No final de Condição Pós-Moderna (1993), o geógrafo marxista britânico David Harvey (1935-) argumentou que a atual época que nos cabe viver se tornou adepta intransigente da diversidade, em nome da qual se inviabiliza e desqualifica qualquer possibilidade de parâmetros comuns para os povos do mundo, os quais se tornaram, por isso mesmo, reféns do […]
Mosaico
1 Em diálogo com a premissa de que a presença humana na Terra, tendo em vista as grandes civilizações, tem sido absolutamente trágica, porque historicamente tem se realizado através da dominação a um tempo econômica, patriarcal, étnica, epistemológica e um sem fim de outras correlacionadas, no livro Tragédia moderna (2002), o crítico literário, Raymond Williams […]
Grande Sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, é romance pactário do começo ao fim, assim como do começo ao fim, numa estrutura narrativa em que o fim é o começo, ser pactário está relacionado com a defesa do dispositivo ficcional, entendido como afirmação da vontade humana, que a si mesma se inventa à medida […]
Num mundo tão confuso como o nosso, aparentemente pleno de matizes, com tantas entradas e saídas, encruzilhadas, para viver nele mais do que nunca, tal qual numa selva cheia de feras, é necessário trazer consigo um kit de sobrevivência mínimo, razão por que o objetivo deste artigo é o de apresentar (sob a ótica do […]
Em primeiro lugar, queria deixar claro que com este artigo, onde discorro sobre “Batman” e “Avenida Brasil”, não estou pretendendo aparecer à custa de gente famosa, como poderia à primeira vista parecer, aos olhos de leitores apressados. É verdade que o seu título, visto que menciona o nome de um renomado jornalista e o […]
O soberano é o verso e reverso do povo, assim como Deus é o verso e reverso de demônio; assim como a morte é o verso e reverso da vida; assim como a verdade é o verso e o reverso da mentira; a seriedade é o verso e o reverso da farsa e o honesto […]
1 No âmbito do marxismo, fetichismo é o nome comum de um procedimento mágico e obscurantista, no qual e através do qual o inanimado, a mercadoria, adquire alma, autonomia, subjetividade, de modo a tornar-se mais humano que e humano, mais Deus que Deus, num contexto social e produtivo, o do capitalismo, em que a forma […]
A preliminar é questão de princípio: o combate ao racismo implica no compromisso da destruição da crença em “raças” humanas edificada no século 18 para a opressão. No mérito, a impertinência e o descabimento do estado praticar e induzir a afirmação de uma classificação racial dos humanos. O dever do Estado é combater o racismo […]
O Naturalismo foi, como se sabe, uma escola literária do século 19 e início do século 20. Bem mais que se inspirar no evolucionismo de Charles Darwin (1809-1882), do qual tomou de empréstimo o argumento da seleção natural, estava visceralmente implicado com o tumulto das relações de força mais reacionárias vinculadas ao epicentro sísmico da […]
1 Desde as grandes civilizações, temos vivido a disputa de três formas de epistemologias ou saberes: a estético-expressiva, a cognitivo-instrumental e a moral-prática. 2 O conhecimento estético-expressivo está relacionado à linguagem, entendida como sistema semiótico, razão pela qual envolve um mundo de formas semióticas de expressão: linguagem verbal, escrita, icônica, fílmica, musical, televisiva, poética, ficcional […]
O nome de Fernando Henrique Cardoso parece ser a bola da vez. O sociólogo e ex-presidente brasileiro entrou para o centro das atenções da grande mídia ao receber da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos o polpudo Prêmio Kluge. Em reportagem de Luís Fernando Silva Pinto (11/7/2012), “FHC recebe prêmio dos EUA por atuação nas […]
Porque somos desiguais, num mundo desigual, em diálogo com o livro O desentendimento: política e filosofia (1996), do filósofo francês Jacques Rancière (1940), parto do argumento de que existe política quando o dissenso emerge entre desiguais, provocando-os a produzir a justiça da igualdade de direito entre ambos, sem distinção econômica, de gênero, de classe, […]
O filósofo alemão Walter Benjamin (1892-940) produziu uma singular concepção de história que pode ser demonstrada no seguinte trecho de seu ensaio Sobre um conceito de história: “A tradição do oprimido nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é na verdade a regra geral” (BENJAMIN, 1994,p.226). Duas premissas marcam a sentença acima: […]
Curiosa é a origem grega da palavra hybris. De um lado, tendo em vista sua etimologia, significa desafio, provocação ou insubordinação a uma ordem cosmológica preestabelecida pelos deuses, constituindo-se como um presente dilatado, sem passado e sem futuro, na suposição de que sempre existiu e sempre existirá – a ordem tal. Nas tragédias gregas, a […]
1 Em diálogo com Gilles Deleuze e Félix Guattari, especialmente com o volume três de Mil Platôs (1996), este artigo assume de antemão o argumento de que o capitalismo pode e deve ser analisado como uma empresa mundial de produção, distribuição e consumo de rostos, de modo que, nele e através dele, tudo se torna […]
Só podemos ver a realidade por meio do olhar. Mas o que é o olhar? Acredito que a definição de olhar está para além do olhar físico. Ela pode ser entendida como o nosso meio de interpretar a vida. Este sempre é mediado por nossa experiência de mundo, que também tem a ver com o […]
No manifesto Caranguejo com Cérebro (1992), Fred Zero Quatro (1965), compositor do grupo pernambucano Mundo Livre S/A,esboçou as bases teóricas do movimento de contracultura recifense manguebeat, criado na década de 90 do século passado e que teve como expoentes, além do próprio Fred Zero Quatro, os compositores e cantores Chico Science (1966), morto prematuramente num […]
“Sam, poderia nos contar a parábola do bom samaritano?”, perguntou o pastor responsável por entrevistar o jovem que desejava se tornar ministro. Sam começou a contá-la: “Um homem estava viajando de Jerusalém para Jericó e ele caiu no meio dos espinheiros. Aconteceu que ele perdeu o dinheiro. Então, ele se dirigiu à rainha de Sabá, […]
Em História da sexualidade: vontade de saber (1976), o filósofo francês Michel Foucault (1925-1942) mostrou-nos, para quem tem olhos livres para ler, como o não menos “livre e democrático” Ocidente produziu, a partir de seu ponto G civilizacional, as subjetividades estilizadas que circulam em Nova York e que se tornaram os modelos de humanos a […]
Recentemente, os ataques a uma revista semanal apenas nos detalham a operação de colocar em xeque aquilo que buscamos ao nos informar sobre determinado assunto, cabendo ao leitor o devido julgamento, que agora passa a ser feito por outras pessoas. Não buscaram colocar em evidência somente os fatos, mas quem os descobriu e publicou, realizando […]