Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quem fuxica é homem

Não vou comentar a idéia central do texto, mas algo que está à margem, que é o argumento de que às mulheres coube a fofoca. Não concordo com isso. Nos bairros por onde tenho andado em Belém, comumente nas periferias, os homens são os mais fofoqueiros. Observam tudo, vêem quem passa, quem saiu com quem. Aliás, havia num bairro de periferia aqui um certo lugarzinho denominado de fuxicódromo, onde os homens se reuniam para ‘fuxicar’. De modo que fuxicar não está ligado atualmente tanto às mulheres. Pelo menos aqui.

Você diz também que o fim da novela imobilizou o país. Eu me pergunto se isso não foi uma realidade criada pela TV, um clima fictício, mas que ela fez questão de enfatizar para arrematar mais pontos de audiência? Pois comumente entre as mulheres (mães de família e adolescentes) percebi que se debatia o assunto. Mas percebi que entre os que trabalhavam todos os dias e ralavam até ficar cansados para sentar diante de uma poltrona e se perguntar quem matou Lineu esta discussão não vingou. Acho falsa esta tentativa da mídia. Ficou para mim uma idéia de ilusionismo. Você acha que de fato as pessoas se mobilizaram em torno disso?

Karla Ferreira, estudante, Belém



Vamos curtir

Desculpe-me, achei-o um tanto amargo. Estou há poucos dias com internet em casa; é a primeira vez que entro aqui. Tenho 45 anos. Não acho justo criticar uma novela, desmerecendo seu papel social e até de globalizar nosso país; mostrar que nossa capital não é Buenos Aires, entre outras coisas. Também por imputar-lhe o dever de ensinar ao povo a cultura clássica. Quem gosta de ler já nasce com essa ânsia; digo isso por mim, que aos 3 anos não queria mais ‘ler’ figuras, ninguém tinha paciência para me ensinar, foi quando a televisão entrou na minha casa e fiquei com um lápis e um caderno diante da tela: ouvia e copiava o que aparecia, depois ia montando outras palavras.

Alonguei-me, mas queria mostrar o ‘valor’ da TV para mim. Lembra dos Ossos do Barão? Eu gostava do trecho da escada, onde 2 personagens liam poesias; mas as pessoas que eu conhecia achavam chato. Alguma delas abriria um livro de poesia? Só se este gosto estivesse adormecido. Não julguem um autor só por mostrar o banal; se a pessoa estiver ‘antenada’ usará um filtro para absorver o que lhe interessa. É tão bom sentar e rir, só isso. Já há muitos degolados na nossa realidade. A autora de A casa das 7 mulheres disse, no Sem Censura, que seu livro disparou em vendagens quando foi para a TV. E por falar em censura, a melhor é o controle remoto.

As novelas fazem a melhor divulgação de nosso povo no mundo. Não sei se o autor leu uma reportagem de página inteira, no Globo, com correspondentes estrangeiros. Ao serem indagados sobre o porquê de só mostrarem coisas ruins do Brasil, houve unanimidade, disseram que do contrário seriam mandados para outros países, e isso eles não queriam, mas sim continuar morando no Brasil. Então, qual faz a melhor divulgação do nosso país?

E para não mencionar os livros das escolas públicas. No meu tempo um imbecil criou um tal de Estudo Dirigido. Só que era dirigido para a resposta. Por exemplo: ‘O Brasil foi descoberto por ….’, mais adiante vinha a pérola: ‘Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil’. Época de ditadura; aí sim, que era alienação. Para quem se auto-alfabetizou aos 3 anos e aos 6 mandou o catequista enfiar o catecismo naquele lugar, tenho todo o direito de curtir uma novela da TV Globo. Logo, vamos sentar diante da TV e curtir a novela.

Valéria Nazareth Miguez, artesã, Magé, RJ



Coelho, não Machado

O nosso escritor mais famoso, o mais lido internacionalmente, o nosso escritor tipo exportação, como foi Goethe para a Alemanha e Shakespeare para a Inglaterra, não foi e não é Machado de Assis, o que certamente fortaleceria nossos egos literários, a exemplo dos ingleses e alemães, ainda que seus escritores desmintam as características menos nobres, digamos, daqueles povos. No caso do Brasil, doa a quem doer, o nosso escritor, o escritor que melhor representa o Brasil lá fora, é Paulo Coelho.

E, cá para nós, é a cara do Brasil, desse Brasil inverossímil, que tenta convencer a todos das maiores cascatas, jurando que são verdades. É o Brasil que com a força da mente pode fazer chover. Só que não faz.

Claudia Rodrigues, jornalista, Florianópolis



Friedman, não Keynes

Aprendi na Escola de Economia da PUC-Campinas que essa frase, ‘There’s no such a thing as a free lunch’, ou ‘Não existe almoço grátis’, é de autoria de Milton Friedman, e não de John Maynard Keynes, como citado na matéria. Se algum ufanista a atribuiu a Delfim, eu nunca soube. Foi exatamente uma das ‘tiradas’ comentadas por um professor de Teoria Econômica da qual jamais esqueci. Corrijam-me se estiver errada.

Maria Cristina Vondrak



Deonísio da Silva responde

Esta frase foi atribuída, entre outros, a Milton Friedman, a John Maynard Keynes e a Antonio Delfim Netto. Foi muito citada por diversos economistas na década de 1960, mas depois que Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia, a utilizou como título de um livro que lançou em 1975, tem sido atribuída com mais freqüência a ele do que a outros. O livro de Friedman tem pequena variação no título: ‘There’s no such thing as a free lunch’. E está esgotado, mas um exemplar usado pode ser adquirido na Amazon por US$ 55,34 (Pub Group West, 318 páginas).

A frase surgiu num boteco de Nova York, na primeira metade do século 19. O dono servia petiscos e sanduíches aos fregueses entretidos em jogos de carta, mas os advertia de que não existia almoço de graça. Isto é, que ele cobraria dos jogadores distraídos o que estava servindo. Tornando-se proverbial, foi recolhida nos EUA, em compêndios de ditos, frases célebres e citações.

Para se ter uma idéia de como a frase é citada por todos os cantos, foi invocada há pouco tempo, entre outras, pelas seguintes personalidades:

** Alan Greenspan, presidente do Banco Central dos EUA, com uma pequena variação: ‘The free lunch has still to be invented’ (o almoço de graça ainda não foi inventado);

** Fausto Faria, ex-prefeito de Rondonópolis: ‘Nada pior para a saúde da democracia e das pessoas do que a vitória de candidatos que pensam permanentemente em ‘almoço de graça’. Estarão, a todo momento, transferindo a conta para os eleitores desatentos que contribuíram para o seu sucesso.

** Pedro Jaime Ziller, presidente da Anatel: ‘A universalização das telecomunicações também está embutida na assinatura mensal. Não tem almoço de graça, alguém tem que pagar por ele’.

** Rabino Kalmon Packouz: ‘A nossa época é de constante procura pelo prazer instantâneo e imediato. As pessoas também querem espiritualidade instantânea. Querem algo que lhes propicie comunicação instantânea com Deus e um sentimento de espiritualidade e santidade. Como diz o provérbio: ‘Não existe almoço de graça!’’

** David Lodge, no título de um livro ‘Um almoço nunca é de graça’ (a edição portuguesa é da editora Gradiva). (D.S.)