Parece que as televisões do Brasil e a imprensa de um modo geral montaram toda uma estrutura de transmissão e apostaram suas fichas e o sucesso de audiência apenas sobre o twist carpado da ginasta Daiane dos Santos, deixando como pano de fundo ou relegados a terceiro plano os outros esportes e atletas. Prepararam a festa antes do tempo. Então decretaram que o brilho mais intenso e faustoso seria o da medalha de ouro de Daiane, tudo como certo e escrito pelos deuses da mídia para os deuses do Olimpo. Os deuses, ao que parece, não foram consultados e não conspiraram para um resultado único e definitivo que a consagraria como a maior dentre todas as mulheres de Atenas.
Daiane perdeu. E perdeu com dignidade, porque segundo ela mesma declarou a seguir, cometeu um erro, mas iria treinar com afinco para se apresentar melhor noutra oportunidade. Perdeu, portanto, com elegância e aceitou a derrota com serenidade, demonstrando o verdadeiro espírito olímpico, diferentemente de alguns jornalistas que ainda lhe quiseram imputar algum subterfúgio que amenizasse a dor do povo brasileiro, uma dor que em verdade nem ela mesma sentia, porque estava consciente de que o esporte é feito de vitórias e também de derrotas, que ensinarão um atleta a ser vencedor amanhã.
Cabe então perguntar o quanto essa pressão da imprensa sobre determinados atletas atrapalha ou não no seu desenvolvimento final. E mais: a medalha conquistada por Robert Scheidt, por exemplo, tem um peso, um brilho e uma importância menores do que aquela que ‘estava’ ganha por Daiane, mas não o foi? O que vemos diariamente é a exposição excessiva e injustificável de determinados atletas em detrimento de outros. Não bastasse, a propaganda apaixonada, mas exagerada, claro está, e por que não dizer enganosa sobre a quantidade de medalhas que nossos atletas trariam dos jogos, deixa no telespectador um sentimento de decepção quando deveria ser de orgulho e alegria porque estamos lá representados.
As medalhas que ganharemos são justamente aquelas para as quais nossos atletas foram preparados adequadamente para ganhar. Além disso, é enrolação dos meios de comunicação,que fazem do Brasil um país olímpico e campeão antes mesmo dos resultados finais, quando na verdade não o somos. E não somos por uma simples razão: falta de apoio, de estruturação e de investimento. Enquanto nos Estados Unidos se gasta em média 3 milhões de dólares por cada atleta que vai ganhar uma medalha, no Brasil se gasta quase nada. E mesmo com esse quase nada, ainda obtemos resultados surpreendentes e milagrosos. Por quê? Porque os nossos atletas são talentosos e obstinados, são guerreiros destemidos, que lutam a qualquer preço para fazer bonito lá fora, como fizeram Daiane, Honorato, Scheidt, Joana Maranhão e todos os outros.
Desse modo, cabe à imprensa brasileira torcer sim por nossos atletas, apoiá-los e valorizá-los, mas todos com o mesmo valor, com justiça e honestidade, para que possamos competir com igualdade de condição com quaisquer outros povos. E vencer e perder, com um verdadeiro orgulho de ser brasileiro.
Achel Tinoco, escritor/editor, Salvador
Apoio saudável
Eu acho que a mídia exagerou na cobertura das Olimpíadas. Melhoraram na tecnologia, nas notícias, mas, em contrapartida, pioraram quanto ao tratamento dado aos atletas. Por exemplo, a ginasta Daiane dos Santos tem um potencial enorme e é uma excelente atleta, todos sabem; mas principalmente a Rede Globo exagerou e pressionou atleta na disputa pela medalha de ouro. Resultado: o que poderia ser ouro virou um 5º lugar. E muitos outros esportes que tinham igual chance, como o iatismo, foi deixado um pouco de lado, os atletas não sofreram tanta pressão e conseguiram um ótimo resultado.
