Soraya Aggege, de O Globo, foi impecável: ouviu Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, fez-lhe as perguntas cujas respostas todos queriam saber, publicou a matéria sem erro ou distorção. Uma reportagem tão impecável que Sílvio Pereira, ao negar algumas das informações publicadas, preferiu assumir que não sabia o que estava dizendo a ter de desmentir a boa repórter.
Renata Lo Prete, em duas excelentes entrevistas com Roberto Jefferson, abriu as portas da crise. Perguntas precisas, respostas corretas, publicação sem falhas. Houve quem desmentisse Jefferson, mas ninguém desmentiu Renata Lo Prete.
Leonardo Attuch, em entrevista memorável com a secretária Karina Somaggio, apresentou um personagem que ainda era desconhecido: Marcos Valério.
São só três exemplos. Mas mostram que a entrevista pingue-pongue, perguntas e respostas, olho no olho, gravador ligado, é uma das grandes armas jornalísticas para descobrir a verdade. Tem havido poucas entrevistas desse tipo (ocupam espaço, exigem que o repórter saia da Redação, dão trabalho). Que pena!
Ricardo Kotscho, um de nossos grandes repórteres, diz que um dos maiores problemas do jornalismo é que, se o telefone não funciona, a reportagem pára. Tem razão – e nem disse que, sem os portais de internet e as agências oficiais, pára o jornal inteiro. A entrevista pingue-pongue individualiza os jornais. E é um tipo de reportagem que marca época. Lembre O Pasquim, tão cheio de talentos: há ali algo mais lembrado que a entrevista e os palavrões de Leila Diniz?
Clonados ao nascer
Escolha, caro colega, um caso qualquer que esteja ocorrendo no Congresso. Leia o noticiário divulgado em todo o país (um bom clipping deixa as coisas muito claras). E não deixe de ler os boletins da Agência Câmara e da Agência Senado. Do noticiário divulgado pela imprensa, a grande maioria tem estrutura herdada do boletim oficial; tem o enfoque baseado no do boletim oficial; as palavras são as mesmas, frases inteiras são pura e simplesmente copiadas.
Louve-se, a propósito, o bom trabalho das agências Câmara e Senado, bem como da Agência Brasil. Mas, se cada jornal tem sua equipe de reportagem, o material das agências deveria ser apenas uma fonte de informação a mais – e não a mãe de tantos filhos gêmeos.
Contra a censura
Este colunista, fã antigo de Caetano Veloso, comemora a derrota de seu ídolo: Caetano pediu que a revista Sexy fosse retirada das bancas, por ter publicado fotos da modelo Denise Assis, apontando-a como ‘sua nova namorada’. Caetano tem razão em defender sua intimidade; e, se a moça não é sua namorada, nem – nas palavras da revista – o tirou do sério, pode perfeitamente recorrer à Justiça.
Mas retirar a revista de circulação não é o caminho: vale uma queixa-crime, vale pedir indenização, mas não vale impedir que uma publicação chegue a seus leitores. E, aliás, a revista nem estava dando nada de novo: as revistas IstoÉ Gente e Quem já tinham publicado fotos da jovem, apresentando-a como namorada dele.
A juíza Márcia Helena Bosch, da 11ª Vara Cível de São Paulo, deu a sentença que garantiu a liberdade de imprensa. E o Tribunal de Justiça confirmou a liberação da revista.
Contra a imprensa
No Paraná, a violência: o delegado-adjunto Edson Costa, armado, invadiu a TV Iguaçu, em Curitiba, para protestar contra uma série de reportagens do programa Tribuna na TV. Foi difícil acalmá-lo, desarmá-lo e levá-lo ao estúdio, para que expusesse seu ponto de vista. Tudo acabou bem: o delegado deu entrevista e ninguém saiu ferido. Mas usar o posto e o armamento para intimidar jornalistas é inaceitável. E a reação da TV também é esquisita: não apresentar queixa contra o delegado invasor e reforçar a segurança no prédio. Da próxima vez, pelo jeito, alguém tentará bloquear os invasores a bala.
A pressa é inimiga…
A guerra para ser o primeiro a divulgar a informação já está causando vítimas: o público, que recebe uma informação rápida mas totalmente imprecisa. Um exemplo desta guerra, na internet, é o que ocorreu entre 10h e 12h51 de terça-feira (9/5), quando se noticiou que dois ônibus se chocaram numa grande avenida de São Paulo.
Às 10h, a primeira informação: 17 passageiros com ferimentos graves (às 12h42, essa notícia foi republicada – ou melhor, ‘atualizada’). Às 10h41, os feridos graves eram 13. E, em outro portal, no mesmo horário, eram 23, sendo 15 com gravidade e 8 com ferimentos leves. Às 12h29, eram ‘ao menos’ 18 feridos. Às 12h51, a última informação: 42 feridos. De 17 para 42 em menos de três horas!
…da precisão
Mesmo assunto, imprecisão: segundo um grande portal, três náufragos foram salvos graças a uma mensagem de celular. Até aí, tudo bem: mas segue-se a grande notícia, que não mereceu o menor destaque. Os três náufragos eram o pai, de 30 anos, um sobrinho, de 16, e o filho, de 20. Se o pai tem 30 anos e o filho está com 20, temos uma notícia que vale o Fantástico: um garotinho que foi capaz de, com nove anos e alguns meses, engravidar uma jovem!
E eu com isso?
Há certas informações sem as quais certamente não poderíamos sobreviver. E ganham merecido espaço nos meios de comunicação, preenchendo nossas falhas de conhecimento. Por exemplo:
1.
Walcott, atacante inglês de 17 anos, foi convocado para a Copa. E, por isso, terá de adiar o exame de habilitação como motorista.2.
Paris Hilton termina namoro com milionário grego.3.
‘Mulher de rapper rouba cena com seios turbinados em festa’. Deve ter sido uma festa fantástica, maravilhosa, com todas as mordomias possíveis: além da massagem, do cabeleireiro, dos maquiadores, até um cirurgião para turbinar seios lá mesmo!Como é que é?
‘Revelado novo Metal Gear Solid para o PSP’, informa um portal da internet. E prossegue: ‘Os fãs de Metal Gear Solid podem comemorar. A revista Famitsu, em sua mais nova edição, confirmou que não é apenas Metal Gear Solid Portable Ops que está em produção para o PSP’.
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados