O Urso de Ouro do 66.Festival Internacional de Cinema de Berlim foi para o filme “Fuocoammare” (Fogo no Mar), do italiano Gianfranco Rosi com seu documentário filmado em Lampedusa, onde chegam os barcos vindos da África com migrantes, saindo da Líbia.
Exibido logo no começo do Festival, “Fuocoammare” tinha divido os críticos, pois o documentário inclui um garoto Samuel, preocupado com fazer e usar um estilingue e em dar uma volta de barco com seu amigo. Aparece também um mergulhador e algumas cenas submarinas. Tanto o garoto como o mergulhador mostram, argumentou Rosi no encontro com a crítica, que apesar da chegada de tantos imigrantes e da ocorrência quase diária de naufrágios e afogamentos, os habitantes de Lampedusa vivem sua vida normal.
O Urso de Melhor Interpretação foi para o ator Majd Mastoura, no papel principal do filme tunisiano “Hedi”, de Mohamed Ben Attia, um jovem protegido pela mãe que lhe escolheu inclusive a futura esposa. Às vésperas do casamento, Hedi descobre um jovem tunisiana fora dos padrões muçulmanos, vive algumas noites ardentes de amor, decide partir com ela para a França e recomeçar uma nova vida. Mas na hora H, chega atrasado no aeroporto e sem mala, para dizer ter decidido ficar. Vivendo sob a proteção da mãe e com casamento arranjado, vive a situação real de grande parte das mulheres tunisianas. Por coincidência, o filme documentário do americano Michael Moore, “Onde Será a Próxima Invasão”, fora da competição, refere-se à atual situação da mulher tunisiana, onde as mulheres conseguiram obter na Constituição o reconhecimento da igualdade total com os homens.
Este mesmo filme, “Hedi”, de Mohamed Ben Attis, ganhou o prêmio de Melhor Primeiro Filme.
O Urso para a melhor atriz foi para a atriz dinamarquesa Trine Dyrholm, no filme “Comunidade” (Kollektivet), mostrando a criação de uma comunidade, numa grande casa recebida de herança, o bom funcionamento inicial mas o gradativo aparecimento de problemas, mostrando a dificuldade do convívio e como nem sempre o coletivo funciona.
O premio para a Melhor Direção foi para a jovem realizadora do filme “O Futuro” (L´Avenir), Mia Hansen-Love, nascida em Paris. Conta a história de um professora de filosofia num liceu parisiense, que vive num meio intelectual, mas enfrentando o problema da solidão, quando o marido a abandona por outra. Um filme feito por mulher para mostrar como reagem as mulheres em tais situações. A personagem é vivida pela atriz Isabelle Huppert, que era bem melhor com Chabrol, por se revelar, neste filme, um tanto fria num papel familiar.
O premio da Melhor Câmera foi para o chinês Mark Lee Ping-Bing, no filme de “Yang Chao, CrossCurrent”, uma viagem num pequeno e velho navio cargueiro pelo longo rio Yangtzé.
O prêmio de melhor roteiro foi para o realizador polonês Thomasz Wasilewski, com seu filme “Estados Unidos do Amor”, mostrando a vida diferenciada de quatro mulheres polonesas no fim do comunismo na Polônia.
O Premio Especial do Júri foi para o filme “Morte em Sarajevo”, de Danis Tanovic, nascido em Zenica, na ex-Iugoslávia. Um filme que reúne a comemoração sérvia do assassinato em 28 de junho de 1914, do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono do Império Áustro-húngaro, desencadeador da Primeira Guerra Mundial e o lançamento de uma greve dos empregados no Hotel Europa, por falta de pagamento.
O Urso de Prata prêmio Alfred-Bauer por uma contribuição à uma nova perspectiva no cinema, foi para o cineasta filipino Lav Dias, com seu filme de oito horas “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”.
O Urso de Ouro para o Melhor Curta-Metragem foi para o filme português “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles.
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Rui Martins é jornalista e cobriu o Festival Interncional de Cinema em Berlim