Livros e escritores continuam sendo fonte inspiradora de filmes e o próximo Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale) selecionou, para a competição, o que se poderia chamar de um filme literário : a história verídica da disputa entre um grande editor e um de seus famosos escritores.
Genius é o primeiro filme do diretor de teatro inglês, Michael Grandage, e tem como tema as relações tempestuosas entre o editor Maxwell Perkins e o escritor Thomas Wolfe, baseando-se para isso numa biografia de sucesso – Max Perkins : Editor de Gênios, de A. Scott Berg.
O elenco é dos melhores, com Nicole Kidman (Aline Bernstein), Colin Firth (Maxwell Perkins), Jude Law (Thomas Wolfe), Guy Pearce (Scott Fitzgerald), Dominic West (Ernest Hemingway) e Laura Linney. (Não confundir, existem dois Thomas Wolfe na literatura americana : o segundo nasceu em 1931, ainda é vivo e é conhecido como Tom Wolfe, autor de A Fogueira das Ilusões)
O filme ainda inédito tem como cenário a editora americana Scribner, criada em 1846, em Nova Iorque, inicialmente voltada para a publicação de livros religiosos presbiterianos. Scribner tornou-se famosa por ter descoberto os grandes escritores do início do século passado, graças ao faro e à intituição literária de Max Perkins, descobridor de Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Thomas Wolfe e outros que revolucionaram a literatura americana. A direção familar da editora terminou em 1984, quando foi comprada pela Macmillan.
Foi em 1919, que Perkins – interessado em descobrir novos e jovens talentos – teve acesso ao manuscrito de F. Scott Fitzgerald, rejeitado pelos outros colegas editores de Scribner. Com enorme tato, Perkins convenceu Scott Fitzgerald a reescrever o romance, obtendo assim a adesão dos demais editores e publicado, em 1920, sob o título de This Side of Paradise (Este Lado do Paraíso). Perkins deu apoio ao escritor, instável e alcoólatra, na elaboração e finalização de sua obra-prima, Gatsby, o Magnífico.
A amizade com Scott Fitzgerald levou Perkins a conhecer Ernest Hemingway que, na época, 1924, era um jovem colaborador da revista Transatlantic Review. Dois anos depois, a editora Scribner lança o primeiro livro de Hemigway, O Sol Também se Levanta. Os enormes sucessos de Adeus às Armas e Por Quem os Sinos Dobram consagraram Max Perkins como « descobridor de talentos ». Perkins não viu a publicação de O Velho e o Mar e nem o Prêmio Nobel de Literatura a Hemingway.
O filme Genius, com estréia em Berlim, vive a tempestuosa relação literária de Perkins com sua outra descoberta – Thomas Wolfe, em 1929. Durante anos, Wolfe tinha sido um simples professor substituto de inglês em Nova Iorque, mas seu encontro numa viagem de navio com Aline Bernstein, vivida por Nicole Kidman, que se tornou sua amante e mecenas, levou-o a se dedicar apenas à escritura.
Porém Wolfe, cuja influência dizem ser visível em Kerouac e em Philip Roth, tinha um defeito : era prolixo. Quando Perkins leu o primeiro manuscrito de Wolfe, rejeitado pelos outros editores, empenhou-se numa árdua tarefa : a de convencer Wolfe a se tornar conciso. Depois de alguns meses de esforços, Wolfe aceitou cortar nada menos que 90 mil palavras de Look Homeward, Angel. O segundo livro, Of Time and the River, no qual a escrita fluía como numa enxurrada, Perkins precisou usar a tesoura durante dois anos.
No começo, o escritor agradecia a Perkins tanta orientação e dedicaçao. Entretanto, Wolfe se revoltou quando Perkins quis cortar alguns capítulos de um novo livro, You Can’t Go Home Again. Houve um processo de Wolfe contra a editora Scribner e o escritor se bandeou para Harper´s.
Alguns anos depois, Wolfe voltou a ser amigo de Perkins, nomeando-o seu executor testamentário ao sentir próxima sua morte com apenas 37 anos, em 1938.