Caro Dines, li com a atenção e o respeito de sempre seu comentário sobre a matéria que o Josias de Souza publicou na Folha, logo após as eleições na Fiesp, vencidas pela Chapa 1, encabeçada por Paulo Skaf [veja remissão abaixo].
A matéria do Josias traz informações novas e informações verdadeiras. Infelizmente, as novas não são verdadeiras e as verdadeiras não são novas. É verdade, por exemplo, que a indústria têxtil que Skaf dirigiu com êxito durante 25 anos mudou de objetivo social e hoje, com o nome de Turn Key Parques Industriais, aluga galpões para outras empresas – uma atividade, aliás, perfeitamente lícita.
Não é verdade, entretanto, que ele esteja fora da indústria. É acionista e vice-presidente de uma das maiores empresas têxteis do país, a Paramount Lansul. Só como exemplo, o antigo presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, é acionista da Klabin, como Skaf o é da Paramount Lansul. O Josias não o considera industrial. Opinião por opinião, vale a da indústria, que o elegeu presidente da Fiesp em votação histórica. Tem o peso de quem conhece os fatos.
Não é verdade, também, que Skaf tenha deixado dívidas (aliás, nem a reportagem do Josias o diz). Os funcionários receberam regularmente seus direitos, a dívida tributária e previdenciária foi parcelada legalmente – a lei que permite esse parcelamento está em pleno vigor e pode ser utilizada por qualquer empresa que enfrente esse tipo de dificuldades – e a garantia oferecida é um terreno cujo valor supera em várias vezes o que foi parcelado.
Importante, Dines: todos os documentos foram levados a Brasília, ao Josias de Souza, que pôde analisá-los à vontade. Dois advogados de Skaf, que acompanhei na visita, explicaram-lhe detalhadamente, com base na documentação e na lei, cada uma das dúvidas que teve. O Josias pareceu satisfeito, já que suspendeu por três ou quatro meses a publicação da matéria.
De repente, numa sexta-feira, no final da tarde, telefonou (não para o pessoal de Comunicação, mas para um dos advogados com quem havia conversado). Avisou que iria publicar a reportagem no final da semana e que estava ligando para saber se havia alguma declaração a ser feita – e rápido, porque já era hora de fechamento. Por volta das nove da noite de sexta, telefonou então para Paulo Skaf, dizendo que iria publicar a matéria e querendo saber se ele gostaria de falar alguma coisa.
Desse jeito, Dines, não dá: ouvir o outro lado não é uma obrigação burocrática, feita às pressas, só para cumprir o Manual de Redação. Rebater acusações exige lê-las, analisá-las, discuti-las; eventualmente, exige um tempo razoável para documentar posições. Nada disso foi seguido ‘nesta peça clássica de jornalismo investigativo’.
A propósito, Dines, houve jornalismo investigativo, sim. Mas a investigação não foi feita pelo autor da reportagem. O dossiê que serviu de base para a reportagem (e que vimos em sua mesa, amplamente anotado, com papeizinhos grudados nas páginas que ele deveria consultar aos nos receber) não foi elaborado pelo Josias, não. Foi encaminhado pelos adversários da Chapa 1, no auge da campanha, a diversos veículos de comunicação, numa tentativa clara de dificultar a vitória anunciada.
Os jornalistas pediram explicações a Paulo Skaf, foram atendidos e chegaram à conclusão de que não havia matéria. Houve uma exceção: uma revista de Campinas, a M+, dirigida pelo jornalista José Aparecido Miguel, também recebeu o dossiê, também pediu explicações e decidiu fazer matéria, publicada no final de julho, em papel e na edição eletrônica.
O fato, Dines, é que em nenhum trecho da ‘peça clássica de jornalismo investigativo’ há qualquer acusação real a Paulo Skaf. Não há quem lhe impute desonestidade, ou falta de transparência. Ao contrário, o que se diz é que, como a maior parte dos empresários brasileiros, ele enfrentou dificuldades e teve de buscar maneiras de resolvê-las, sempre dentro da lei.
Carlos Brickmann, consultor da Presidência da Fiesp, colaborador do Observatório da Imprensa