Com este título a revista digital Pacific Standard publicou a matéria sobre “Spotlight- Segredos Revelados” dirigida a todos os alunos e ex-alunos do mestrado da Escola de Jornalismo da Columbia University, NY, este mês. Foi a saudade que tornou o filme de Tom McCarthy viral na imprensa de papel e o fez ser indicado para o Oscar em meia dúzia de categorias, entre elas a de melhor filme e melhor diretor. A nostalgia da pesquisa sem fim. O tempo de dedicação para investigar uma história impossível de ser denunciada. A aposta nos repórteres. E o resultado da magnífica reportagem que resultou em outras 600 e levou o premio Pullitzer. Muito mais do que jornalistas afirmando seu amor à profissão.
Foram jornalistas do mundo inteiro que estão vendo a profissão ser desqualificada, pulverizada, transformada em qualquer-blog-escrito-de-qualquer-maneira-sem-fontes-nem critério em apenas 13 anos depois da publicação da primeira reportagem do The Boston Globe. Há quanto tempo a disseminada imprensa digital não publica matéria capaz de fazer a Igreja Católica ser denunciada pelo crime de pedofilia como “Spotlight” contou em eletrizantes 128 minutos? Há quanto tempo não se derruba um presidente como fez o Washington Post com o caso conhecido como “Watergate”, glamurizado com Robert Redford e Dustin Hoffman em “Todos os Homens do Presidente” (1976)?
Bons jornalistas lembram com saudade as noites mal dormidas, as pesquisas extenuantes e furtivas, os documentos obtidos depois de meses de angústia para publicar a matéria que iria eletrizar os leitores no dia seguinte. “Parem as máquinas” era o jargão gritado nas redações muito parecidas com aquela relatada em “Spotlight” quando um repórter entrava com um “furo”. Tinha um editor apoiando, um secretário de redação dando dicas, um diretor determinando a estratégia, um diagramador bolando a melhor página e um leitor esperando nada menos do que a melhor reportagem daquela fonte. Era assim que acontecia.
Migramos para o mundo da nuvem. Nossa geração foi apanhada de calças curtas. Vai levar mais duas para a era digital se enquadrar nos padrões éticos, cumprindo normas jornalísticas universais, baixando a megalomania e facilidade com que pessoas mal formadas e pior informadas se descobrem como genios, com tiradas inflamadas sem qualquer embasamento.
E leitores, engolindo,porque não há nada mais fácil do que abrir a Internet a um preço irrisório e ler colunas sem fixar os olhos, sem pagar nada nem perder muito tempo.
Esse elo perdido do bom jornalismo está forçando a busca pelos mais de 800 filmes produzidos em todo o mundo sobre imprensa. Foi isso que “Spotlight” detonou neste mundo de poucos jornais em papel e muitos jornalistas despojados de profissão. Um grupo de quatro repórteres escolhidos para ficar até um ano pesquisando, sem cobrança do editor, a matéria-bomba a ser publicada. Jornalismo investigativo que, se um jornalista quiser fazer hoje, terá de pagar do próprio bolso nas horas de sono ou lazer.
Deve ter sido isso que desencadeou a montanha de reportagens sobre “Spotlight“. Só no Brasil O Globo, O Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo, Veja, Vejinha, Época, Carta Capital, esticando para o caderno Aliás do Estadão, a matéria principal da Ombudsman da Folha, e a revista Eu & Fim de Semana do jornal Valor. Com repetecos.
E enquanto o Oscar não vem, vale a pena rever pelo menos 25 desses 800 filmes sobre imprensa. Quem sabe o vírus do bom jornalismo contamina a internet?
Aconteceu Naquela Noite ( It Happened One Night, 1934), Frank Capra
Correspondente Estrangeiro ( Foreign Correspondent, 1940), Alfred Hitchcock
Adorável Vagabundo ( Meet John Doe, 1941) , Frank Capra
Cidadão Kane ( Citzen kane, 1941), Orson Welles
A Montanha dos 7 Abutres ( Ace in the Hole, 1951) Billy Wilder
Janela Indiscreta ( Rear Window, 1954), Alfred Hitchcock
Suplício de uma Alma ( Beyond a Reasonable Doubt, 1956) , Fritz Lang
O Vento Será Tua Herança (Inherit the Wind,1960), Stanley Kramer.
O Homem que Matou o Facínora ( The Man who Shot Liberty Wallace, 1961), John Ford
Tudo Vai Bem ( Tout Va Bien, 1972), Jean-Luc Godard
Os Escândalos da Cidade ( Um Linceur n’as pas de Poches, 1973), Jean Pierre-Mocky
O Passageiro- Profissão Repórter (1975), Michelangelo Antonioni
A Honra Perdida de Katharina Blum ( Der Verlorene Ehre Der Katharina Blum, 1975) Volker Schlondorff
Todos os Homens do Presidente ( All The President’s Men, 1976), Alan J. Pakula
A Primeira Página (The Front Page, 1976, terceira versão), Billy Wilder
Rede de Intrigas (Network, 1976), Sidney Lumet
Síndrome da China ( The China Syndrome, 1079) James Bridges
Reds (1981), Warren Beatty
Tinikling ( 1989), Samuel Fuller
O Quarto Poder (Mad City, 1997), Costa-Gavras
O Informante ( The Insider, 1999), Michael Mann
Capote ( 2004), Bennett Miller
Boa Noite, Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, 2005), George Clooney
Mil Vezes Boa Noite ( A Thousand Times Good Night, 2013), Erc Poppe
O Abutre (Nightcrawler, 2014) Dan Gilroy