Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Você’ com cedilha

Domingo, 4 de julho: o programa Domingo Legal exibiu matéria com o ‘aventureiro’ Toninho Negreiro, em que ele apresentava peixes e cobras estranhos. Numa parte da matéria ele viajava até a Amazônia, e mostrava um pouquinho da vida de uma cidade na fronteira com a Colômbia. Disse ser necessário alugar uma motocicleta, e foi filmado de longe enquanto fazia o negócio. Simplesmente ridículo! Além das frases ditas em português com sotaque espanhol, desnecessárias, já que o ‘homem das motos’ era brasileiro, ao que parecia, o ponto alto da matéria foi a legenda para o diálogo: um belo e claro ‘você’ com cedilha. Um ‘você’ com cedilha em rede nacional!

Maicon Vinicius Nunes, estudante de Economia, Porto Alegre



Perdendo a graça

O meu nome é Michel, eu tenho 14 anos e concordo com vocês nos comentários sobre os desenhos e os programas infantis! Ultimamente eles andam perdendo a graça e andam cheios de reprises! A única emissora que manda bem nesse assunto é a TV Globo, que sempre esta investindo na TV Globinho, que sempre está com a audiência em alta. E eu espero que o SBT deixe de reprisar alguns desenhos, porque os programas com Bom Dia e Cia. e Hora Warner estão muito sem graça!

Michel Bento Bezerra



Um atentado

Muito bem feita a crítica. Faltou apenas mencionar que a TV brasileira é uma concessão pública. Sendo assim, nós, que pagamos nossos impostos, podemos exigir mais qualidade na programação. Podemos denunciar, podemos nos unir e mover ações judiciais contra tanta baixaria. A programação local, aqui em Brasília, é péssimo exemplo. Programas sem conteúdo, pobres em informação e criatividade. Um atentado ao cidadão brasileiro.

Susi Dantas, assistente social, Brasília

Leia também

O jeito fácil de fazer televisão – Eduardo Augusto B. Santos



MÍDIA & CIÊNCIA
Preservando o umbigo

Muito bom o artigo do senhor Ulisses Capozzoli, atestando o egocentrismo existente entre os pesquisadores, de uma forma geral. Em pleno século 21 ainda é possível verificar que grande parte da comunidade científica é arrogante e pouco contribui para a divulgação da ciência. É a preservação do próprio umbigo.

Quando se propõe fazer uma análise do que a mídia tem apresentado sobre o tema reprodução humana isso se revela uma tarefa grandiosa, mas ao mesmo tempo ingrata e dolente, haja vista que, na medida em que o conceito avança, torna-se impossível apurar todo o campo de divulgação do assunto. Há muito sensacionalismo envolvido e as informações deturpadas colaboram para manter o tema ainda mais obscuro. Não esqueçamos do tabu instituído pela igreja, e temos então, um caldo fervente, que hora pende para um lado, ora para outro, queimando as línguas desavisadas. O que se procura então é elaborar uma análise crítica daquilo que mais comumente nos chega às mãos. (…)

Em todas essas abordagens, contudo, é preciso fazer um filtro e retirar as informações supostamente errôneas e preliminares, e interpretar a reprodução humana de forma científica. A bem da verdade, o que está embutido nesse tipo de divulgação científica é uma lógica própria, a do mercado. O jornalismo comum, aquele que vive de vender jornais e revistas não se permite analisar criticamente o homem e sua relação social, pois tal ato poderia gerar transtornos e controvérsias no leitor, seu público-alvo. Apresentar uma matéria que identifique o próprio leitor como representante de uma espécie animal comum, que possui tantos erros e acertos evolutivos, que tem desejos, e cujo controle de natalidade pode ser interpretado pela lógica do fordismo, gerará nele a percepção de ser tratado como qualquer outro ser vivo do planeta e a evidência de que não é o supra-sumo da evolução poderia suscitar oposições de setores conservadores da sociedade e fatalmente levaria a entidade jornalística a perder seu mercado.

