É muito pertinente o artigo de Deonísio da Silva. Trabalho há anos em livraria. Essa lista dos mais vendidos só coincidia com a realidade quando trabalhava numa grande rede. Hoje tenho uma pequena livraria e, muitas vezes, nem tomo conhecimento desses títulos divulgados como mais vendidos.
Na minha livraria, os livros mais vendidos são os que eu leio e indico, na maioria das vezes livros de literatura. Ainda há um pequeno espaço para as pequenas editoras e seus autores desconhecidos nas pequenas livrarias que, na maioria das vezes, têm grandes livreiros: profissionais que lêem e conversam com seus clientes/freqüentadores. Ainda existe esse romantismo da livraria pequena, charmosa e intimista.
Quem quiser ler (?) os livros ‘mais vendidos’ (será que também são ‘mais lidos’?) não precisa de uma livraria, de um livreiro e, muito menos, de escolher um título, pois a revista Veja e suas intermináveis listas já fizeram isso por ele; a única providência é procurar a livraria-supermercado mais próxima e pegar um exemplar na enorme pilha. Infelizmente, a editora que tem mais dinheiro para comprar um lugar na lista dos mais vendidos (da Veja e de tantos outros veículos de comunicação) é que leva a melhor com o grande público de leitores manipulados e sem desejo.
Fabíola Farias, livreira, Belo Horizonte
Um público esquecido
Muito pertinente o artigo do Deonísio, sobre esse verdadeiro buraco negro, que são certos critérios de classificação de gêneros literários e preferências de leitura. Cabe, talvez, lembrar que um importante segmento do mercado editorial brasileiro é invariavelmente ignorado por quem publica listas de livros mais vendidos no país: a literatura infantil e juvenil. É bem verdade que, nessa área, os grandes compradores são os governos federal e estaduais, mas isso não impede que a pesquisa seja feita em livrarias – e há até algumas especializadas em LIJ – para que se obtenha um retrato das predileções dos nossos futuros consumidores de livros para adultos. Nesse caso particular, em que a decisão de compra, na maioria das vezes, nem é da criança, os resultados apurados mereceriam, claro, uma avaliação mais crítica dos padrões de consumo, preferência e leitura do brasileiro.
Enfim, assim como o boom da chamada literatura (?) de auto-ajuda e esotérica determinou o estabelecimento de uma terceira classificação para livros mais vendidos, acredito que a literatura infantil e juvenil também já mereça um lugar ao lado dos de ficção e não-ficção.
José Carlos Aragão, jornalista/escritor, Belo Horizonte
Salário em euro
Faltou, sim, um grande esclarecimento sobre o absurdo preço dos livros. Parece que, no Brasil, o salário é em euro. Já reservei uma quantia por mês para comprar livros, já cheguei a comprar livros e depois ver se valia a pena lê-los. Hoje não dá para comprar nem os que eu quero ler. Falta a imprensa falar sério sobre este assunto, que é tabu. Afinal, jornalista também é escritor.
Ricardo Quintana, professor, Rio de Janeiro