Já que a mídia faz questão de não perguntar, um personagem atrevido, o Joãozinho, e cheio de malícia, pergunta: por que uma gestão que tem a aprovação de 48% da população paulistana está ameaçada de reprovação nas urnas? Se formos traduzir o argumento do candidato José Serra, esses 48% são burros ignorantes, já que Marta e o PT não sabem nada de administrar uma cidade, muito menos uma da complexidade de São Paulo. Escondeu-se em todo o primeiro turno no disfarce de bom cordeiro. O argumento de Marta é que a mídia, ignorante e burra, está trabalhando sistematicamente contra o governo dela porque comprou para si a candidatura tucana.
Os dois candidatos burros, ignorantes e arrogantes estão mentindo. Serra porque acredita que eleição é para escolher candidato por mérito, no caso, o administrador eficiente. Como se eleição fosse um vestibular ou um concurso em que têm peso o currículo e o serviços prestados. É burro porque esquece que vai ter uma oposição consistente na Câmara, é ignorante porque ninguém escolhe o candidato sem uma visão do conjunto e é arrogante porque se considera eleito pelos deuses da administração pública o melhor entre os melhores do mundo, uma megalomania conveniente.
Marta porque acredita que a periferia é homogênea, que basta o CEU, quando é o inferno que mais marca a vida das pessoas, desprovidas de tudo, inclusive, de vontade de votar nela. É burra porque acha que vai conquistar os votos antipetistas, é ignorante porque a periferia sabe que não tem nada a ganhar ou perder com ambas as candidaturas e arrogante porque não reconhece que cometeu um erro fatal ao recusar o PMDB de vice em sua chapa.
Em resumo: Serra poderá ganhar porque o limite do PT chegou ao redutos antipetistas e sabe que é só ficar jogando cascas de banana para Marta escorregar um milímetro para ele ganhar as eleições, consolidando uma Nova Direita Paulista (NDP). Marta dificilmente reverterá a situação porque a militância do PT esfriou, não banca sua forma de gerir a cidade, que divide todo mundo em vez de somar, e acha que ela, apesar de ser oriunda dos Jardins, não dividirá a direita, hoje, mais tucana do que nunca.
O único argumento sólido de Marta é que ninguém quis peitar dono de empresa de transporte, as greves de encomenda para desestabilizar seu governo e a máfia do sindicatos. Marta venceu e criou o bilhete único. Agora, inocentemente, muitos políticos tucanos, na capital e interior do estado, dizem que adotarão o bilhete único como se fosse apenas um ato de boa gerência pública. Que hipocrisia! Como responder à pergunta do Joãozinho? Inscrições abertas.
Humberto Miranda do Nascimento, Campinas, SP
O eleitor respondeu
O resultado das eleições, realmente, comprovam uma perigosa tendência de despolitização na política eleitoral e na cobertura desta por parte imprensa. Não é nenhuma novidade a invasão do marketing nas campanhas políticas. Mas o que assusta e incomoda é o uso exagerado deste recurso. Na mídia, o político se converte em imagem-produto, submetido à moda e a tudo que é espetáculo. Enquanto isso, uma parcela considerável da imprensa se limita a cobrir a política eleitoral de maneira fria, preguiçosa e até irresponsável. Os eleitores demonstraram nas urnas a impaciência com o rumo que tomaram as campanhas políticas. E, como não são burros, perceberam também as falhas da imprensa. Agora, vamos esperar para saber quem terá coragem de reconhecer o erro primeiro.
Marília Assad de Oliveira, estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro,
Onde reclamar?
Parabéns ao Dines pelo artigo, foi bem abordado o assunto, e necessário para a cidade. Os institutos de pesquisa, associados ou não a empresas de marketing, trazem ao cenário político características de venda de produto, falso muitas vezes. O que fere o direito do cidadão, influenciando sua opinião. Neste campo político, a vítima é o conjunto da sociedade. Onde reclamar? Mais política e mais debate.
Carlos Alberto Kelly Maciel, professor, Niterói
Pitonisas e magos foram os derrotados – Alberto Dines
Para ludibriar a massa
O bom jornalismo é o da resistência. Enquanto os bons formadores de opinião, como os desse Observatório, buscam ensinar a criticidade à sociedade, os chefões da comunicação ‘propagandeiam’ a falácia da interatividade entre veículo e público receptor. A verdade é que essa comunicação de mão-única é feita com a genialidade necessária para ludibriar a massa, que é quem compra a informação. Os que percebem o jogo esforçam-se para mostrar a verdade aos que cegamente caminham em direção ao matadouro; mas poucos conseguem salvar.
É complicado ao estudante de Jornalismo, hoje, ser corajoso o suficiente para ser diferente. É difícil ouvir de todos os mestres a mesma coisa: que num jornal, revista ou qualquer outro veículo nós seremos manipulados, amordaçados e reprimidos pelo ‘patrão’. Saber que temas de suma importância social serão tratados com desprezo porque é o que a sociedade gosta de consumir, ou forçadamente se acostumou a isso. Resta, então, esperar que os futuros comunicadores herdem a coragem dos que hoje falam sem papas na língua. Espero ter força para ser um deles. Aos que hoje lêem isso, peço: se amanhã me virem contaminado, me arranquem do jornalismo!
Felipe Blanco, estudante de Jornalismo e comerciário, Salvador
O mito do jornalismo livre e independente – Eduardo Maretti