Penso que, ao se fechar em um casulo e divulgar seu raciocínio apenas no âmbito acadêmico colabora-se para mistificar (positiva ou negativamente) ainda mais a visão na sociedade que se tem do cientista, do ser humano que dedica horas, dias, semanas, meses e anos a fio interpretando e analisando criticamente a natureza. Para fazer ciência (ou Ciência), para se ‘tomar conhecimento’ das coisas, é necessário, de toda forma, fazer revoluções científicas, ter aquela velha pulguinha atrás da orelha e transmiti-las ao mundo, pois é um bem da humanidade.

Alexandre Carlos Aguiar, biólogo, Florianópolis

Leia também

Reprodução humana e desafios da cultura – Ulisses Capozzoli



TECNOLOGIA MILITAR
Mídia assim com o Pentágono

Caros amigos do Observatório, vejam como esta notícia publicada pela agencia noticiosa russa destoa de tudo o que é publicado pela nossa imprensa sobre tecnologia militar, em que quase sempre é feita apologia à superioridade americana, seja numérica ou tecnológica. Mas, ao que parece, ela seria só numérica.

2004-06-30 14:22 Comentário – Pentágono reconheceu a supremacia dos caças russos Viktor Litovkin, observador militar da RIA Novosti.

Os militares americanos surpreenderam Moscovo ao declararem, segundo notícias divulgadas por diversos meios de comunicação social, que os caças russos são superiores aos análogos americanos em todos os aspectos. A que se deve tal elogio? Tudo começou com a publicação no USA Today [23/6/04] de uma entrevista do general norte-americano Hul Homburg, onde este fala dos incríveis êxitos da Força Aérea da Índia registrados em fevereiro passado perto de Gwalior, na Índia central, no âmbito das manobras contra os aviões americanos F-15C/D Eagle. Os indianos pilotavam os caças multifuncionais russos Su-30MKI e venceram 90% dos combates aéreos.

‘Não estamos tão avançados como gostaríamos em comparação ao resto do mundo – cita o jornal as palavras do general, comandante do Air Combat Command da Força Aérea dos EUA. ‘O F-15 é o nosso aparelho principal para alcançar o domínio no céu e por isso a vitória inesperada dos indianos em caças russos acabou por ser um duche de água fria para muitas altas patentes americanas’. Um pouco depois, a notícia sobre a ‘vitória dos caças russos’ foi espalhada pelo boletim da Força Aérea dos EUA Inside Air Force, tendo publicado dados ainda mais convincentes. Verificou-se que contra os F-15C/D Eagle combateram não só os caças Su-30MKI, mas ainda os MiG-27, MiG-29 e mesmo os velhos Mig-21 Bizon, que também merecem todos os elogios. Os caças russos saíram vitoriosos ainda em combates contra os Mirage 2000 franceses.

O site americano Washington ProFile qualificou o sucesso dos aparelhos russos como uma surpresa total para os pilotos americanos. Todavia, para os peritos militares russos, a vitória não trouxe nenhuma surpresa. O director-geral do Centro de Engenharia Aérea Sukhoi, Mikhail Simonov, disse mais de uma vez, incluindo na sua recente entrevista à RIA Novosti, que o caça Su-27 (Flanker, segundo a denominação da Otan, cujo sucessor é o Su-30MKI, foi especialmente concebido ainda nos anos 80 para enfrentar precisamente o F-15 Eagle. Eis por que as declarações americanas não foram nenhuma surpresa para os construtores, que de antemão sabiam das vantagens tácticas e técnicas do aparelho em comparação com o caça americano. Surpresa foi a alta direcção militar americana ter por fim reconhecido oficialmente este facto.

As manobras tiveram lugar ainda em fevereiro passado na base militar da Força Aérea em Elmendorf (Alasca), mas na altura ninguém falou do êxito dos caças russos, que venceram três dos quatro combates aéreos. Pela primeira vez os caças russos ultrapassaram os americanos em combates simulados no início dos anos noventa, quando os aparelhos Su e MiG começaram a participar em salões e exposições aéreas no estrangeiro, tendo alguns dos caças Su-27, comandados pelo chefe do Centro de Formação de Pilotos de Lipetsk, Aleksandr Khartchevski (mundialmente conhecido por ter pilotado juntamente com o presidente Putin o caça em que este se deslocou à Chechénia), demonstrado no Canadá as possibilidades dos aviões de combate russos.

