Prezado Alberto Dines, a sua observação sobre a irresponsabilidade da imprensa entre 1992/93 já fora objeto de um spam meu a teu site, quando um fato novo surgiu. E acaba ampliando a sua sensata observação. A Veja online contestou Luís Costa Pinto revelando que: 1) pelo menos os principais jornais de São Paulo publicaram a notícia sobre a falsa fortuna de Ibsen Pinheiro, antes da revista ir para as bancas; 2) Veja e IstoÉ, naquele fim de semana, publicaram a mesma matéria, com as mesmas informações, sendo que a primeira devotou uma capa ao assunto; 3) Veja corrigiu sua informação na semana seguinte, num parágrafo perdido sobre a CPI do Orçamento, e Costa Pinto omitiu esse fato em seu mea-culpa. A confissão de Costa Pinto permitia-nos avaliar como ‘mera irresponsabilidade’, impetuosidade juvenil, a informação sobre a falsa fortuna de Ibsen Pinheiro.
O repasse dos fatos realizado por Veja, que consultou seus arquivos, e mostrou que não estava sozinha, nem foi a primeira a dar a barrigada, obriga-nos a uma reavaliação. A mesma ‘irresponsabilidade’ para dar uma falsa informação, quando Costa Pinto tinha 24 anos, ressurge agora, quando ele se aproxima dos 40, jogando para a sociedade uma informação incompleta, a meia-verdade. Ou meia-mentira, se você, Dines, assim o preferir. O Costa Pinto da maturidade, guarda os mesmos traços éticos do Costa Pinto recém-saído da adolescência. Curiosamente, 11 anos depois, nem os jornais que publicaram a ‘barriga’ antes de Veja, nem a própria IstoÉ se desnudaram perante o público para mostrar as chagas: naquela semana, houve uma espécie de distribuição de ‘press release’ para despachar Ibsen Pinheiro, aquele que secretamente apoiava o grupo suprapartidário que queria o impeachment de Collor.
Agora, com prístina clareza, podemos dizer que havia um processo de manipulação da imprensa em andamento. Talvez esteja em andamento outro. A meia-mentira de Costa Pinto reverbera o Conselho Federal de Jornalismo, essa tolice técnica, ‘passa-moleque’ na profissão de relações públicas. Basta a leitura dos projetos em exame no Congresso para se verificar que o principal objetivo é transferir a assessoria de imprensa – atualmente atividade de relações públicas – para as atividades de jornalismo. E isso porque as assessorias empregam mais jornalistas do que os meios de comunicação.
Inverteu-se a relação que havia em 1969. Pois bem: Costa Pinto fez seu mea-culpa e, imediatamente, surgiram vozes de todos os lados em defesa do CFJ, como se essa entidade pudesse resolver os casos de meias-mentiras existentes na imprensa e na informação em geral. E Costa Pinto fica em posição delicada, já que é assessor do presidente da Câmara, tão petista quanto a Fenaj e, portanto, tão interessado na aprovação da lei quanto os jornalistas do PT, muitos dos quais vivem de uma expoliação dos trabalhadores chamada Imposto Sindical, ou qualquer nome que agora tenha tal tributação.
O efeito político da matéria de Costa Pinto em 1992 para a Veja guarda semelhança com o que se obrem agora com a meia-mentira. Naquela, entre as vítimas desse tipo de conduta dos jornalistas, surgiu a expressão ‘orquestração da imprensa’. Indicava a transformação de jornalistas em instrumentos que, sob a batuta de um maestro invisível, soavam afinados em busca de uma dada sonoridade. Temo, Alberto Dines, que tenhamos criado a mentalidade que faz de jornalistas meros instrumentos que tocam conforme a partitura e com o andamento que o maestro determina.
