Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A iniciativa de um site colombiano para deter as fake news

O Facebook  “lavou as mãos” para as chamadas fake news disseminadas via WhatsApp. Mas isso é um problema, pois o aplicativo vem ganhando relevância entre usuários que se informam pelo conteúdo compartilhado. A boa notícia é que um jornal colombiano mostra que é possível remar contra a maré de boatos

“Vacina aplicada contra a febre amarela é veneno mortal”. “Trinta crianças foram envenenadas por participante do jogo Baleia Azul”. “Polícia Militar no Rio entrará em greve”.

Difícil não ter esbarrado com pelo menos uma dessas notícias em grupos de WhatsApp nos últimos meses, certo? Pois é, todas foram compartilhadas no aplicativo por diversos usuários, e algumas chegaram a ser publicadas em veículos de comunicação conhecidos nacionalmente. Em comum, além de terem provocado pânico, está o fato de que foram inventadas.

Informações falsas disseminadas na internet é uma dor de cabeça antiga. Mas com a multiplicação dos smartphones, a partir do início desta década e, consequentemente, de aplicativos de troca de mensagens, como WhatsApp, o prejuízo das chamadas fake news ficou maior. Principalmente, quando o app é considerado fonte de informação por muitos usuários.

Mais de 40% dos usuários de redes sociais já compartilharam notícia falsa

O relatório anual sobre jornalismo digital do Instituto Reuters, da Universidade Oxford, na Inglaterra, afirma que, no Brasil, cresceu em 7% o número de pessoas que se informam via WhatsApp. Enquanto houve queda de 12% entre os que preferem o Facebook, rede social criada pelo americano Mark Zuckerberg, que também é proprietário do WhatsApp.

Mesmo com a queda, o Facebook ainda está à frente, com 57% da preferência dos usuários na hora de buscarem notícias, ante 47% que citaram o WhatsApp. Mas o aplicativo de mensagens vem ganhando terreno, segundo o estudo, pois são “mais privativos”, permitindo compartilhar em pequenos grupos, sem constrangimento.

O problema é que as pessoas estão disseminando informações sem se perguntarem se aquilo é mentira ou não. Um comportamento, digamos, comum numa era de pós-verdades. Isso é o que mostra o resultado de um outro levantamento, desta vez feito pelo aplicativo BonusQuest. De acordo com o estudo, 42% dos usuários de redes sociais assumem já terem compartilhado notícias falsas.

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Há uma solução?

Até agora não é possível contar com o Facebook, empresa dona do WhatsApp, para travar a disseminação de mentiras no formato de correntes. A rede social “lavou as mãos” para o problema, alegando que o app de troca de mensagens é criptografado, o que não permite, por exemplo, acesso ao conteúdo compartilhado. Coube, então, a um jornal colombiano tentar remar contra a maré de boatos.

No início deste ano, o La Silla Vacía, um site de notícias, com aproximadamente 550 mil leitores mensais, lançou o Detector de WhatsApp, um serviço que verifica as correntes de mensagens virais. Funciona assim: quando usuários se deparam com alguma notícia que levanta suspeita, os leitores podem enviar um print da tela do celular com a informação que gostariam que fosse checada.

Para isso, a notícia a ser analisada precisa atender a três critérios: ser de interesse público; estar ligado à política ou ao poder na Colômbia; e que não seja uma teoria da conspiração, ou seja, que possa realmente ser verificada.

90% do conteúdo é falso

O resultado, até agora, mostra que o trabalho da equipe é fundamental. De acordo a diretora do jornal, Juanita León, o canal recebe 15 correntes por semana, sendo que 90% do conteúdo analisado é mentira. A única contrapartida exigida é que o usuário, após a checagem e comprovação de que um assunto é boato, tente espalhá-lo ao máximo.

Como a demanda tende a aumentar, a ideia é que no futuro o serviço seja ampliado. O noticiário colombiano pretende, além de checar discurso de autoridades, investigar vídeos, mensagens de áudio e memes enviados pelo WhatsApp.

No Brasil, nenhum jornal tem serviço semelhante. Há, porém, iniciativas recentes de sites e agências especializadas em checagem de informação, como a Agência Lupa e a seção Truco da Agência Pública. Ambas averiguam informações disseminadas em sites e redes sociais. Um trabalho importante da Agência Pública, neste ano, foi a investigação sobre um suposto aumento no imposto de renda que viralizou via WhatsApp, e era mentira.

Zuckerberg sabe que tem um problema nas mãos e que será preciso criar estratégias para dar credibilidade às notícias disseminadas via WhatsApp. Até agora, a única providência de Zuck foi criar um processo de checagem de informações na rede social mais famosa do mundo: o Facebook. O sistema foi implantado neste ano, após acusações de que a disseminação de fake news interferiram no resultado das eleições americanas.

A preocupação é urgente. A pouco mais de um ano das eleições presidenciais no Brasil, será que mentiras espalhadas via WhatsApp poderiam ter influência no pleito?

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Renan França é jornalista, e foi repórter de O Globo e das revistas Exame e Veja Rio