Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A diferença que não há

Uma das críticas recorrentes que se faz aos grandes jornais diários brasileiros é a sua indiferenciação: em lugar de surpreender-se em meio a uma concorrência acirrada pela melhor apuração e uma angulação original dos assuntos, não raro o leitor fica com a impressão de ter lido a mesma coisa em veículos distintos – percepção reforçada pela prática continuada do ‘jornalismo declaratório’ e pelo leque de ‘fontes referenciais’ praticamente idêntico.


Na praça paulista, onde pontificam Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo, editores parecem despreocupados com o desperdício de papel – um insumo crítico na composição de custos da indústria – e com o acompanhamento dos movimentos da concorrência. No domingo (29/3), por exemplo, a Folha dedicou uma das chamadas de primeira página (‘Leitura on-line de notícias colabora para isolamento’) a um artigo de Nicholas D. Kristof, colunista do New York Times, publicado originalmente em 19 de março, e cuja tradução ganhou o título interno ‘O meu jornal diário’.


O ocorre que uma tradução do mesmíssimo texto – excelente, por sinal – havia sido dada no Estadão de 23/3, no dia seguinte reproduzida neste Observatório (‘O leitor editor de si mesmo‘) e muito bem comentada pelo jornalista Luiz Weis no blog que mantém no OI (‘Os jornais e o jornal de cada um‘).


Que estranhas razões moveram a Folha a publicar com destaque matéria tão requentada, dez dias depois da publicação original? Vontade de diferenciar-se pela novidade certamente não foi. Pena.