Só um filme brasileiro, um curta-metragem, foi selecionado para a competição internacional no 66.Festival Internacional de Cinema de Berlim. Nenhum longa brasileiro foi selecionado pelo segundo ano consecutivo, mas os rejeitados poderão ainda tentar a chance nos Festivais de Veneza e Locarno.
Parece que a crise vivida atualmente pelo Brasil não é só política e econômica, mas envolve igualmente o mundo do cinema. Entre os 23 filmes selecionados para a mostra Competição Internacional do Festival Internacional de Cinema de Berlim (18 concorrendo aos Ursos), considerado o terceiro no ranking mundial dos festivais de filmes, não há nenhum brasileiro.
A última participação do Brasil nessa competição foi há dois anos com Praia do Futuro, de Karim Ainouz, que, embora premiado no Brasil e feito parcialmente na Alemanha, não entusiasmou a crítica internacional.
Essa ausência se tem feito sentir também na competição internacional dos festivais de Cannes e Veneza. No Festival de Locarno, a última participação brasileira foi há dois anos com Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro, premiada com uma menção honrosa.
O México e a Argentina têm mostrado melhor aceitação internacional nesses quatro festivais, embora este ano também não haja filme argentino na principal competição de Berlim.
Foram selecionados filmes da Bélgica, Bósnia e Herzegóvina, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Irã, Itália, México, Holanda, Nova Zelândia, China Filipinas, Polônia, Portugal, Singapura, Suécia Tunísia, Inglaterra e Estados Unidos.
O único filme brasileiro em competição no Festival de Berlim é o curta-metragem “Das Águas Que Passam” (Running Waters), do diretor capixaba Diego Zon.
Filmado em março de 2015 ,na Vila de Regência, em Linhares, Das Águas Que Passam acompanha o pescador Zé de Sabino. A narrativa se aproxima da natureza de seu trabalho e de suas relações com o local e as pessoas que o cercam. O filme também tem como cenário a foz do Rio Doce e a costa marítima da região.
Fora de competição, há três filmes brasileiros na mostra Panorama e dois na mostra Fórum Ampliado.Outros catorze jovens cineastas brasileiros, entre diretores, produtores, roteiristas, atores, participam da promoção Jovens Talentos, pela qual o Festival leva a Berlim 300 jovens cineastas de 79 países.
Hanna Muylaert retorna a Berlim sem empregada doméstica
Os europeus não sabiam haver no Brasil as empregadas domésticas quase escravas dos patrões. Quem mostrou foi Anna Muylaert com o filme “A Que Horas Ela Volta”, de grande sucesso. A tal ponto que o Festival de Berlim pediu bis.
Anna Muylaert, a realizadora, que chocou muita família burguesa ao mostrar a condição de semiescrava de uma empregada doméstica em São Paulo, com o filme A Que Horas Ela Volta (A Segunda Mãe, título internacional), retornará dentro de alguns dias a Berlim.
Seu filme, comédia satírica com tons de denúncia política, ganhou, no ano passado, o Prêmio do Público, na mostra Panorama, no 65. Festival de Cinema de Berlim. O público alemão adorou a filha da empregada doméstica que, como numa versão feminina, urbana e moderada de Spartacus, se revolta contra a sujeição vivida pela mãe e consegue entrar nos vestibulares da Faculdade de Arquitetura, enquanto o filho dos patrões foi reprovado.
O sucesso do filme se espalhou pela Europa, onde se desconhecia essa realidade brasileira, em fase de mudança com a exigência atual do registro legal e Carteira Profissional das empregadas domésticas, que eram falsamente agregadas à família para cuidarem de tudo, inclusive dos filhos como se fôssem uma segunda mãe, mas sem nenhum dos direitos familiares.
No fechamento da mostra Panorama com a relação dos filmes selecionados, o Festival de Berlim agregou dois filmes brasileiros de ficção e um documentário. Um deles é o novo filme de Anna Muylaert, Mãe É Uma Só, contando a história de um adolescente ao descobrir ter sido roubado na maternidade.
Os outros dois filmes são Antes o Tempo Não Acabava, sobre as dificuldades de adaptação de um índio da floresta amazônica ao ir viver em Manaus, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo ; e Curumin, de Marco Prado, documentário com o brasileiro Marco Archer, condenado à morte na Indonésia, e executado há um ano.
Ao encerrar a última relação de filmes, a mostra Forum Ampliado incluiu dois filmes brasileiros : Muito Romântico, dos gaúchos Melissa Dullius e Gustavo Jahn, que vivem em Berlim ; e Ruina do carioca Gabraz Sanna. Haverá ainda a exposição A Mina dos Vagalumes de Raphaël Grisey,
Rui Martins, é jornalista e escritor, e estará do 10 ao 21 de fevereiro em Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.