Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Greve em Hollywood repercute no Festival de Locarno

(Foto: Reprodução)

A greve dos atores, realizadores e roteiristas em Hollywood, por melhores salários e por maiores garantias diante dos riscos representados pela chegada da inteligência artificial, é o começo de uma crise existencial do cinema. Não se pode ignorar a força dos sindicatos dessas categorias, reunindo algumas centenas de milhares de artistas.

Essa greve hollywoodiana chegou também ao Festival Internacional de Cinema de Locarno, que começa hoje. Entretanto, garante a direção do Festival, apesar da ausência de alguns atores e diretores, será mantida a exibição dos filmes programados, cujos títulos já foram divulgados, a partir de hoje até ao dia 12, em Locarno.

A questão da remuneração dos artistas em geral, criadores e intérpretes, é decorrente da revolução ocorrida nos últimos anos nos meios de comunicação, mudando a maneira como o grande público vê os filmes e diminuindo a frequência nos cinemas. Muita coisa vai mudar nesse setor, inclusive o hábito de se ir ao cinema, provocando uma crise econômica nas redes de exploradores de salas de projeção. Crise que poderá também afetar os próprios festivais de cinema. Todos os cenários são possíveis sobre as maneiras de se fazer cinema, de se ver os filmes e sobre os atores humanos e virtuais.

Além de uma queda substancial nos seus salários decorrente da inflação sem ter havido compensações e ajustes, da ameaça da concorrência de novos atores virtuais com a clonagem de suas vozes criados pela introdução da inteligência artificial nos estúdios, os atores protestam, em particular, contra a queda de sua remuneração “residual”, devido a cada reprise de um filme ou série, causada pelo streaming. Essa perda de ganho ocorre, por exemplo, durante uma passagem televisiva porque, com base no modelo publicitário, esses emolumentos são muito menores para as plataformas, que geralmente não comunicam seus números de audiência.

O ator britânico Riz Ahmed, Prêmio de Excelência Davide Campari, anunciou que não comparecerá à cerimônia de premiação na Piazza Grande na noite de estreia. No entanto, a exibição mundial do curta-metragem “Dammi”, dirigido por Yann Mounir Demange, ocorrerá na noite de 2 de agosto na Piazza Grande, enquanto a exibição de “Mughal Mowgli”, de Bassam Tarik, feito em 2020, também está confirmada, na mostra História do Cinema.

Por sua vez, o ator sueco Stellan Skarsgård, que receberia o Prêmio Leopard Club 2023, renunciou ao seu prêmio em solidariedade ao movimento grevista. Mas Stellan Skarsgård irá a Locarno para apresentar “What Remains “, o filme de Ran Huang lançado em 2022, programado para ser exibido na mostra Fora de Competição. Os outros eventos que marcariam a participação do ator – a cerimônia de premiação na Piazza Grande na noite de 4 de agosto e sua conversa com o público em 5 de agosto – foram cancelados.

A exibição do filme “Theatre Camp” está confirmada e será apresentada pelo co-diretor do filme, Nick Lieberman. Porém, tanto a co-diretora e atriz Molly Gordon assim como os atores Ben Platt e Noah Gavin não estarão presentes em Locarno em decorrência da greve.

O Festival também está discutindo com a equipe do filme “Shayda”. de Noora Niasari,, do qual Cate Blanchett é produtora executiva, para definir os termos de sua participação.

Interpretando a atual greve como reveladora dos males que afligem a indústria cinematográfica contemporânea, o Festival de Cinema de Locarno apela a um diálogo construtivo entre as partes envolvidas e respeita a decisão das personalidades mencionadas.

Nos Estados Unidos, os atores do sindicato Screen Actors Guild e da American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA) juntaram-se aos roteiristas do sindicato Writers Guild of America (WGA) em uma greve contra a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que representa alguns dos principais estúdios de cinema, incluindo Disney, Netflix e Amazon.

A greve dos artistas também obrigou o Festival de Veneza, que este ano completará 80 anos e cujo início será no dia 30 de agosto, a substituir o filme de abertura.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.