Sempre comentei com amigos que um dia ainda vou comprar uma espingarda de cano duplo para exterminar duplas caipiras com um tiro só. Ando desejando o lançamento de espingardas de cano triplo, para incluir entre os alvos alguns ecologistas. Pode não ser politicamente correto, mas convenhamos, não é possível calma e bom senso com a hipocrisia reinante, em especial dos ecologistas. A título de ‘defender o mundo’, já que anunciaram o fim do mundo em 2 de fevereiro último, os grupos ambientalistas estão ‘botando pra quebrar’.
A grande mídia nacional é verde, ecologista, ambientalista, e tem alguns ecologeiros no meio dela. Tornou-se modismo repetitivo e monocórdio falar em preservação do meio ambiente, e com isso as palavras mais reproduzidas na mídia nacional hoje em dia são ‘sustentabilidade’ e ‘responsabilidade social’, ao lado de ‘aquecimento do planeta’. Desde que se anunciou o aquecimento do planeta, não se fala de outra coisa. Como em quase todos os temas abordados pela grande mídia fala-se muito nas conseqüências e nada ou quase nada sobre as causas. Na questão do aquecimento a mídia bateu mais perto, pois os cientistas disseram que o grande culpado dessa história é o ser humano. Mas ficou por aí.
Soluções na grande mídia
Então tá bom, somos todos culpados. Mas, e daí? O que é que nós vamos fazer para resolver o problema? Nada, absolutamente nenhuma proposta, nenhum debate. Nesse meio tempo algum ecologista e publicitário sacou a história de cada um medir as suas despesas e gastos em CO2 (carbono), independentemente de o sujeito usar carro próprio ou andar de ônibus, desde que consuma qualquer coisa, basta ser um fumante ou usar luz elétrica, esse ser é um poluidor, e pode pagar sua dívida ambiental plantando árvores.
Muitas empresas abraçaram a idéia e tem ONG, ecologista e publicitário faturando milhões, vendendo plantio de árvore a granel no futuro breve, e daqui a pouco esse negócio entra na BM&F como commodity, posto que virou uma epidemia incontrolável, o que é mais do que modismo, e periga obter mais sucesso nas bolsas do que a compra e venda do crédito de carbono.
Ao pagar para plantar uma árvore o urbano não suja as mãos de terra, e ‘compra sua entrada no céu’, paga penitência pelos seus gastos, aplaca a própria consciência, assim como algumas empresas (que são verdes só na publicidade…) estão fazendo. E chove press release nas redações informando notícias sobre empresas com ‘responsabilidade social’, que têm preocupação com a sustentabilidade do planeta.
Mas a causa do problema nenhum jornal debate, ninguém fala. A mídia parece adormecida para os grandes problemas da sociedade. Assim, é pertinente que o Observatório de Imprensa faça uma enquete sobre se a mídia provoca um debate na sociedade sobre os nossos grandes problemas. Mais de 85% dos votos registrados indicam que não.
Está ruim a situação? A poluição? O aquecimento do planeta preocupa as pessoas? Pois vai piorar. Há 6 bilhões de pessoas no planeta, mas imagine quando formos 9 bilhões de habitantes, previsto para dentro de no máximo 50 anos. Serão 50% a mais de pessoas no planeta para comer, gastar combustível, energia elétrica, consumindo tudo aquilo que o planeta já demonstra que não tem capacidade de nos abastecer. O planeta se esgota, e informa que não terá capacidade de prover todas as necessidades humanas. O petróleo tem data marcada para acabar: no máximo em 50 anos, considerando o crescimento atual da população.
Sinais do fim do mundo
Cafezais (plantas perenes) de São Paulo e Minas Gerais apresentaram floradas extemporâneas no último fim de ano, algo nunca observado. Indica que a próxima safra será menos produtiva. Outras perenes, frutíferas em especial, demonstram o mesmo comportamento em várias regiões do país. Sabe-se que as plantas possuem alguns ‘indicadores’, mais sensíveis que os nossos indicadores humanos, e com o aquecimento elas florescem, pois as flores indicam frutos antecipados, e nos frutos está a garantia da sobrevivência da espécie. Nas plantas perenes esse é um efeito, segundo os cientistas, do pequeno aquecimento que já tivemos.
Sabe-se pouco sobre o que acontecerá com as plantas anuais. Algumas não produzirão nada, o certo é que a ciência agronômica deverá trabalhar muito para desenvolver variedades novas das culturas anuais, e que suportem as futuras temperaturas, e isso é possível. Custa caro e leva tempo, mas é viável. Nas perenes não, leva de 5 a 7 vezes mais tempo. Dentre as culturas anuais estão 98% dos nossos alimentos de origem vegetal: arroz, feijão, soja, milho etc. As perenes terão de mudar para climas menos quentes.
Precisa falar ainda em aquecimento? Em aumento do nível dos mares? Em ausência de água potável e de comida no futuro breve? Acredito que não seja necessário. Acho que as soluções não são via campanhas publicitárias e, muito menos ainda, por ‘ações ecológicas’. Plantar milhões de árvores por ano pode apenas amenizar esses problemas da poluição e do aquecimento.
Na verdade o planeta deve encontrar, em caráter de urgência, fórmulas para reduzir o crescimento demográfico, esse sim o único caminho para minimizar o sofrimento das gerações futuras. Não é possível que jovens de classe média em São Paulo, e Brasil adentro, tenham nos planos de sua vida, para dentro em breve, ter um segundo ou terceiro filho, sob o argumento de que ‘eles vão precisar de companhia e de família no futuro’. Em paralelo, parafraseando o compositor Chico Buarque, ‘quem pode tem 1 ou 2 filhos, quem não pode tem de 4 a 6 filhos, ou mais’.
