Olhando retrospectivamente para as relações entre o meio de arte e a imprensa carioca nos últimos 10 anos, apreendo com indisfarçável desânimo a permanência ociosa do rótulo ‘Geração 80’ nas páginas dos jornais cariocas. Preguiçosa, conservadora e nostálgica, a mais recente cobertura realizada pela imprensa carioca do evento de aniversário dos 20 anos da exposição ‘Como vai você, Geração 80?’ atesta isso. Sequer busca inovar a (mal-disfarçada) forma de ‘vender’ o produto cultural ‘Geração 80’. Apenas repete esquematicamente o pregão de duas décadas atrás.
De 1984 até hoje nenhuma voz contra-hegemônica sobre a ‘Geração 80’ foi merecedora de destaque na imprensa carioca. O consumo ocioso e conspícuo do rótulo passou ao largo do refluxo do mercado de arte e ignorou a produção artística nos anos 90, alcançando o novo milênio com a mesma superficialidade e virgindade com que emergiu do ‘caos dos anos 70’. De certa forma, chega a ser ensurdecedor o silêncio dos artistas no debate cultural.
Ronaldo Rosas Reis, professor universitário da UFF, Rio de Janeiro
Opinião única
Na primeira página do Segundo Caderno de O Globo de 30/7/04 há uma matéria de Luiz Camilo Osório sobre a exposição de Eduardo Sued [CCBB, Rio de Janeiro]. A matéria, altamente elogiosa, logo ao fim do primeiro parágrafo revela a que veio: ‘O que mais impressiona é percebermos o frescor destas telas, que pulsam com uma força cromática fora do comum. Só não vê quem não quer ou quem largou de mão a capacidade de se deixar surpreender.’
Ou seja, ou o leitor concorda com o crítico ou ele está imediatamente enquadrado no time dos ‘insensíveis’. A reação do leitor médio é pensar: ‘Se ele é um especialista, deve estar certo, logo isto é bom!’. Mas esta é apenas a opinião de um crítico. Muitos outros ‘especialistas’ podem discordar, e considerar o trabalho de Sued uma sub-releitura de trabalhos de americanos como Barnett Newman, Mark Rothko e muitos outros congêneres nacionais. Muitos destes trabalhos têm mais de 50 anos; então, o que há de vanguarda em repeti-los?
Se fosse de interesse deste jornal informar o leitor, e não amestrá-lo, poderia contrapor a opinião do Sr. Osório à de outros especialistas. Sei que muitos mestres e doutores em arte ligados à Escola de Belas Artes da UFRJ discordam radicalmente da opinião deste senhor, sem que isto caracterize cada um deles individualmente como um ser que ‘não quer’ ou que ‘largou de mão a capacidade de se deixar surpreender’.
Renata Paraguaçu
Fama sem talento
Concordo plenamente, Solano [‘Pra não dizer que não falei do Fama‘, de Solano Ribeiro, remissão abaixo]. O pior é que não se dá oportunidade aos novos compositores. Não acredito em renovação da MPB apenas selecionando novos rostos e corpos (mais importantes que a voz e o conteúdo pelos padrões televisivos atuais). Trata-se apenas de uma reciclagem para a inserção de novos produtos no mercado musical.
Luiz Carlos Santana, jornalista, Brasília
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Pra não dizer que não falei do Fama – Solano Ribeiro
Intelectualidade e irresponsabilidade
Achei legal a questão do Bial, mas é preciso estender esse tipo de constatação ao resto da turma de ‘intelectuais’ do Botanic Garden. Um dia desses, no programa da TVE-Rio Cadernos de Cinema (filme Revolução de 30), estava lá para o debate o apresentador daquele programinha da TV Globo chamado Linha Direta (não creio que exista alguém que se disponha a assistir àquilo, talvez nem mesmo a mãe do apresentador). Naquele momento, esse mesmo cidadão foi apresentado como escritor e estudioso da história brasileira.
Como é que pode um escritor/estudioso se dignar a apresentar um troço daqueles? Há que se tratar do restante das figuras. Pergunto: Jô Soares virou escritor antes ou depois, de voltar à Globo? Embora já tenha sido tratado no OI, há também o caso da apresentadora do Jornal da Globo, que foi ao Afeganistão e fez uma reportagenzinha para lá de ordinária, apresentando aquele país como a jóia da coroa depois da invasão do Tio Sam. Imagine que hoje os caras podem até comer pizza, e as mulheres não precisam usar burka, pois vivem numa grande democracia global. Quem agüenta isso?
Nedi Carlos da Rosa, São Paulo
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Dupla identidade – M. C.
Desdém e crueldade
Há muito percebo o desdém com que Jô Soares trata a maioria de seus entrevistados, mas fazer isso com uma criança de 4 anos é de uma crueldade que julguei nem ele ser capaz. Muito me indignou também que os pais da pequena Rafaela não tivessem interrompido tamanha tortura. Afinal, o que faz com que pais sejam permissivos a esse ponto? Dinheiro? Busca da fama? Jô foi absurdamente infeliz, cruel, arrogante, mas os pais de Rafaela também não ficaram muito atrás.
Márcia Rodrigues, publicitária, Rio de Janeiro