Alberto Dines é engraçado. Sendo um dos disseminadores da desinformação de que o CFJ é uma criação do governo, agora aponta como prova de que a iniciativa é do governo o fato de o governo, mais uma vez, refutar a paternidade do projeto, quando mais uma vez é acusado de ser ‘o pai da criança’. Outra coisa engraçada de Alberto Dines: ele diz que o governo não deve ensinar a jornais e jornalistas como uma matéria deve ser feita, mas quer ensinar ao governo como o governo deve combater a matéria feita. E que, se há pressuposto de quem cometeu uma infração, os jornais e jornalistas não precisam ouvir os infratores e podem, perfeitamente, lançar a culpa da infração em outro.
Quando acusam o governo de fazer uma coisa que ele não fez, não deve o governo se defender? Alberto Dines acha que não, e diz que quem deveria defender o governo seria a Fenaj. A Fenaj já disse que o projeto do CFJ é dela, mas de que adianta isso? E assim prospera a desinformação: a Fenaj diz que fez o projeto; os jornalistas dizem que o projeto é do governo. O governo nega e diz que o projeto é da Fenaj, e os jornalistas dizem que, se o governo nega que o projeto é dele é porque o projeto é mesmo dele.
Elementar, não? Por falar em desinformação: sei que Alberto Dines não vai se rebaixar a ponto de dar satisfações aos leitores, mas acho que ele nos deve a elucidação do caso Ibsen Pinheiro. Depois de apaixonadamente defender a inocência do ex-deputado (e até pedir votos para ele), Alberto Dines nos deixou sem saber se Ibsen Pinheiro foi cassado ou não por causa da má reportagem da Veja.
Rogério Ferraz Alencar, técnico da Receita Federal, Fortaleza
Direito de resposta
Impressiona o simplismo com que Alberto Dines, jornalista que respeito pela história e atuação, vem tratando o governo federal. Passa inclusive a sensação sincera de ter tomado pessoalmente críticas e iniciativas do governo com relação à imprensa. Só isso pode justificar a alegação do jornalista – que se auto-intitula defensor da ética e da democracia – a seguir:
‘Ao entregar-se à tentação do novo enfrentamento com o jornalão americano, o governo oferece um atestado público de que o famigerado conselho é, sim, uma iniciativa dele e, não, dos jornalistas. Como a Fenaj tem se comportado neste episódio como afilhada do governo, sua ausência nesta reclamação só reforça a idéia de uma intervenção do Executivo em esfera sobre a qual não tem competência’.
Ora, o fato de alguém, acusado de responsável ou envolvido em qualquer situação responder a essa acusação tem um nome (dois até): direito de resposta, ou quiçá, direito de defesa. E, ao acusado, cabe o direito de se defender diretamente ou por meio de advogado sem que isso signifique confissão ou condenação. Caro Alberto Dines, por que só ao governo federal – que mesmo você, respeitado e equilibrado em suas análises, teima em chamar, inveridicamente, de governo do PT – não é dado o direito de resposta? Fico triste em constatar que seus textos teimam, cada vez mais, em resvalar para um oposicionismo simplista e irresponsável (expressão cunhada por lideranças do PFL para definir as ações do PT e que hoje descrevem as práticas desse mesmo partido) que quer tratar toda e qualquer iniciativa do governo como autoritária. Uma pena, realmente.
Cristiano Torres, jornalista, Goiânia
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Como na Venezuela
Só gostei de uma coisa na matéria ‘Artigo explica a polêmica do CFJ’. A comparação da imprensa venezuelana com a brasileira, mesmo que nas entrelinhas. É preciso assistir ao documentário ‘A revolução não será televisionada’, realizado pela diretora irlandesa Kim Bartley, sobre os bastidores da tentativa de golpe no governo de Hugo Chávez, em abril de 2002. Esse episódio triste da imprensa venezuelana é o reflexo do que vemos todos os dias nos jornais do mundo. Cabeçalhos de notícias extremamente tendenciosos, textos menos ainda assertivos de repórteres e jornalistas preocupados com audiência e manutenção de seus empregos na grande imprensa, influência dos meios políticos e nos meios políticos etc.
É a política do ‘tudo depende’. Depende de quem pode mais… E isso deve acabar. A imprensa existe para informar, ser o mais descritiva possível. Não deve ser manipulativa ou mesmo manipulada. Deve ser isenta o quanto possível. Trazer a informação como ela realmente é… ou pelo menos os fatos a que se teve acesso. Quem decide o que achar é o leitor, e não o interlocutor. Quando lemos uma reportagem hoje pensamos o quanto existe de influências externas naqueles fatos e o quanto aquilo pode ser verdade. Quando isso acabar, poderemos ver políticos que não são donos de jornais, e jornais que não mandarão na política.
Luciano Montenegro, Brasília