Ignoram-se as causas e as manchetes
O mundo inteiro preocupa-se com a mudança climática, segundo uma pesquisa internacional, mas não tem pressa. Não há maiorias claras sobre a necessidade de se tomar medidas imediatas e caras. A pesquisa, coordenada pelo Conselho de Chicago sobre Assuntos Mundiais, contou com a participação de vários institutos de pesquisa de 17 países selecionados, que concentram 55% da população mundial.
Pois 92% dos entrevistados na Austrália se mostram a favor de medidas imediatas para combater o aquecimento, a maior proporção entre todas as nações analisadas. A seguir vêm China, cuja política ambiental costuma ser questionada, e Israel, ambos com 83% dos entrevistados a favor de se tomar medidas imediatas. No outro extremo está a Índia, com apenas 49% dos entrevistados a favor de medidas imediatas e 24% contra.
Apesar dos resultados um em cada quatro entrevistados acha que ‘enquanto não estivermos seguros de que o aquecimento global é um verdadeiro problema, não devemos tomar medidas que teriam custo econômico’. Isso indica que boa parte dos pesquisados ainda não crê neste fenômeno climático como fato cientificamente comprovado, manifestada pela maioria dos especialistas. As nações com maior proporção de gente contra a adoção de medidas são Índia, com 24%, Rússia com 22% e Armênia com 19%. Os países com menor percentual de opiniões contra ações são Argentina com 3% e Tailândia com 7%. No Brasil nem houve entrevistas.
E a mídia? E os ecologistas?
Aparentemente agem em dupla. Os ecologistas descobriram que a melhor maneira de travar qualquer ação que julguem prejudicial ao meio ambiente é através da justiça brasileira, lenta e burocrática. Inúmeros fatos são registrados diariamente na grande mídia, a começar pela maratona destrambelhada da CTNBio em relação aos transgênicos. Tudo com o aval do Ministério Público Federal, cujos promotores chegam até mesmo a tomar a iniciativa de tumultuar as reuniões dos cientistas, ou seja, comparecem às reuniões para gerar um fato, testemunham e opinam em favor desse fato que eles mesmos criaram, em companhia de alguns ecologistas, para que uma reunião seja cancelada. E geram liminares, extrapolam suas funções.
Desejam mudar as regras do jogo, pois não basta a votação que uma maioria simples determine que sim ou que não. Na opinião dos ambientalistas deve ser como antes, de 2/3 dos votos. Dessa forma, adiam o uso legal dos OGMs e provocam o atraso de nossa agricultura, que perde competitividade. Os OGMs, ou transgênicos, viraram sinônimos de algo ruim para as pessoas comuns, que nem sabem o que significam, mas são contra.
As ações dos ecologistas são sistêmicas. Cada grupo ataca num segmento. Para abrir uma estrada, ou fazer hidrelétrica, precisa de estudo de impacto ambiental. Mas o povo que mora em periferias cada vez mais distantes exige luz elétrica, asfalto, saneamento, ônibus, escola, hospital.
Ano passado invadiram a fazenda experimental da Syngenta no Paraná. Depois de desocupada por ordem judicial o governador mandou desapropriar, e a disputa na justiça tem a velocidade das carroças. Agora deram um jeitinho de fechar o porto da Cargill, no Pará, com apoio formal do Ibama, sob a desculpa de que sua existência ‘incentiva’ o plantio de soja na Amazônia. Não terá sido o contrário? Não, qualquer desculpa serve.
Não bastassem as trapalhadas que os ecologistas provocam no uso da água para irrigação, pois obter a outorga é caríssimo e demorado, e exige estudos de impacto ambiental, existe ainda a confusão que se faz entre Amazônia real e Amazônia legal. Culpa dos legisladores, e que facilita a ação dos ecologistas e até mesmo dos consumidores europeus de nos acusarem de criar bois e de plantar soja, e em breve a cana, e com isso destruir a Amazônia. A grande mídia deveria informar que Cuiabá, por exemplo, está na Amazônia legal, mas não faz parte da Amazônia. Ou vão deixar essa comunicação para a flatulência dos ruminantes, que vem sendo apontada de forma irresponsável como uma das causas mais importantes da destruição da camada de ozônio? Para mostrar coerência de atitudes os ecologistas deveriam se converter em vegetarianos, e os problemas seriam minimizados.
A grande mídia, em nome da defesa do meio ambiente, que é uma atitude nobre, pratica o ‘me engana que eu gosto’. É politicamente correta. Não estaria na hora de discutir essa relação entre produtores de alimentos e ecologistas? Compatibilizar é um verbo difícil de conjugar, é mais fácil conjugar os verbos acusar, proibir, prender, dificultar, atrapalhar. Se já temos o perigo da fome rondando o mundo, com a ação desenfreada dos ecologistas não precisa ter bola de cristal para prever que a situação vai deteriorar rapidamente. Com a hipocrisia reinante vai azedar.
É possível o equilíbrio, desde que os índices demográficos sejam reduzidos, e desde que haja um amplo debate da relação desenvolvimento e sustentabilidade. Se não se discutir a relação não há solução. Ou que se desenvolva urgentemente a espingarda de cano triplo.
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Jornalista, publicitário, escritor e consultor de marketing; editor da revista DBO Agrotecnologia e autor dos livros Marketing da Terra e Marketing Rural: como se comunicar com o homem que fala com Deus