Na última sexta-feira (6/11), o superintendente de Comunicação da prefeitura de Campo Grande, Djalma Machado Jardim Neto, foi protagonista de mais um entre os muitos casos de ingerência do poder público sobre o trabalho de jornalistas em Mato Grosso do Sul. Em uma agenda pública do prefeito Alcides Bernal, Jardim constrangeu a repórter fotográfica Marithe Lopes, do jornal Midiamax, a lhe mostrar as fotos registradas no evento sob o argumento de que precisava checar se o prefeito estava “feio” nas imagens.
“Deixa eu ver as fotos que você estava fazendo de baixo”, disse Jardim. Ao ser questionado sobre o motivo, a jornalista foi surpreendida com o tom intimidador. “Porque eu quero ver!” Segundo o editor do Midiamax, jornalista Eser Caceres, Marithe foi conduzida até uma sala onde ficou sozinha com o prefeito e teve que ouvir um discurso sobre a “perseguição da imprensa ao seu governo”. O caso foi alvo de uma nota de repúdio da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Brasil (Arfoc-Brasil).
Neste país – por enquanto –, é livre o exercício profissional do jornalismo sem prévia censura. Lamentavelmente, no entanto, para frustração da sociedade, o cerceamento à informação tem sido a regra nas instituições do Executivo, do Legislativo e do Judiciário em Mato Grosso do Sul. Somos um dos estados onde o acesso à informação é mais dificultado pelo poder constituído.
Os servidores, especialmente aqueles que trabalham nas assessorias de comunicação, são submetidos a uma carga de pressão absurda. A tensão entre o interesse público e o interesse do “patrão” leva os bons profissionais a desafiarem constantemente os limites impostos pelas chefias. Sob o risco de perderem seus empregos, tentam manter-se o mais próximos possível de uma postura ética. Os profissionais acomodados, aqueles que “vestem a camisa do patronete da vez” e estão sempre dispostos a passar por cima da ética e dos colegas, estes são os que protagonizam a maioria dos casos como o que iniciamos este artigo. Infelizmente, em meio a uma rotina produtiva massacrante, são raros os colegas que conseguem diferenciar um profissional do outro.
O papel do sindicato
O fato é que – concursados ou comissionados (não é isso que importa neste debate) – os jornalistas que atuam em assessorias de imprensa não podem discriminar os companheiros de profissão, sob pena de atestarem a falta de transparência nas ações públicas.
Mas, não é apenas na relação com o poder público que os jornalistas sul-mato-grossenses são intimidados em sua prática profissional. Isso ocorre constantemente nas próprias redações, embora a maioria prefira calar para manter seus empregos em um mercado tão restrito. É comum no estado, por exemplo, a “espionagem” de conversas particulares dos jornalistas em suas redes sociais por meio de programas de captura de imagem de telas. Alguns jornalistas em cargos de chefia utilizam este recurso para “acompanhar” a opinião dos subordinados sobre questões políticas ou mesmo pessoais.
Mais comum ainda é a prática obscena – e que agride diretamente a liberdade de consciência dos jornalistas – de obrigar o profissional a exprimir opiniões em seus perfis particulares nas redes sociais ou subscrever reportagens editadas para refletir a opinião do dono do jornal/site. Estes dias, em um grupo de jornalistas no Whatsapp, os colegas discutiam a conveniência de ser ou não filiado ao sindicato. Muitos argumentaram que não eram sindicalizados devido à falta de ação do sindicato. Ora, o sindicato é uma entidade formada por pessoas, e não uma “instituição por si só”. Hoje, o Sindjor-MS possui pouco mais de 50 filiados ativos em um universo de centenas de profissionais atuantes no mercado. Não é o sindicato que “age”, mas sim os profissionais sindicalizados. Sem compreender este raciocínio simples, casos como o da Marithe – e como os que ocorrem dentro das redações – continuarão acontecendo constantemente em Mato Grosso do Sul, apesar da indignação momentânea que suscitam.
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Victor Luiz Barone Junior é jornalista