A jornalista Eliane Cantanhêde, no seu artigo da Folha deste domingo, 15/8/2004, ‘De denuncista a denunciado’, deixou-me pasmo com a parcialidade revelada. Tudo bem querer agradar à família Frias, mas isso não pode servir para corroborar ‘idéias fora de lugar’, parafraseando um certo ex-presidente. O problema de criar ou não um conselho para auto-regular a atividade jornalística é plenamente justificável em qualquer democracia madura ou que queira amadurecer. A capa da revista IstoÉ propõe apenas um lado da questão, diga-se, o lado mais conveniente aos donos da mídia. já que, por se tratar de um político, o próprio Ibsen Pinheiro se beneficiaria politicamente do ‘erro’ jornalístico.
Outro fato vizinho ao do Ibsen foi mais contundente, a forma como o Jornal Nacional da Rede Globo editou o último debate na TV entre Collor e Lula. O patrão não iria gostar de lembrar disso? E o caso da parabólica com o ex-ministro Rubens Ricúpero? Um acidente que acabou por acusar o próprio PT, tal foi a maneira como a imprensa conduziu o incidente. Quem é denuncista e denunciado, afinal? Isso não é joguinho de palavras. A Folha já acusava o governo de autoritarismo um mês depois da posse, basta ler os primeiros editorias fazendo referência ao Fome Zero. Ricúpero tinha razão, em resumo: a gente mostra o que interessa. O que não vale é deixar o caso da Escola Base fora de foco. Por quê? Incomoda aos patrões também?
No fundo, há uma batalha ideológica entre a mídia e o governo atual e um profundo abismo político entre jornalistas. Da batalha entre a mídia e o governo atual falo depois. Quanto ao abismo político, gostaria de fazer uma pergunta: por que os jornalistas são contra uma entidade que diz representar os jornalista, a Fenaj, pelo menos assim é reconhecida formalmente enquanto tal, por quê? Seria parte dos jornalistas ou a maioria? Há alguma disputa política entre tais jornalistas, entre os que acham que tudo se resolve no conselho de redação e os que querem redigir um conselho?
Eu, francamente, ainda não sei. Mas fico curioso ao ver uma matéria na mesma Folha de domingo acusando a Fenaj de ser petista. Das duas uma: ou a Folha está defendendo que jornalista nenhum tenha filiação partidária ou está censurando jornalistas que são petistas. Como sugestão, seria bom, além de se traçar um perfil político-partidário da Fenaj, que fosse traçado um perfil dos jornalistas brasileiros, suas representações de classe, opiniões sobre a atividade, liberdade de imprensa, interesses de mercado, ética e poder na mídia. Com a palavra uma das instituições de alta reputação no meio: o Datafolha. Chega de parcialidade. Hugo Chávez que o diga!
Humberto Miranda do Nascimento, economista, Campinas, SP
Iniciativa de décadas
Estou espantado com o artigo do colega Alberto Dines. Não compreendo como um homem tão bem-informado pode achar que este conselho seja fruto de uma iniciativa do Executivo para conter a mídia. Ele sabe exatamente que esta é um reivindicação de décadas e décadas e que aguarda por tal iniciativa do Executivo há pelo menos 10 anos. Uma posição como esta, vinda de pessoa desinformada da discussão corporativa tudo bem, mas saindo da mente brilhante de um homem sempre brilhante e bem-informado é demais. Um abraço a todos.
Carlos Gilberto Roldão, jornalista, Campinas, SP
Por que não ouvir?
Caros, por que evitar o debate democrático, que pressupõe troca de idéias, e partir direto para acusações buscando desmerecer o adversário? Por que não ouvir quem tem opinião diferente em vez de encerrar o assunto? Por que não mudar o nome de OI para ODI (Observatório do Alberto Dines), já que a página assume como sua a opinião do editor? Seria a maneira correta, pois garanto que nem toda a imprensa compartilha das idéias e dos métodos de Dines. Por favor, não joguem no lixo um espaço que custou tanto a vocês, ajuda tanto a todos nós, pelo qual todo mundo tem carinho etc. etc.
Carlos Alberto Balista, jornalista, São Bernardo do Campo, SP
Nota do OI: O Observatório não se furta de manifestar a opinião de seus editores nem de publicar opiniões contrárias às deles. Tem sido assim desde abril de 1996. O prezado leitor pode conferir esse comportamento navegando pelas Edições Anteriores do OI, em (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/ed_anteriores.asp). (Luiz Egypto)
Sem devaneios
Com todo o respeito que devemos ter ao Dines (pelos anos de profissão e os serviços prestados ao jornalismo), verdade seja dita: o jornalismo mudou, o mundo mudou. O jornalismo de há 50 anos não é o mesmo de hoje. O ingresso na profissão mudou, as condições para isso também. Poetas e escritores embriagados (que povoavam as redações no século 19 e parte do 20) não estão mais nas redações fazendo bico. Hoje, as redações contam com profissionais remunerados, que batem ponto, que estão sujeitos à contratação por carteira de trabalho e, por isso, são explorados. Ou não sabemos disso?
Vamos qualificar esse debate e deixar de ficar divulgando informações falsas, sem checagem. O jornalismo hoje é uma profissão e como tal deve ser tratada. Com normas, códigos deontológicos, tudo o que, afinal, uma profissão (médicos, advogados etc.) tem. E o conselho não vai ser nada mais do que isso: um instrumento de fortalecimento da profissão e melhoria da formação do profissional (acho que chega de poetas e escritores, não é mesmo?). Vamos debater com qualidade, sem facciosismos ou devaneios de tempos passados… Abraço fraternal.
Luis Fernando Assunção, jornalista, São Leopoldo, RS
Brasil irreal
A sensação que eu tenho ao ler sobre as críticas à criação do CFJ é a de que não vivo no Brasil. Os nobres colunistas tratam da questão como se todos os direitos constitucionais fossem respeitados. O problema é a concentração da mídia? O que os nobres jornalistas fizeram até hoje, de concreto, a esse respeito? Causa-me arrepios, ao ler o Dines afirmar que jornalista neste país é imparcial! Desde quando, se ele é um empregado qualquer, que se escrever algo de que o patrão discorde será defenestrado na mesma hora? Por que não se anuncia/denuncia o período de vigência de cada concessão pública desse país? Vamos criticar, mas não subestimem a inteligência da gente. Enquanto os nobres colunistas do OI, talvez grande parte seja jornalista, não arregaçar as mangas para ir a fundo na questão das concessões públicas, daí, sim, acreditarei no Brasil que os críticos pintam como real nas suas queixas.
Claudia Cardoso, aposentada, Porto Alegre
Paixão demais
Entendo que a função do Observatório deveria ser estimular o debate sobre o CFJ, desapaixonadamente. Outra coisa, que valor tem a votação no site do Observatório se a manchete do site é ‘Uma opção autoritária e desastrada’?
Marcos Aurélio Capitão, jornalista, Campinas, SP