Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Olimpíada à brasileira

Entre os anos 1950 e 1960 podia-se abrir as páginas de jornais e revistas brasileiros para ler sobre o esporte favorito dos nacionais, o futebol, em Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), Jacinto de Thormes (Maneco Müller), Armando Nogueira, João Saldanha, Sandro Moreyra, João Máximo e muitos mais, incluindo Othelo, cujo almanaque eu nunca perdia.

A gente aprendia a ver, sentir e entender melhor o futebol depois das leituras em Manchete Esportiva, Revista dos Esportes, Jornal dos Sports, Gazeta Esportiva, Almanaque dos Esportes e nos jornais diários, como O Globo, Jornal do Brasil, Última Hora e etc. Os textos eram de primeira. E quem escrevia entendia muito do que estava dizendo.

Essa fase me parece antediluviana, arqueológica mesmo, diante do “Lance”, o caderno de esportes que O Liberal agora reproduz. É tanta cor, gráficos, tabelas e outras mumunhas do photoshop que não sobra atenção para o restante, que é mesmo o que sobra: textos curtíssimos; mais do que sumários, paupérrimos.

Imagino que o leitor de cadeira desse caderno seja dos que gritam, se macaqueiam nas arquibancadas atrás da câmera de televisão – e do nobre esporte bretão só retenham as frases feitas, os slogans bárbaros, os jingles primários.

É tal estultice que os editores do caderno technicolor resolveram não seguir o critério do comitê olímpico para o quadro de medalhas. Como se sabe desde que os gregos clássicos começaram a correr, fica na frente quem tem mais medalhas de ouro. Não importa que esteja atrás em medalhas de prata ou de bronze. Os louros são mesmo para os vencedores.

Sempre foi assim – em todas as olimpíadas e entre todos os seus participantes ou assistentes. Até os editores desse varejo jornalístico decidirem estabelecer seu próprio critério, ponderando as medalhas por pontos, à maneira das corridas de Fórmula 1. O inovador se tornou grotesco, imbecil.

Espera-se que no Brasil os superiores dos editores de “Lance” tenham o bom senso de cancelar a péssima novidade. Olimpíadas à brasileira, ninguém no mundo vai aguentar.

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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]