Teria algum imigrante documentado sua viagem para a Europa no Instagram? Teria um menino sírio conseguido salvar um amigo do perigo debaixo de uma saraivada de balas? Teria um par de mágicos conseguido a foto definitiva de uma bomba por meio de um truque numa reportagem feita do lado de fora do Parlamento?
A resposta a todas essas perguntas – tão importantes quanto as matérias – é um inequívoco “não”. E alguma das mais respeitadas organizações jornalísticas “caiu” nos trotes? Infelizmente, a resposta é “sim”.
O fator “bom demais para ser verdade” de uma matéria assombrosa deveria ser o primeiro sopro de suspeita para qualquer jornalista. Mas a pressão comercial do aproveitamento do tráfego na internet e compartilhando as redes, alguns pontos essenciais da checagem podem ser esquecidos.
Acrescente as redes sociais ao fato de que existem hoje mais smartphones do que pessoas no mundo, temperadas pelo instinto natural humano de compartilhar os boatos para dar um sentido ao trauma, e a receita para a desinformação está pronta.
É evidente que, em situações como essa, as organizações jornalísticas deveriam orientar o público. Afinal, sua reputação baseia-se no fato de serem capazes de oferecer aos leitores informações relevantes, úteis e corretas.
Porém, à medida que cresce o ritmo das inovações tecnológicas e da evolução nas comunicações digitais, constata-se a ausência de regras estabelecidas para lidar com um problema que vem evoluindo ao longo de décadas – ou talvez séculos – antes que a internet mudasse tudo.
Guia cobre vídeos e fotos
Nas últimas semanas, sócios da First Draft Coalition trabalharam juntos para criar um guia para checagem que esperamos que ajude em situações como essa – os jornalistas podem guardar esse guia de orientações e recorrer a ele sempre que for necessário.
O guia segue os mesmos passos de verificação e fundamentos sobre os quais já discorremos anteriormente – garantindo que fonte e conteúdo sejam profundamente examinados, ao longo de cinco passos. Eles são os seguintes:
Você tem em mãos a versão original?
Você sabe quem captou o conteúdo?
Você sabe onde o conteúdo foi captado?
Você sabe quando o conteúdo foi captado?
Você sabe por que motivo o conteúdo foi captado?
Devido à dificuldade de garantir que algo enviado por terceiros seja 100% legítimo, anexamos a esses passos um sistema que permite estabelecer se algo pode ser publicado.
Você teve como checar as informações do arquivo de imagens? Você falou com a fonte? Você fez uma checagem dupla dos pontos de referência com mapas disponíveis e imagens de satélite? O tempo no conteúdo combina com o do dia em que a fonte diz ter sido captado?
O guia cobre tanto conteúdo de vídeo quanto de fotos e está disponível para baixar na internet, imprimir e dobrar num livreto do tamanho do bolso para uma referência fácil – e também pode ser impresso numa folha inteira.
Notícias de última hora são um serviço vital
Pegue aqui a foto de uma folha inteira do guia de verificação, aqui o vídeo de uma folha do livreto e aqui o guia do livreto de tamanho duplo(acompanhando estes passos para, em seguida dobrá-lo para usar). Você também pode checar estes posts da Medium para ver o guia de fotos e o guia de vídeos por inteiro.
Com anos de experiência sobre o assunto, o pessoal do First Draft tomou a precaução de escrever previamente sobre como construir os processos de verificação num ritmo de trabalho de uma redação, a ética e as responsabilidades de usar a mídia como testemunha e como reconhecer trotes digitais na internet, o que pode ser útil.
Estes artigos fazem parte de uma coleção crescente sobre o assunto, a coleção Medium, que irá continuar com o lançamento do site FirstDraftNews.com nas próximas semanas. O guia de verificação é o primeiro de vários recursos que divulgaremos para também dar assistência a essa área.
Como nós próprios somos jornalistas, sabemos que há uma moçada na profissão que nem sempre aceita emendas ou recomendações, mas esperamos que, de alguma forma, isto possa ajudar a indústria jornalística a navegar no campo minado da desinformação que a internet cria.
Mais do que nunca, as notícias de última hora ainda são um serviço público vital. Mas isso de nada adianta se o que você estiver divulgando for falso.
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Alastair Reid é secretário de redação do Fisrt Draft News