Ouro certamente virá para Salles, sim, e torço para que seja pelo conjunto da obra, que é verdadeiramente uma ode à sensibilidade e à beleza em todas as suas dimensões.
Wilma Pessoa, professora, São Gonçalo, RJ
Estética contemporânea
Não consigo pensar em Kill Bill como um filme violento, mas como uma síntese interessante da estética contemporânea. A forma como o filme se apropria de diversas linguagens é belíssima. Tarantino conduz o filme (e, com ele, o espectador) por um universo fantástico, onde a relação com a realidade acontece em forma de simulacro. Um simulacro que formou a ele e a mim. Aquele que a televisão, o cinema, a mídia em geral nos (re)apresentam todo dia. Acho que o filme simboliza muito bem o momento em que vivemos.
Quanto a Diários, não posso falar muito porque o filme ainda não chegou a minha cidade. Contudo, não acredito que o fato de ganhar em Cannes ou não seja capaz de torná-lo melhor ou pior. Acho que ainda estamos dependentes demais da legitimidade que os festivais internacionais conferem (e Cannes nem é mais tudo aquilo). Bem, bem, essa é só a humilde opinião de cinéfilo marginalizado. Aguardo as pedradas.
Maikel Silveira, jornalista, Guarapari, ES
Do État-gendarme ao Estado-pastor – Muniz Sodré
Grande tristeza
Uma grande tristeza constatar que Alberto Dines – respeitado jornalista – traz nesse espaço um texto que tenta manchar a neutralidade de uma das revistas mais admiradas no momento. CartaCapital é a esperança de estudantes de jornalismo, como eu, de que ainda existe mídia de qualidade e ética. Não acredito que as tais publicidades políticas tenham sido a razão para a revista não abordar a questão da máfia do vampiro. Senhor Dines, leia a edição que está nas bancas e veja que, mesmo com outras tantas propagandas de órgãos públicos, Carta elogiou a PF – a mesma que eles estão denunciando há meses por submissão ao FBI – pelo sucesso obtido nas operações contra a máfia do sangue.
Aline Almeida, estudante de Jornalismo, São João de Meriti, RJ
Promídia já começou. Para os amigos – Alberto Dines
Um preço para tudo
Prezado Carlos Brickmann, sabe por que Naji Nahas foi absolvido? Porque existe um preço para tudo. Vá ao Banco Central e converse com os senhores procuradores do BC; tenha uma conversa reservada e franca e saiba por que 9 entre 10 criminosos do colarinho branco estão impunes neste país, alguns deles até recuperando seus bancos e milhões em dinheiro público. O que aconteceu com os Magalhães Pinto? O que aconteceu com o Cacciola? O que aconteceu com o ex-dono do Bamerindus? Nada, porque tudo é feito da maneira que uns protegem os outros dentro do mercado financeiro, aí, sim, epicentro da bandidagem do colarinho branco.
Quero lhe dizer ainda que procuradores e promotores não são santos, com certeza. Estão aí vários casos de conhecimento público. Um matou a mulher e fugiu; um ex-promotor virou governador de São Paulo, fez o que fez em terras paulistas e está aí livre, leve e solto; um subprocurador da República se meteu com a turma da Anaconda e está aí também livre, leve e solto. Enfim, são dezenas ou centenas de casos, que passaríamos horas falando. Mas também poderíamos falar por exemplo do promotor Silvio Marques, que, a despeito de todas as dificuldades, está conseguindo provar que Paulo Maluf mantinha uma conta secreta no exterior, que o ex-prefeito nunca admitiu possuir; existem os procuradores da República que puseram na cadeia Law Kin Chong, Lobão, Nicolau dos Santos Neto, Luis Estêvão etc. etc. etc.. Realmente, procuradores e promotores não são santos e, por serem seres humanos, não são infalíveis. Existem muitos que só aparecem quando as câmeras e microfones estão ligados, mas estes são a minoria. Prefiro-os aos Nahas, aos Cacciola, aos Magalhães Pintos, patrocinadores de parte de nossas mazelas.
Os senhores procuradores e promotores estão ajudando – usando um bordão horrível do Bóris Casoy – a passar a limpo este país. O Brasil, graças à impunidade generalizada e à preferência das elites pelas oligarquias, está contaminado pelo crime organizado, em suas mais diferentes matizes. Não temos apenas o crime organizado dos bandidos traficantes, do PCC, do Comando Vermelho; mas também o crime organizado patrocinado por ricos e famosos, aqueles que saem em revistas da moda. O processo de redemocratização do Brasil ainda está para ser concluído, porque ainda não restauramos tudo o que necessitamos. Precisamos reformar o Judiciário, de maneira que ele preste contas à sociedade, sua mantenedora; precisamos manter o Ministério Público independente, investigativo, de forma que possa combater os crimes, em suas mais diferentes formas; precisamos lutar por um país mais justo para todos nós.
E precisamos rever a estrutura da segurança pública, hoje apenas baseada na aquisição de viaturas, fardas, armas, tudo aquilo que requer licitações e, lógico, possibilidades de caixas 2. Não se fala nunca numa política de segurança pública, porque isso não requer licitações. Requer vontade política. Em tempo: não tenho parentesco com o ex-prefeito e nem com aquele empresário do grupo dos vampiros. Minha origem é nobre no sentido da honra.
Ariovaldo Pitta, professor, São Paulo
A verdade do Millôr – Carlos Brickmann
Esforço pessoal
Sobre a urna, a mídia tem condição de neutralizar mentiras, sim. Mas, algumas vezes, apenas através do esforço pessoal de alguns jornalistas. Todos sabemos do comprometimento das empresas de comunicação com os governos e suas táticas de ‘silenciamento de vozes’ em casos que lhes sejam convenientes.
Fabio Santos