Se dá para perceber que a mídia influência pelo menos em parte o desempenho de um atleta, por que continuar dessa forma? Nosso país tem tudo para ser o país da natação, da ginástica… e não só o país do futebol. Mas para isso precisamos de um investimento maior e a longo prazo e também de um apoio saudável da mídia.
Andréa Lopes, 18 anos, estudante de Jornalismo e atleta, Brasília
A pior cobertura
As Olimpíadas de 2004 tiveram a pior cobertura de todos os tempos. A Globo apenas inseriu na sua programação alguns eventos mais importantes. A Bandeirantes, na minha opinião, fez uma boa cobertura, mas pecou num detalhe: as pessoas que trabalham só podem assistir televisão à noite, e eu esperava chegar em casa e ver uma retrospectiva do dia, mas o horário nobre continuava sendo ocupado pelo bispo. É dose.
Orlando Jung, servidor público federal, Porto Alegre
Pouca coerência
Lamento pela pouca coerência da autora ao argumentar sobre a derrocada do time de vôlei feminino do Brasil. Em fase de preparação, o time italiano? Somente ele, tem certeza? E desde quando o Grand Prix é um torneio que não credencie qualquer seleção?
E a comparação de Zé Roberto com Barbosa é incongruente, até porque o primeiro já subiu ao pódio olímpico em 92, e faz parte de um esporte profissionalizado no país, enquanto o segundo aportou na medalha de prata às custas de três jogadoras ímpares na história do basquete mundial que são Paula, Hortência e Janeth; no entanto, aí sim você acertou, esse técnico refletiu seu amadorismo num time que nem foi capaz de fazer o básico no basquete: bloqueio de pivôs para a abertura dos alas, possibilitando arremesso, ou o chamado pick n’roll, tão usado por John Stockton e Karl Malone.
George Brito, estudante de Jornalismo, Salvador
Exagero e aversão
As críticas têm fundamento, mas o tom agressivo exacerbado mostra a miopia do outro lado, de quem se acha cheio de argumentos e atira para todos os lados. Equilíbrio nas críticas provoca reflexão. Exagero provoca aversão.
José Alessandre da Silva Neto, preparador e revisor de textos, São Paulo
Ela não chorou
A baboseira maior fez a Rede Globo com a Daiane só porque ela não chorou, e eles queriam era isso, parece que já tinha matéria pronta caso isso viesse a acontecer. Tá na hora do mea-culpa da imprensa. Ninguém é tão bobo ou tão santo assim.
Maria de Lourdes Neves Vieira, autônoma, Belo Horizonte
Não entendo a distinção
Concordo com muito do que você diz. Mas também discordo veementemente de alguns pontos. Primeiro, tenho dúvidas se você acompanhou realmente todas as partidas do Grand Prix de vôlei. Pelo que me parece, não. O único time que escondeu o jogo no referido campeonato foi a Rússia e o Brasil tinha, sim, time para ganhar também delas (ou você acha que quando o jogo estava dois sets a zero e 24 a 19 no terceiro elas não podiam ter ido à final?).
Mais: o Brasil não ganhou tantas medalhas, é verdade. Mas e os EUA? Ah…, claro, foram muitas. Pois compare com os outros anos. É claro que importam os quartos, quintos lugares, uma maior participação em finais (feito como o da natação feminina). Mas, já que não pensa assim, por que não falou da Daiane? Ela não amarelou também? Ela está incluída nos esportes que recebem apoio da Lei Piva e do COB… Por que ela é heroína e a seleção de basquete, não? Não entendo a distinção! É fácil criticar os companheiros jornalistas, o complicado é mostrar que se pode fazer melhor. Pois estou para ver o dia em que pelo menos um jornalista esportivo entenderá que o refugo de Baloubet du Rouet em Sidney-2000 deu-se unicamente ao nervosismo de Pessoa. Tem muita gente que não entende de cavalo, mas que adora de dar patada!
Thiago Reis, jornalista, São Paulo