A cineasta brasiliense Maria Augusta Ramos vai receber do Fundo Mundial de Cinema o equivalente a cem mil reais, para terminar seu filme “O Processo”, um documentário sobre o processo do impeachment de Dilma Rousseff.
O Fundo Mundial de Cinema é uma iniciativa conjunta do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, com o governo alemão e o Instituto Goethe.
Paralelamente, Maria Augusta Ramos tinha obtido o equivalente a 30 mil reais numa campanha de levantamento de fundos (pela Kickante) para montar “O Processo”, depois de mais de 450 horas de filmagens na Câmara, Senado, durante o impeachment, incluindo entrevistas e cenas com Dilma Rousseff e o ex-ministro da Justiça José Cardoso. A cineasta não quis tentar financiamento do filme pela Lei Rouanet.
Durante o processo do impeachment, Maria Augusta Ramos tinha afirmado estar pagando do seu próprio bolso as despesas com as filmagens em Brasília.
Documentarista, com um estilo próprio, influenciado por seu professor holandês Johan van der Keuken, ela não pretende fazer ficção, sentindo-se mais atraída pela realidade que busca retratar nos seus filmes.
Seu novo documentário, “O Processo”, com finalização prevista para 2019, será talvez um dos primeiros a ser projetado sobre a destituição da primeira presidente mulher no Brasil. Outros cineastas, Anna Muylaert, Petra Costa e Douglas Duarte, também acompanharam a crise política e documentaram a queda da presidente. O cineasta braziliense Adirley Queirós foi o primeiro a concluir seu filme, que se transformou numa ficção, “Era uma vez em Brasília”, menção honrosa no Festival de Locarno.
Sem poder fugir à uma tomada de posição, por ter acompanhado o dia a dia do processo da queda de Dilma Rousseff, a cineasta considera o impeachment como um golpe parlamentar da direita.
Maria Augusta Ramos, nasceu em Brasília em 1964, estudou Musicologia em Paris e Londres, formando-se depois em cinema na Holanda, onde viveu. Já conquistou diversos prêmios nacionais e internacionais com seus documentários curtas e longas-metragens. Em 2006, criou a produtora Nofoco Filmes.
Alguns dos filmes por ela dirigidos: “Seca”, “Futuro Junho”, “Morro dos Prazeres”, “Juízo, Justiça”, “Desi, Brasília”, “Um Dia em Fevereiro”.
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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.