Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O destino de Plutão

Tantas notícias na Terra… e a mídia abre espaço para o triste destino de Plutão: no dia 25 de agosto, capa da Folha de S.Paulo, do Estado de S.Paulo, de O Globo e do Jornal do Brasil. Estaremos, conforme poetizou Drummond (O homem; as viagens), buscando na lonjura sideral pretextos para evitar a dangerosíssima viagem ao coração humano?

De fato, muitos terráqueos estão vivamente interessados em Plutão. Eu entre eles.

Há, por exemplo, uma discussão na astrologia. Ricardo Feltrin, editor-chefe da Folha Online, revela ser estudioso do tema há quase três décadas – ‘Plutão está no mapa astral de todas as pessoas’ (Rebaixamento de Plutão). E afirma que talvez ele queira vingar-se da humanidade que o despreza…

Outra discussão, filosófica, levou o prof. Paulo Ghiraldelli Jr. (recebo em minha caixa postal seus artigos eletrônicos, regularmente) a citar o velho filólogo Nietzsche, que ironizava a arrogância dos físicos ao definirem as ‘leis da natureza’.

Plutão tornou-se planeta em 1930. Agora, tornou-se o quê? Planeta nanico? Tem sua graça o fato de essa decisão ser tomada pela UAI (União Astronômica Internacional). Uai? Ou, se é verdadeira a intuição etimológica: why?

Para a mitologia greco-romana, estamos nos metendo com a religião dos mortos. Rei dos infernos, Plutão vive nas entranhas da Terra-Mãe, que protege as sementes, riqueza do solo. Paradoxo. Plutão, anfitrião dos defuntos, é o dispensador da boa colheita. Personificação da riqueza. Por isso, a plutocracia deveria se manifestar contra os astrônomos. Os plutocratas influenciam os destinos da sociedade por força do dinheiro que possuem. Como permitiram que seu planeta despencasse na Bolsa de Valores Universal?

Senhor da hermenêutica

Não tenho o saber científico de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Ulisses Capozzoli e Marcelo Gleiser para discutir o destino de Plutão. Seria mais sensato eu me voltar para os diálogos de Platão, ou ficar lendo as historinhas de Pluto, rebaixado a cão, ao passo que o Pateta, embora seja cão também, fica em pé, fala e até tirou carteira de motorista.

Em que altera o destino do nosso pequeno mundo o destino do pequeno Plutão, este deus de excêntrica órbita? E como estarão se sentindo Netuno e Júpiter, Urano, Vênus e Marte depois desta soberana decisão dos mortais? Quem estará seguro no Céu a partir de agora, uai?

Ó Mercúrio, senhor da hermenêutica, mensageiro do Olimpo, deus da comunicação e padroeiro dos jornalistas, guiai-nos!

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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)