Nessa madrugada de domingo, data comemorativa aos 60 anos do Dia D, assisto nas TVs americana e inglesa ao presidente americano George W. Bush sendo recebido por seu aliado Jacques Chirac e discursando no cemitério americano na França, um espetáculo digno do melhor teatro grego, em tributo aos heróis e bravos soldados que participaram daquela salvadora e decisiva operação em 1944, na Normandia.
Coincidentemente, por ironia do destino, o conservador republicano, presidente/ator Ronald Reagan acabara de morrer e seu nome caiu como uma luva revigorando o discurso de Bush (as homenagens póstumas se estenderão por toda esta semana, pois Reagan será enterrado só na quinta ou sexta-feira). Tudo parece se ajustar perfeitamente à ocasião, para relevar e reafirmar o sentimento republicano ou simplesmente, o poderio hegemônico norte-americano, seriamente atingidos pela desastrosa política externa do Sr. Bush e seus aliados, em ano de eleições presidenciais nos EUA.
Parece roteiro de cinema hollywoodiano encomendado aos melhores mestres do gênero. Que o ex-presidente Ronald Reagan e os heróis do Dia D, mas que também os heróis e bravos inocentes mortos no Iraque e em Israel nesses últimos anos, descansem todos em paz, estado raro entre os vivos contemporâneos desses violentos e absurdos tempos.
Daniel Taubkin
Novo momento internacional
A mídia brasileira age em bloco, reproduzindo posicionamentos de agentes externos. Historicamente foi assim e hoje não é diferente. O reflexo de discussões européias cinqüentenárias ebulem somente agora em nosso país. Direitista e retraída em virtude do apoio popular que fez de Lula presidente da República, de uma forma geral mostra as garras nos momentos que propiciam ataques públicos à presidência e a todo o conjunto do governo, como na discussão do ‘uísque presidencial’, levada desde o programa do Faustão até o jornal do bairro, abrindo margem para a expressão dos antes retraídos.
A ‘falta de rigor na apuração das informações’ admitida pelo NYT na semana retrasada tem sido reproduzida em massa no Brasil. Lembremos: Artigo 16 do código de ética do jornalismo brasileiro: ‘O jornalista deve pugnar pelo exercício da soberania nacional, em seus aspectos políticos, econômicos e sociais, e pela prevalência da vontade da maioria da sociedade, respeitados os direitos das minorias.’
O apoio classista da imprensa brasileira no episódio envolvendo o jornalista Larry Rohter, revela a falta de posicionamento genuinamente preocupado com o processo da informação no Brasil, e o mesmo acontece com as informações relativas à guerra no Iraque. É inegável que a imprensa brasileira, no geral, foi servil aos interesses estadunidenses para a articulação da guerra.
O New York Times, referência para nossa imprensa, hoje mostra que nem ele mesmo mostrou a verdade. E agora? Quando o NYT se retrata publicamente e as manifestações contra a política estadunidense pipocam por toda a Europa, o que fará nossa imprensa? Perdeu-se o referencial? Nossa imprensa seguirá reproduzindo esta mudança do quadro político internacional. Por que esperar esta orientação? Por que não primar pela informação pública verídica e de qualidade de uma vez? A guerra já se reflete na economia dos Estados Unidos, que cresce. As desculpas e os mea-culpas aparecem, assim como aparecem também os cadáveres iraquianos e os desmandos. Não é claro que haja interesse pela desorganização social do Oriente Médio por parte dos gigantes do capitalismo? Não é claro que a imprensa brasileira deva assumir sua verdade? Ou seja, ser brasileira?
Nazen Ricardo, relações-públicas, Curitiba