O que significa assumir todas as consequências do argumento de que somos, os humanos, seres que fazem a sua própria história? Para uma primeira possibilidade de resposta para essa questão, recorro a Marx, o de 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1852), no qual assim o autor de O capital (1867) se expressa a respeito: […]
Mosaico
Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte(1852), Marx produziu esse argumento lapidar: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira como tragédia e a segunda como farsa.” Podemos descolar esse conhecido […]
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que vos assemelhais a sepulcros branqueados, que por fora parecem belos aos olhos dos homens, mas que, por dentro, estão cheios de toda espécie de podridões. Assim, pelo exterior, pareceis justos aos olhos dos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e iniquidades.”(São Mateus, 23:27-28) “Como dizes: […]
No livro Kafka, por uma literatura menor (1975) de Gilles Deleuze e Félix Guattari, existe um capítulo que merece ser retomado especialmente porque nele é possível ler a proposta de uma estrutura edípica que recocheteia na triangular família patriarcal, com mamãe, papai e filhinho, precisamente para nos mostrar que esta pode ser gradativamente dilatada até […]
Estamos diante da perda da amizade e da experiência da vida política e dos valores éticos, morais e humanos. Os laços afetivos que unem os homens e uma sociedade têm importância fundamental na constituição e na harmonia da vida em comunidade. A perda destes valores tem como consequências a barbárie. Gostei das ideias expostas pela […]
Como professor, trabalhei durante dez anos numa escola da periferia de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Nela fiz amigos com os quais desenvolvemos projetos político-pedagógicos marcados pela seguinte premissa: se um aluno pobre não sabe, com clareza, os motivos históricos concretos que condenaram ao abandono a vida de suas famílias e, portanto, deles mesmos, […]
Os últimos desdobramentos da Ação Penal 470 do STF induzem para que a análise dos fatos noticiados e comentados pela imprensa abranja a busca de linhas de evolução universalistas e que ultrapassem o limite de tempo normalmente considerado pela mídia. Como poderemos, os não especialistas em direito, discernir sobre afirmações como as proferidas pelo advogado […]
1. Se, no campo das artes e do pensamento, o gênio nada mais é que o sujeito que se permite ao deliro, tal que ele e o louco varrido se tornam indiscerníveis, então é possível definir dois tipos de gênio: um primeiro marcado por um delírio reacionário, fascista mesmo; e um segundo por um delírio […]
Uma matéria indignatória, como diriam os bolobolenses, me angustiou o fim de noite. No portal UOL, “Beijo gay sai na Argentina”, ao som do Caetano, uma nota de Flávio Ricco em 04/09/2013 se refere ao primeiro beijo gay na TV argentina. Não posso crer que um portal deste porte e um jornalista renomado possam dar […]
1. Bakhtin não se cansava de nos lembrar que o signo é ideológico. A ideologia, por sua vez, bem mais que uma falsa consciência, deve ser entendida afirmativamente: é a hierárquica história humana acumulada como monumento à barbárie, para dialogar também com Walter Benjamin. 2. Uma ideologia é, pois, o próprio monumento, bárbaro porque […]
1. Michel Foucault, no primeiro volume da História da Sexualidade, parte da seguinte premissa: a história do mundo moderno, incluindo o contemporâneo, é simultaneamente a da produção do biopoder, entendido como uma forma de tecnologia de dominação através da qual o soberano, com seu romano poder de morte sobre os súditos, perde espaço (principalmente nos […]
O cenário da luta pelo poder ocorre também e talvez até antes de tudo no campo semântico, da produção de sentidos. Os sentidos dominantes numa sociedade são precisamente o daqueles que detém o poder. E o que é o sentido? O sentido é simplesmente o que nos faz sentido, aquilo que entendemos como importante em […]
1 Se, no campo da musicologia, o ritornelo é a repetição de um trecho de uma composição musical (seu refrão), na filosofia de Deleuze e Guattari, por sua vez, ele é concebido como o conteúdo ao mesmo tempo retomado e em expansão da música, um mesmo que é um outro: repetição e diferença. Existe sempre […]
De acordo com a pesquisa “Perfil profissional do jornalismo brasileiro”, realizada pelo programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC, em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, tendo o apoio da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, entre os dias 25 de setembro e 18 […]
Durante muito tempo, o conceito de texto esteve intimamente ligado à linguagem verbal [leia-se, escrita]. Isto é, para que um determinado material linguístico fosse alçado à condição texto, deveria ser construído com base na linguagem escrita. Não estamos dizendo aqui que a linguagem não-verbal [leia-se, imagem] não se fazia presente nos materiais textuais. Contudo, o […]
1. Um dos aspectos mais interessantes da literatura do escritor checo Franz Kafka (1883-1924) está relacionado com a sua potência para mostrar como as relações de poder se inscrevem em todos os lugares, porque tudo está absolutamente misturado. É assim, por exemplo, que no romance O processo (1925), o ateliê do personagem Titorelli, pintor de […]
1 Marx, no primeiro volume de O Capital (1867), forneceu-nos a fórmula de nosso sistema mundial de produção de mercadorias: D-M-D, onde d é dinheiro e m é mercadoria. Não sem humor, o que Marx pretendia mostrar com essa equação era simplesmente que ela se constitui como um verdadeiro círculo vicioso, pois qualquer relação mediada […]
1 Os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari propuseram duas formas de política para atuar, pensar, criar, ler, viver: uma política existencial molar e uma política existencial molecular. A primeira, a molar, é constituída por planos fixos, segmentados, já instituídos, como certa ideia de esquerda em contraposição a outras não menos previsíveis visões do que […]
1 No prefácio (1920) de Imperialismo, fase superior do capitalismo (1916), Vladimir Illitch Lenin (1870-1924), líder da revolução russa de 1917, define o imperialismo tal como sugere o subtítulo de seu livro, fase superior do capitalismo, detendo os seguintes traços: 1)através dele, o capitalismo se transformou num sistema mundial de subjugação; 2) que estrangula a […]
Chamemos de discursos o reino dos ditos e dos escritos, independente da área do saber. Todas as sociedades, sob esse ponto de vista, são constituídas de discursos, de ditos e de escritos. Nelas e através delas um rigoroso controle dos discursos é implacavelmente exercido, razão pela qual o desafio da ordem social, fundamental para qualquer […]