Por quê? Por quê? Ora! É tão óbvio! Mas parece que ainda há pessoas que fazem como aqueles macaquinhos. Não querem ouvir ou ver, mas falam sobre o que não estudam. A Terra é redonda, se move, não é o centro do universo, há mais planetas do que os sete pecados capitais, nenês não são trazidos pelas cegonhas e trapos não geram ratos espontaneamente. Quem quiser viver nas trevas pode continuar a achar o contrário. Só não pode pedir que os outros permaneçam na ignorância e na desinformação. Concedo que a ciência, às vezes, erra. A fé cega acerta?
Paulo Bento Bandarra, médico
Por quê? Por quê? – Canal do Leitor [rolar a página]
Recursos, métodos, drogas
O trecho apresentado como probante da afirmação de que hepatite C tem cura confirmada cientificamente diz, a certa altura: ‘(…) O HCV (vírus da hepatite C) é um flavivirus que não é integrado no genoma; assim, a infecção pelo vírus da hepatite C é curável.’ Ora, curável é, salvo melhor juízo, ‘o que pode ser curado’, não necessariamente o que já tem cura, assim como ‘provável’ é o que pode ser provado, não necessariamente o que já tem prova. Na dúvida, repito a pergunta que originou o artigo: ‘Hepatite C tem cura?’. Em sendo afirmativa a resposta, pergunto: qual é ou quais são os recursos, métodos, drogas etc. através dos quais obtém-se a cura da hepatite C?
Luiz Paulo Santana, Belo Horizonte
A hepatite C tem cura confirmada cientificamente – Carlos Varaldo
Mercado de ilusões
Estou achando que jornalistas, além de não estudarem o assunto que abordam, não lêem a própria mídia. A revista IstoÉ nº 1.803 (‘Saber do outro mundo) informou que a Universidade de Brasília decidiu pousar um olhar sério sobre assuntos como astrologia, ufologia e conscienciologia. Será que o jornalista não leu que o mais projeto de pesquisa de busca de vida inteligente, o Phoenix, encerrou suas atividades após mais de uma década e milhões de dólares absorvidos sem resultados? E nós, do Terceiro Mundo, vamos gastar tempo e verbas pública para estudar UFOS? E a imprensa nem questiona!
Em 30/5/2004, na Folha, o jornalista Aureliano Biancarelli, fazendo apologia escancarada da homeopatia, entrevista os médicos Flávio Dantas e Ariovaldo Ribeiro Filho, e consegue evitar completamente o tema que chocou o país nas quatro semanas que antecederam à matéria: os mesmos homeopatas apareceram no Fantástico sem mostrar uma prova de sua eficácia. Mas o jornalista afirma existir aproximação entre medicina e homeopatia. O Estado de Minas de 16 de maio, em sedutora matéria de página dupla central, usa o mesmo método de encantamento, ignorando o Fantástico, apenas vendendo a maravilha da homeopatia.
Em 27/5, a Folha Online publica matéria de Karina Klinger: ‘Chave da homeopatia pode estar na água, diz reumatologista’, mais uma vez alegando algo que não foi possível mostrar na ABC e na BBC. Faz entrevista com um sectário, Peter Fisher, médico da rainha Elizabeth 2ª (nada mais medieval do que isto!), mas não pesquisa publicações sérias na Inglaterra. Em 25/5, Zero Hora publica matéria de página dupla central e afirma: ‘Em uma crise aguda, com infecção respiratória, a alopatia pode usar um antibiótico, um antiinflamatório, um broncodilatador, um antitérmico, um corticóide, mais a nebulização. A homeopatia usa somente um medicamento, o que diminui o custo do tratamento’.
Pedi espaço para contestar esta afirmação, que poderia levar pessoas a abandonarem um tratamento comprovado em troca de aventuras terapêuticas, mas o jornal se negou, afirmando, espantosamente, não estar interessado em criar polêmica. O jornal dá a entender que informar corretamente seja indesejável na imprensa.
Agem estas publicações como em ação coordenada para que não se discutam as questões levantadas pelo programa da Globo.
A mídia passou a ser utilizada por jornalistas como vitrine para suas idéias preconcebidas, não se mostrando mais responsável com o leitor. Cria um mundo imaginário, no qual não interessa a verdade, mas a versão que se quer dar. Cria até um acenar de bandeiras brancas entre ciência e homeopatia.
Quem tem medo da informação? A mídia que não está falando a verdade, é lógico!
O professor Renan Moritz de Almeida já havia, em 2002, levantado esta dissimetria na imprensa brasileira, no OI, ao mostrar o bloqueio a artigos críticos. Neste sentido, só temos que cumprimentar a coragem dos editores do Fantástico em desafiar o voto de silêncio feito pela mídia no comércio de encantamento.
Paulo Bento Bandarra, médico, Porto Alegre