Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A submissão ortográfica

A palavra submissão é a que me parece sintetizar o problema. É, talvez, um complexo de país colonizado, como, de fato, fomos. Só que, com a marcha do tempo – principalmente com o processo de industrialização do século 20 –, os colonizadores passaram a ser os Estados Unidos da América.

Dos comerciais off (desconto) e delivery (entrega em domicílio), os tentáculos do polvo anglo-saxão estenderam-se pelos meios de comunicação. Por ocasião da recente tragédia do assassinato de doze pessoas em Paris (dez delas, jornalistas), não foram poucas as mancadas ofensivas ao vernáculo em nome da submissão ao colonizador. Na TV Globo, na quarta-feira (7/1) Charlie (que, evidentemente, se pronuncia “charli”, como em português) virou o Charlie inglês (pronunciado “tcharli”).

Ainda em relação ao episódio, vários jornalistas destacaram a importância do ataque enfatizando que apenas um outro atentado, cometido em 1961, superara o atual em número de vítimas: 21 mortos na França. Esse atentado foi cometido num trem que viajava de Paris para Cherbourg pela Organisation de L’Armée Secrète (Organização do Exército Secreto), um grupo terrorista integrado por militares ultranacionalistas e fundado pelo general Raoul Salan. De acordo com os ditos jornalistas, tratava-se da Organização Armada Secreta.

A emissora de televisão Al Jazira, com sede em Dubai, é quase sempre citada como Al-Jazeera, pois como em inglês a pronúncia da letra “i” é dúbia, eles utilizam dois “e”. O mesmo ocorre com a organização terrorista al-Qaida, quase sempre citada como al-Qaeda justamente pelo mesmo motivo.

E la nave va…

******

Jô Amado é jornalista