Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um manifesto de consciência

Sou químico, formado pela Unicamp, onde também desenvolvi a dissertação de mestrado (em História da Química) e a tese de doutorado (em Engenharia de Materiais). Atualmente sou professor. Nesta semana, a revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do mundo, publicou uma notícia relatando a situação de paralisação da ciência brasileira . As palavras usadas no artigo são fortes e incisivas: “A situação é negra. Precisamos fazer de tudo para salvar a ciência brasileira” (Vasco Azevedo, geneticista da Universidade Federal de Minas Gerais).

O que podemos fazer, como país, unidos por uma causa tão nobre, como é a ciência, para, literalmente, salvá-la? Um país sem ciência é como um cego sem guia, como um grito sem voz numa sociedade cujos joelhos estão dobrados para muitas das ilusões do Facebook, WhatsApp etc. Com efeito, é a ciência (e, consequentemente, a tecnologia) que deve ser o motor de uma economia saudável, consciente e fecunda. Estamos vivendo dias tristes e dolorosos no Brasil. Como negá-los? No entanto, a história universal não se cansa de mostrar exemplos de superação, onde o sofrimento se transforma, justamente, no combustível capaz de arrebatar consciências, em nome de um bem maior e comum.

Não é a ciência o “bem por excelência” de uma sociedade? Os avanços extraordinários da medicina, que salvam vidas e minimizam a dor, a beleza da ciência dos materiais, a profundidade da astrofísica e a riqueza transcendente da matemática pura e da sua relação com a bioinformática são apenas alguns pontuais exemplos. O Brasil, “gigante pela própria natureza”, que em tantas ocasiões despertou, triunfante, para lutar por valores tão nobres como a liberdade e a paz, poderia muito bem, mais uma vez, ter sua consciência coletiva despertada para “salvar a ciência” brasileira. É digna de nota a gravidade do termo usado pela revista Nature: “salvar a ciência”.

Como professor, penso em uma mobilização mais interior, discreta, simples e consciente. Porém, talvez, poderosa, fecunda e de grande impacto, por ser um manifesto de consciência que, por sua natureza interior, pode, também, mobilizar as mentes de “dentro para fora”, visando um objetivo nobre: “salvar a ciência” brasileira. Que estas palavras não morram sem dar frutos. Que este sentimento fique impresso nas consciências, em um sinal sincero de solidariedade com todo o povo brasileiro, que está sofrendo profundamente neste momento da História. Salvemos, juntos, a ciência brasileira.

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Reinaldo Ricchi Jr. é professor