Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Médicos jogaram fora a palavra da classe

Há coisas que ofendem o bom senso. A CIA usou a imprensa para criar no povo americano a idéia de que Saddam possuía armas de destruição em massa e que era uma ameaça aos EUA. Caiu em desmoralização ao mentir por questões de Estado. O arcebispo de Boston, Bernard Law, durante 40 anos acobertou denúncias contra 70 padres acusados de abusos sexuais contra crianças. Deixa a congregação pior do que se houvesse agido em prol da verdade. Laudos da tortura sob o regime militar sempre foram vistos com descrença.

Agora, no programa Fantástico, soubemos que a imprensa foi mais uma vez usada: os médicos que atenderam o falecido Tancredo Neves aplicaram mentiras ao público. O médico tem a garantia ética de não ser obrigado a soltar boletim sobre a saúde de seus pacientes, tenham o status que tiverem. Mas usar a imprensa para difundir falsos boletins e desinformação é deveras preocupante para a classe médica como um todo. Quando um repórter pode ter certeza que um médico está falando a verdade e está sabendo o que diz?

Vinte anos depois, os colegas que se atrapalharam na condução do caso vêm a público revelar que, além de não saberem o que ocorria com o paciente, ainda usaram da mentira. Um suposto golpe de estado nunca cogitado pela mídia, visto que o presidente José Sarney já assumira o cargo. Depois desta absurda conduta que ofende a imprensa e a classe médica, quem vai acreditar em boletins médicos, que podem estar escondendo ‘razões de Estado’, interesses pessoais ou imperícia? Mesmo que estivesse ameaçada a posse do presidente Sarney, não poderiam os médicos ter jogado fora a palavra de uma classe por interpretações subjetivas e de resultados piores ainda. Ditaduras vão, mas a profissão milenar permanece!

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Médico, Porto Alegre