Claro que os aviões tanto americanos como russos não estavam munidos de mísseis de combate e projécteis, substituídos por câmaras fotográficas de alta velocidade, ou seja metralhadores fotográficas. Os especialistas americanos ficaram com certeza desiludidos quando as imagens foram reveladas, registrando todos os pontos vulneráveis aos mísseis dos caças americanos. A razão do sucesso deveu-se antes de tudo às fantásticas características e capacidades de manobra, entre as quais a famosa ‘cobra de Pugatchov’, um dos mais complicados elementos de acrobacia aérea agora mundialmente conhecidos, que não podem ser efectuados por nenhum outro aparelho.

Depois do sucesso no Canadá, combates aéreos semelhantes foram organizados em meados dos anos noventa na África do Sul, onde os caças russos combateram contra o Mirage 2000 de fabrico francês. O resultado foi o mesmo. ‘Quando o nosso avião se aproximava do avião adversário à distância de um disparo directo, podia-se dizer que o inimigo estava liquidado, bastavam para isto apenas 5-6 disparos’, assinala o director do programa Mig-29 e das suas modificações, Arkadi Slobodski. Os americanos estão cientes destas características dos aviões russos, tendo até chegado a comprar uma esquadrilha destes aparelhos à Moldávia, quando esta ex-república da URSS se tornou independente. Os aparelhos foram reparados com o apoio de especialistas alemães, que dispunham dos Mig-29 da RDA, utilizando-os com sucesso para treinar os seus pilotos a combater contra os caças russos, que equipam actualmente a Força Aérea de vários países, no total mais de 7 mil aparelhos.

De acordo com os dados do The Military Balance britânico, só a Força Aérea da Índia dispõe de mais de 500 caças deste tipo. Sendo assim não admira o facto de os pilotos indianos terem conseguido vencer os seus colegas americanos em combates aéreos simulados. Equipamentos militares únicos do género em combinação com a mestria dos pilotos levaram a estes resultados impressionantes. Por outro lado, assinalam os peritos em conversas com os jornalistas, já há muito que os americanos não enfrentam um adversário sério.

Não vale a pena levar em conta os combates aéreos do final dos anos 90 nos Balcães, onde a Força Aérea dos EUA dominava em quantidade, e não em qualidade. O mesmo se pode dizer sobre a primeira e a segunda campanha militar no Iraque, onde praticamente não houve combates aéreos. Como mudar a situação para melhor? Só através de treinos. Mas a psicologia militar obsoleta torna impossível ‘combates’ de treino contra pilotos russos, temendo uma eventual derrota. Os pilotos indianos são outra coisa. Neste caso pode-se apresentar a derrota como resultado da fraca preparação e nada mais.

Mas por que teriam os americanos divulgado a informação sobre as suas derrotas? A explicação é simples: tudo isto se deve ao facto de o Congresso dos EUA estar precisamente agora a debater o orçamento militar do país.

Para ler a matéria do jornal americano USA Today visite o endereço (www.usatoday.com/news/washington/2004-06-23-us-skies_x.htm). A matéria acima está em (http://pg.rian.ru/rian/index.cfm?prd_id=95&msg_id=4528146&startrow=1&date=2004-06-30&do_alert=0)

Rodolfo Ribeiro Machado, programador, Batatais, SP



PARA A PAUTA
Brasileira no Iraque

Uma das máximas da imprensa diz que jornalista nunca deve ser notícia, tendo em vista que a sua função é a de providenciar notícias. De repente tomo conhecimento, porém, de que a fotógrafa brasileira Marina Passos está morando em Bagdá há oito meses, cobrindo para a agencia de notícia France-Presse os conflitos que afligem aquele país. Que me perdoem os puristas, mas as experiências que estão sendo vividas por essa brasileira, em pleno ‘inferno iraquiano’, são dignas de serem pautadas.

Julio Ferreira, Recife