O caso do ‘menino herói’ baleado na perna por se negar a incendiar veículos foi das ‘histórias humanas’ mais repetidas nos dias de caos provocados pelo narcotráfico no Rio de Janeiro. O Extra, que se distinguiu no período pelo perfil @casodepolicia, no Twitter, concebido para separar boatos de verdades (ver, neste OI, ‘Extra ensina a usar redes em crises‘), decidiu apurar e descobriu que a história (quase) toda era uma farsa.
Sim, o menino subiu numa motocicleta, mas por travessura. Sim, ele tinha um orifício na perna, mas feito pela ponta de um vergalhão quando a moto virou sobre os ferros de uma churrasqueira. E, sim, a mãe dele contou exatamente essa versão na noite de 27/11, um sábado, quando chegou ao Hospital do Andaraí, mas policiais, primeiro desconfiados depois imaginativos, coagiram a mulher e a criança a inventar fantasias na 25ª Delegacia Policial, onde todos foram parar depois do atendimento.
Questão de justiça
Na quarta-feira (1/12), o Extra procurou a família e apurou a história real. A pedido do jornal, o Instituto Médico Legal fez perícia, que concluiu: o ferimento não foi provocado por bala. ‘Estávamos fazendo matéria especial sobre como um boato vira verdade, e esbarramos nessa história impressionaNte – uma farsa com carimbo oficial’, contou o editor-chefe, Octavio Guedes. ‘Quanto mais a redação se lança na internet, mais notícias puxa para o papel.’
Na edição do domingo (5/12), manchete de capa garrafal: ‘É boato’. E como o Extra tomou gosto pelo restabelecimento de verdades, não causou surpresa que a capa do suplemento especial da segunda-feira (6) atribuísse ao Fluminense o tricampeonato conquistado na véspera: ‘É TRIcolor’. Demonstração de justiça para fazer chorar até o Sobrenatural de Almeida.
******
Jornalista