Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Autorreferência não é informação, é propaganda

Falar de si mesmo pega bem, mas fazer autopropaganda virou norma nos grandes jornais, revistas e TVs brasileiras até a prática desembocar agora na telenovela Amor à Vida, em que seus personagens desembarcam no Big Brother Brasil ou no Caldeirão do Hulk como se a Globo tivesse engolindo o mundo. O narcisismo dos meios de comunicação brasileiros tem origem, porém, nos jornais onde ele já se tornou patológico.

Desde a primeira edição de O Papel do Jornal, Alberto Dines condenava um jornal e jornalistas fazerem deles notícia, mas a ética caiu em tal desuso que a Folha de S.Paulo, por exemplo, mantém uma seção fixa anunciando sua TV Folha. Será que leitores e telespectadores inocentes merecem isso?

Não faz muito tempo, o Jornal Nacional, imitando o Vídeo Show, fez do programa de Fátima Bernardes manchete e editorial. Daí pra frente a coisa descambou e o bispo-empresário Edir Macedo toma conta a toda hora do noticiário de sua TV Record com seus best-sellers, enquanto colunistas dos mais sérios, incluindo os senhores da Economia, trocam confetes e serpentinas entre si como se estivessem em um baile Gala Gay.

Dessa dança não escapou nem o bravo colunista esportivo Tostão com o colega Juca Kfouri, entre outros menos cotados. E o baile já compreendeu, inclusive, críticas uterinas além das admissíveis dos raros ombudsmans, como os tiros que Barbara Gancia desferiu no filósofo Luiz Felipe Pondé sem que este se desse por alvejado.

Índices baixos

Qual seria o problema da autopromoção?, bocejariam nossos publishers caso lessem estas linhas. O problema é trocar a realidade pela virtualidade. O problema é transformar leitores em macacas de auditório ou torcidas organizadas. E o problema maior é os jornais passarem de supostos donos da verdade a fabricantes de mentiras. Porque daí a jornais e TVs com estatísticas e índices de audiências manipulados, bem como pesquisas ou enquetes pautadas, já é um passo dado, que ao fim vem retirando a credibilidade dos órgãos em criticar o mesmo malfeito do governo.

Não se vê, entretanto, qualquer consciência do fato em nossa imprensa oligopolizada. Antes ela resmunga e bate na cabeça a cada índice de popularidade da presidente ou da política econômica. Da mesma forma, quando constata a falta de apoio maior à volta da pena de morte ou ao fim dos impostos.

Em conclusão: os conselhos editoriais e editores – CEOs? – da nossa grande pequena imprensa parecem mais do que satisfeitos com os ínfimos índices de leitura de seus magníficos jornais e revistas, se é que deles têm conhecimento

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Zulcy Borges de Souza é jornalista (Itajubá, MG)