Um outro aspecto, que julgo relevante, é quanto ao serviço de prestação de informações, inerente à atividade do jornalista. Observe que todos nós demos como ‘exatas’ as revelações de Costa Pinto. Como recebedores do serviço, consideramos desnecessário checar se aquela era a verdade toda. Acreditamos que a cassação de Ibsen Pinheiro resultara de um ‘furo’ da revista Veja.’Furo’ que se revelou ‘barriga’.
Entendo que, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, estejamos diante de um serviço com defeito. E, talvez, seja a hora das faculdades de Jornalismo – a maioria das quais tem professores produzidos nos anos de irresponsabilidade, que tão bem você assinalou – para que se retomem aquelas questões técnicas que veículos como os ‘Cadernos de Jornalismo’ tinham em permanente debate: o que é a informação jornalística? Você reparou que as publicações mais notórias sobre a imprensa mais incensam jornalistas famosos do que debatem o jornalismo? E, por fim, mas não menos importante: volte a espalhar aos quatro cantos que ninguém deve fazer como jornalista o que não faria como um cavalheiro.
Carlos Gilberto Alves, jornalista, São Paulo
Meninos mimados
Concordo com o presidente. Os jornalistas são covardes, pois sempre brigaram para que se criasse o conselho, e agora que o governo envia o projeto de lei, atendendo à luta, mudam de idéia. Já não querem mais o conselho. Até parece um bando de meninos mimados. Se o projeto tem falhas é só mudar os artigos problemáticos e não rejeitá-lo.
Pelo que está no projeto, serão vocês mesmo (jornalistas) que fiscalizarão a classe. As punições serão efetuadas por pessoas eleitas por vocês. Fica claro que vocês não têm competência para gerir a própria classe ‘profissional’, ou será pseudoprofissional?, muito menos nos informar jornalisticamente. Desse modo, se acovardam tentando colocar culpa no único governo que os atendeu, enviando o projeto de lei. É uma pena, espero que algum dia vocês amadureçam.
Paulo Bittencourt, técnico em telecomunicações, Silvânia, GO
Só Tutty nos salva
‘Patrulhados violentamente estão sendo aqueles que ousaram discordar de uma jogada prepotente.’ Quem os está patrulhando? Até agora eu não li nada de quem tenha opinião diferente, ou seja a favor do governo, mesmo porque tem ‘a imprensa na mão’. A imprensa fechou questão e age em bloco. Talvez seja a unanimidade burra de Nelson Rodrigues. Quanto à fina flor do jornalismo, eu nunca vi nada mais equivocado hoje do que comentarista político, sempre atrasado nos fatos. Adoram falar de escândalos, esquecem de ler as informações até o fim – talvez pela pressa nas redações –, dão opiniões erradas na economia e nunca, nunca mesmo, sabem o que fazer com uma boa notícia, nem desmistificá-la, se for o caso. Só Tutty Vasques nos salva.
Franklin Carvalho, jornalista, Salvador
O nível melhoraria
O presidente errou, mas Dines é a pessoa menos indicada para fazer criticas ao governo ou a qualquer pessoa do governo, pois todos nós sabemos de suas posições contrárias a tudo que o governo ou o presidente venha a fazer. Fica até cansativo, ele sempre escreve a mesma coisa. Quanto ao Conselho de Jornalismo, sou totalmente a favor. Com certeza o nível do jornalismo brasileiro, que é medíocre e tendencioso, iria melhorar muito.
Carlos Muniz, administrador, Santos, SP
O que é ser pelego?
Defender um instrumento de proteção da nossa profissão é ser pelego? E chamar de ‘fina flor da imprensa’ uma chapa-branca como Miriam Leitão e um patrão como Otavio Frias Filho, o que é então? E ser funcionário-fantasma de um governo do PFL?
Ari Silveira dos Santos Filho, jornalista, Curitiba
Serão covardes mesmo?
Toda profissão importante tem um Conselho que pune os profissionais desqualificados. Do que têm medo os jornalistas? Será que não são covardes mesmo?
João Carlos Menezes, economista, Rio de Janeiro