A tragédia na Ásia revela o quanto somos impotentes diante de eventos naturais aparentemente incontroláveis. O planeta fervilha de vida como um único formigueiro high-tech. Viajamos de um lado ao outro do globo em aviões e barcos modernos e confortáveis, usamos celulares que transmitem fotos, colecionamos imagens dos confins do universo captadas pelo telescópio Hubble e acessamos bilhões de informações em tempo real na internet. A tecnologia conspira para nos fazer acreditar que somos invulneráveis? A natureza se encarrega de provar que não passamos de insetos frágeis diante do imponderável!
Por mais que valorizemos o trabalho dos jornalistas de explicar, contextualizar e interpretar a catástrofe, escapou a todos que as imagens falam por si. Ao vê-las na TV muda (deveríamos fazer mais isto, para poder formar nossa própria opinião sobre o que vemos sem a mediação jornalística), só duas frases me ocorreram: ‘Viver é muito prazeroso’, ‘viver é cada vez mais muito perigoso’.
Neste formigueiro high-tech em que se transformou o mundo, dezenas de milhares de pessoas podem ser reduzidas a pó como se fossem formigas. E milhares de outros insetos assistem passivamente a tudo sem se dar conta que poderiam estar no lugar das vítimas. O mais curioso, entretanto, é que há governos que, em vez de socorrer os necessitados, investem bilhões de dólares todos os anos em pesquisa e desenvolvimento para usar militarmente o potencial destrutivo da natureza.
‘No futuro, os planejadores militares não se verão mais limitados pelos padrões climáticos existentes – serão capazes de providenciar aqueles de que desejarem dispor ou que quiserem fazer recair sobre o inimigo. Ordenarão tempestades, e seus técnicos meteorológicos irão abrir a torneira das chuvas e assim criar uma barreira artificial para deter as colunas blindadas adversárias. Convocarão nevascas e depois inserirão uma canícula repentina, para derreter o gelo acumulado e inundar uma região inteira. Destruirão safras com granizo, usarão a seca para fazer o inimigo passar fome até render-se ou queimarão as florestas dele com descargas elétricas artificiais’. (Erik Durschmied, Como a Natureza Mudou a História, Ediouro, 2004).
Se você acredita que o autor deste texto é um doente mental pode estar enganado. Abaixo relacionamos alguns dos projetos militares americanos envolvendo o controle e a manipulação de fatores climáticos:
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Projeto Prime Argus – criado para produzir terremotos artificiais.**
Projeto Skyfire – visa controlar e usar militarmente tempestades elétricas.**
Projeto Spacecast 2020 – com o objetivo de controlar o clima (http://www.fas.org/spp/military/docops/usaf/2020) e (http://www.fas.org/spp/military/docops/usaf/2020/csaf.txt)**
Projeto Haarp – desenvolvido para compreender, simular e controlar processos ionosféricos com o intuito de afetar sistemas de comunicação e vigilância (http://www.haarp.alaska.edu)As iniciativas americanas nesta área têm sido tão sérias que em 1994 a ONU proibiu o ‘uso de técnicas de modificação ambiental para destruir, prejudicar ou lesar outros Estados’. Mas é claro que os ocupantes da Casa Branca devem ter ignorado a recomendação, pois há bastante tempo não estão mais comprometidos com o multilateralismo ou com o humanitarismo.
Se fiz um longo desvio, perdoe-me o leitor. Este desvio era absolutamente necessário. A tragédia na Ásia assombra, mas confesso que não é uma catástrofe natural que mais me abala. O que me deixa realmente indignado é o desperdício de recursos tecnológicos e econômicos em pesquisas militares para tentar usar o já destrutivo poder da natureza para fins militares. Recursos estes que poderiam muito bem ajudar a prevenir, minimizar e remediar tragédias naturais imponderáveis e inevitáveis.
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Advogado, Osasco (SP)