Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Historinha sobre jornalismo

Há um senhor em Itabira que há 70 anos exerce no mesmo ponto um ofício quase extinto. Fui à loja dele e propus entrevistá-lo para O TREM Itabirano.

Mostrou-se desconfiado, monossilábico, cabreiro. Argumentei: é uma maravilha poder trabalhar no que gosta por sete décadas. Puxou cadeira para ele e para mim.

Emendei: imagine como era esta rua, este bairro, Itabira, quando o senhor abriu seu comércio, tudo muito diferente. Ele me convidou para a sala da casa, anexa, serviu-me café e biscoitos.

Ataquei: o senhor é cultura e jornal não foi feito para mostrar só coisa ruim. Pediu licença, saiu e voltou com um baú cheio de fotos da família e trecos obsoletos. Sentou-se no chão e me mostrou, um a um.

Fiz mil indagações, fotografei tudo e, ao final do papo, lancei: “Mas o senhor topa a entrevista, posso voltar com gravador? O senhor me conta a sua história e tacamos numa página inteira”. Disse sim e me perguntou: “Mas quanto vai me cobrar?” 

Respondi: “Nada, zero. Jornalista não pode cobrar para fazer reportagem, jamais fizemos matéria paga. Jornalista que recebe dinheiro para publicar reportagem golpeia a ética, atenta contra o belo ofício jornalístico, é jornalistinha mequetrefe”.

Ele: “Em todos esses 70 anos só apareceu aqui na minha porta jornalista querendo puxar uns cobres”. Eu: “Mas o que quero puxar é a história do senhor. O senhor exerce a sua profissão há sete décadas, construiu uma trajetória social rica, que merece sair em jornal de graça”.

Emocionou-se e pediu que eu voltasse, “com máquina de gravar e tempo de sobra”.

Irei.

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Marcos Caldeira Mendonça e editor d’O TREM Itabirano