Friday, 18 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1310

A censura está de volta, discreta

O PFL não pode, em seu site ou fora dele, usar a expressão ‘Lula e os 40 ladrões’ (a expressão, aliás, é pouco eufônica; muito melhor seria ‘Lula-lá e os 40 ladrões’). O jornal Correio do Estado, de Campo Grande (MS), não pode publicar nada sobre investigações que envolvam o ex-prefeito (e candidato a governador) André Puccinelli. O colunista Ucho Haddad (www.ucho.info) não pode citar o nome do banqueiro Daniel Dantas. E tudo, note-se, por ordem judicial.

Tudo o que este colunista sabe de Direito é o endereço da Faculdade do Largo de São Francisco. Mas certas coisas são esquisitas: se a Constituição proíbe a censura, como é que as pessoas e órgãos acima citados sofrem proibições? Deve haver algum dispositivo legal que permita esse tipo de decisão, ou a Justiça não a tomaria; mas, se isso não se chama censura, qual o nome que terá?

Imprensa, às vezes, é fogo: toma assinatura com alguém e o persegue até o final dos tempos. Mas o remédio mais democrático para isso é a lei, não a proibição prévia; é o processo judicial, que pune os excessos. Imagine que um personagem, protegido de citação, faça alguma coisa memorável – invada, por exemplo, um campo de futebol, com nariz postiço e cuecas impressas com o rosto do Cafu. Quem estiver proibido de citá-lo não poderá dar nem essa notícia?

Na ditadura, o Jornal da Tarde, de São Paulo, era censurado pelo agente Leonardo. Temeroso de alguma brincadeira desmoralizante, vetou a publicação do nome Leonardo. Até o gênio renascentista (fizemos o teste) virou só ‘da Vinci’. Não há uma perturbadora semelhança entre o que ocorreu e o que está ocorrendo?



Gordo? Estressado?

Se há algo que não falta é jornalista brasileiro na Alemanha – repórteres, colunistas, especialistas, cronistas, analistas. Também não falta investimento: todos os veículos de comunicação puseram muito dinheiro nesta Copa. Não falta, ainda, espaço para as matérias: são cadernos exclusivos, programas ao vivo, programas gravados, entrevistas, mesas redondas lá, mesas redondas cá.

Agora, caro colega, você que por dever de ofício lê todos os jornais, conte um segredo para este colunista: que é que acontece com Ronaldinho Gorducho? Vejamos o mais simples: qual é seu peso ideal? Com que peso costuma atuar no Real Madrid? Qual o peso com que está hoje? É uma questão objetiva; e respondê-la resolve de uma vez a velha dúvida, saber se o Fenômeno está gordo ou não.

Peso, dizem alguns jogadores, nem sempre é problema. Coutinho, o grande companheiro de Pelé no Santos, disse que costumava jogar (e muito!) com pelo menos oito quilos de excesso. Fábio Costa jurou que, num jogo em que garantiu o campeonato para seu time, estava dez quilos acima do peso.

Então vamos para outra dúvida: dá para acreditar que um craque que jogou em três potências do futebol mundial, Barcelona, Internazionale de Milão e Real Madrid, que disputa sua quarta Copa, que já foi duas vezes campeão do mundo, em 1994 e 2002 (e uma vez artilheiro da Copa), que foi vice-campeão do mundo, tenha se estressado por causa da responsabilidade? Difícil, né?



Adeus, aspirina

A última história, que a imprensa inteira engoliu sem discussão, é fantástica. Ronaldo Gorducho teve uma dor de cabeça. Dor de cabeça todos nós temos de vez em quando, não é mesmo? A gente toma uma aspirina, às vezes tira uma rápida soneca, e pronto. Mas nós não sabíamos ainda como é o tratamento moderno para dor de cabeça, que foi aplicado ao Fenômeno: começa com tomografia e endoscopia. Aspirina, nem pensar; Novalgina, jamais – nem mesmo na Alemanha, terra-mãe da Aspirina e da Novalgina. O negócio é hospitalização imediata.

Lembre aquela velha piada, do marido que quer sexo e da mulher que alega dor de cabeça. Já pensou como vai ficar caro? Assim que a esposa disser que está com dor de cabeça, o marido chama a ambulância, manda interná-la, providencia uma tomografia e uma endoscopia. Claro, tem seu lado bom: por pior que seja o marido, a esposa jamais usará de novo a dor de cabeça como desculpa.

E agora, volta a pergunta: qual o problema de Ronaldo Gorducho? Por que foi levado em segredo ao hospital? Qual o objetivo da tomografia? Qual a suspeita? Porque ir à Alemanha só para assistir aos jogos é uma delícia, mas será isso que o leitor, o ouvinte, o internauta e o telespectador estão esperando de nós?



Nos bastidores

Mas a vida dos enviados especiais não é só assistir aos jogos. O jornalista Marcos Linhares, hoje coordenador de Comunicação da Missão Criança, mas com um belo passado de jornalista esportivo – cobriu as Olimpíadas de Atenas, cobriu os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo – lançou há dias um livro exatamente sobre este tema, Nos bastidores do jornalismo esportivo (Editora Celebris). Juca Kfouri e Lars Grael enriquecem o livro, falando sobre o autor. Vale a pena: você vai perceber como é que uma hospitalização com tomografia é atribuída a uma dor de cabeça e o povo acaba aceitando.



A Alemanha é aqui

Acredite: esta informação veio num press-release, aliás muito bem-feito. E este colunista fez questão de copiar e colar a frase, para evitar qualquer erro. Vai lá:

‘Neste final de semana, a Choppmotorrad, bem como integrantes do Stammtisch Choppmotorrad estarão em Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha’.

Exige um certo esforço. Mas quem pronunciar Stammtisch Choppmotorrad corretamente estará perfeitamente apto a cobrir a próxima Copa da Alemanha, daqui a alguns anos.



Online

A expressão online, em jornalistês, significa ‘nas coxas’. Vejamos um exemplo maravilhoso: no título, ‘Polícia prende 40 torcedores poloneses antes do jogo’; no texto, a polícia de Dortmund, Alemanha, anuncia a prisão de 55 torcedores poloneses. Mas que significa a diferença de 15 pessoas numa Copa que envolve tantos bilhões de espectadores?



E eu com isso?

Este é um manancial inesgotável: informações sem as quais certamente não conseguiríamos manter um mínimo razoável de qualidade de vida. São poucas, nesta semana: aqui também dedicamos o espaço ao futebol. Mas são boas:

1. ‘Deborah Secco e Falcão namoram em forró’.

2. ‘Jayne participa do `CD Mulheres Unidas pela Vida´’.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados