É uma grande pretensão a classe médica insinuar que só eles são capacitados, e os outros… Faça-me rir.
Maria Aparecida Carlos, enfermeira, Duque de Caxias, RJ
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Plástica e talento
Parece-me que talento agora [ver ‘Nova novela das 7 faz jus ao título’, remissão abaixo] tem que ser aferido através de plásticas, em que os personagens têm que estar esticados como uma roupa velha. É por isso que o Brasil tem a cultura sazonal, efêmera, tênue e decrépita, composta por estes jornalistas que formam preconceitos como se formassem legendas espaciais para clínicas de estética que alçam vôo. Talento é indiferente ao que você possa portar na sua cara forjada com o último laser conseguido numa cápsula de Marte. Bem infeliz a matéria no quesito superficialidade, em que a jornalista comenta ou liga talento a plástica e coisa e tal,
Rebeca Matta, escritora, Salvador
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Células-tronco e biobusiness
A matéria da Folha da terça-feira, 21 – ‘ Paixão emperra debate, afirma cientista’, do colunista Marcelo Leite – é uma verdadeira delícia para os defensores da Razão Hipócrita. No Brasil dos embriões manipulados, guardados em bancos e do aborto ilegal para as mulheres, a hipocrisia é agora proclamadamente defendida por um cientista. A matéria presta um grande favor à opinião pública, de hábito incitada a aceitar os cânones desses profissionais. É de se lamentar no entanto, a reiterada exclusão das outras vozes contrárias à industrialização da vida pelo biobusiness (porque é disso que se trata), quando se trata de informar, jornalisticamente, ao público quem está no debate… público. Não no ‘que eu publico’, assim sem acento. Há muito mais gente, na sociedade (além dos padres e demais pastores mídia-finanças e toda sorte de fundamentalistas em plena ascensão ao poder), que é contra a transformação dos embriões em matéria-prima: geneticistas, biólogo(a)s, médicos(as), feministas(os’), poetas, sociólogos(os), antropólogos(as), ativistas de vários matizes, dono(a)s de casa e até gente sem adjetivos nem PhDs. Em nome de outras razões que não as religiosas.
Trata-se de paixões? Será paixão argumentar com os fatos? Foram precisos 242 óvulos para clonar um embrião, na Coréia. Foram utilizadas, nesses termos, 16 mulheres, voluntárias, recrutadas inclusive na equipe dos cientistas, pela glória nacional da Coréia, nestes termos. A ‘coleta’ dos óvulos, processo reiteradamente oculto no famoso debate sobre embriões humanos, nunca aparece porque se passa com mulheres, cujos corpos, como todo patriarca sabe, pertencem ao público. Que o digam os publicitários e os cientistas, com a devida vênia dos juristas. Registre-se de passagem o quanto espantosamente requereria a atenção os termos ‘voluntárias’ e ‘recrutadas’ pertencentes ao mundo militar, assim como 70% das pesquisas nos EUA, país de estreitíssimas relações com os nossos sponsored cientistas.
O cientista acha a sociedade imatura e sem razão. E o debate emperra. Por isso os cientistas podem legitimamente ‘dourar a pílula’ e ‘adotar uma hipocrisia aceitável’, assim nestes termos. E iludir os legitimamente desesperados pelo motivo apaixonado de querer ver um filho andar de novo. E legitimar os desesperados que apaixonadamente querem ver subir suas ações no Nasdaq. Por isso devemos dizer amém ao Conselho Nacional de Bioética que é quem vai, cientificamente, liberar a industrialização do humano à semelhança do que vai fazer com os animais e vegetais; cientificamente, a CTNBio, um grande arranjo de enorme poder configurado na lei que recebe a bioética etiqueta de biossegurança. Mas isto tudo é melhor que não se publique, assim, nestes termos.
Ana Reis, médica, Jundiaí, SP