Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A apuração que ainda falta

Os jornais continuam se alimentando no portal www.transparência.gov.br para trazer diariamente a seus leitores os novos abusos no uso dos cartões de crédito corporativos de servidores federais graduados.


O trabalho de coleta e seleção de dados não é o melhor do jornalismo, mas vai aos poucos ajudando o cidadão a entender uma das razões pelas quais o Estado pesa tanto no bolso de quem paga impostos.


A novidade das edições de sexta-feira (8/2) é que todos os grandes diários resolveram também vasculhar os gastos do governo do estado de São Paulo. E todos revelam que os funcionários paulistas gastaram proporcionalmente mais em 2007 do que os seus consortes da administração federal. Foram 108 milhões de reais, dos quais 48 milhões nas chamadas ‘despesas miúdas’.


Só não apareceram ainda os detalhes, porque o governo do Estado não mantém um portal aberto com os relatórios de gastos.


De qualquer modo, a notícia, que foi destacada pela Folha e o Estadão, aparece no Globo bem distante do noticiário sobre os abusos com cartões corporativos da área federal, como se um tema não tivesse nada a ver com o outro.


Falta estrutura


As edições de sexta-feira bem que poderiam ser o prenúncio de que a imprensa vai finalmente avançar na investigação, publicando algo mais do que aquilo que já está disponível para qualquer internauta do mundo no portal Transparência.


No entanto, a notícia sobre os gastos de funcionários paulistas não significa que os jornais se esforçaram na reportagem: o Globo entrega, no título, que as informações sobre despesas do governo de São Paulo foram passadas pelo Partido dos Trabalhadores. Os jornais apenas pegaram a pauta do PT e foram questionar o governo.


Se a imprensa não investiga os poderes, limitando-se a reproduzir o que já era de domínio público na área federal, quem abriria a caixa-preta de estados e municípios? O Estadão de sexta-feira dá uma dica, ao informar que a Ordem dos Advogados do Brasil pediu à suas seccionais que mantenham os olhos bem abertos.


Assim, por inapetência ou por falta de estrutura para fazer bem o trabalho de apurar os fatos, os jornais podem acabar cedendo lugar para a OAB, ONGs e outras instituições mais empenhadas em trazer a verdade inteira sobre a gastança.

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Jornalista