Este colunista, em dezenas de anos de jornalismo e alguns mais como leitor, daqueles que não perdiam as colunas de Stanislaw Ponte Preta e Arapuã, já viu acontecer muita coisa em imprensa: acompanhou a guerra entre Carlos Lacerda e Samuel Wainer, a feroz disputa entre Última Hora e Diário da Noite (que chamava a concorrente de ‘a prostituta do Anhangabaú’), o duelo entre um famoso intelectual e uma deputada, em que ele a chamou de prostituta com 63 sinônimos, o combate entre os Diários Associados e a Rede Globo que envolvia a participação de capital estrangeiro na imprensa brasileira.
Mas nada foi semelhante ao que ocorre hoje, no território da internet, em que há tentativas de assassínios de caráter a cada instante. Outro dia, um comerciante que escreve um blog quis colocar em dúvida a honestidade de Ricardo Kotscho, por trabalhar ‘para uma empresa de comunicação identificada com o grupo de empresas de mídia aliadas do PSDB’. Assim não dá: nos quarenta e poucos anos em que sou amigo de Kotscho, divergi dele em todos os aspectos, da política ao futebol; trabalhamos em duas campanhas políticas em campos opostos; e nunca tive qualquer motivo para duvidar de sua correção e honorabilidade, nem de sua competência profissional. Aliás, excetuando-se quem queira achar pelo em ovo, ou cabelo na cabeça do Ricardo Kotscho, não há em sua longa carreira nada que o desabone. É são-paulino, coitado; mas, creio, apenas porque não teve a graça de poder ser corintiano.
Existe gente, especialmente na área de internet, que se pronuncia sempre agressivamente, mal-educadamente, como se estivesse tratando de inimigos, e não de brasileiros que possam pensar diferente, e como se tivesse condições de se pronunciar. É uma semente totalitária: procura-se desqualificar quem não pensa exatamente como querem que pense. Este pessoal, antes de acusar um jornalista como o Kotscho de estar a serviço do PSDB, poderia consultar o presidente Lula, intérprete mais qualificado do pensamento do PT. Lula certamente vai demorar um pouco para responder (primeiro, precisa parar de rir). Depois, recomendará que tomem maracujina antes de escrever besteira.
Elogio raivoso
Sempre na internet, elogiando um artigo do excelente editor Carlos Lindenberg sobre as eleições, um irado cavalheiro disse que ele jamais seria aceito ‘no eixo Folha, Globo, Estado‘.
Lindenberg agora dirige o Hoje em Dia, de Belo Horizonte. E, numa longa carreira cheia de êxito, já foi chefe de Redação de O Globo. Também foi chefe de sucursal da Veja e dirigiu o Estado de Minas, dos Diários Associados.
Bons profissionais costumam ser bem aceitos nos grandes veículos de comunicação. E os veículos de comunicação se tornam grandes porque os consumidores de notícias, que os acompanham, os consideram bons.
A vida…
Foi uma bomba: de acordo com a conceituada RBS, o candidato José Serra, participando de um encontro evangélico em Santa Catarina, teria dito que um fumante ‘é uma pessoa sem Deus’. Estranhíssimo – antes de mais nada porque, se se referisse a Deus, Serra preferiria usar o pronome ‘eu’. Enquanto a assessoria de Serra negava a informação e levantava a gravação do que ele havia dito, a frase já circulava em todo o país e era usada na campanha (opa, desculpe: na pré-campanha) eleitoral. Aí veio a gravação, e Serra não tinha dito nada daquilo.
Há um blog oficial de ateus, muito bem feito, chamado Bule Voador, que perguntou ao repórter que elaborou a matéria como é que aquela frase, que não tinha sido dita, foi parar entre aspas no texto. Resposta do repórter:
‘É lógico que não há justificativa para tamanho estrago. A frase publicada em minha reportagem em nada se parece com a verdadeira fala do pré-candidato. Não vi o discurso do Serra ao público de 10 mil pessoas. Somente parte de minha equipe, formada por um cinegrafista e um fotógrafo.
‘Caí na bobeira de perguntar a eles o que o Serra havia dito de interessante. Com base no que me foi dito por eles, construí aquela citação vergonhosa e que manchou a imagem do jornal e acabou com a reputação do meu nome. Quem trabalha comigo sabe que eu não sou leviano e nem mentiroso, muito menos partidário político.
‘Felizmente, o jornal destinou o mesmo espaço para corrigir o meu erro. Ficou a lição e a lembrança de que jamais poderei confiar na apuração de ninguém. Somente na minha.’
…como ela não é
Na guerra dos e-mails, Dilma Rousseff é a vítima preferida. Uma das histórias favoritas é a do atentado contra o consulado americano em São Paulo, em que uma bomba atingiu Orlando Lovecchio, arrancando-lhe uma perna. O comandante do ataque recebe hoje uma indenização muito maior que a da vítima.
Segundo diz o e-mail, amplamente distribuído, nos carros que atacaram o consulado havia várias pessoas, entre elas Dulce Maia. E Dulce seria o codinome de Dilma Rousseff, chamada ironicamente de ‘Dilminha Paz e Amor’.
Este colunista já se cansou de responder às centenas de e-mails a esse respeito. Primeiro, a história não é bem assim: Dulce Maia não participou do ataque. Um dos participantes, preso e sob tortura, ameaçado de mais tortura se não denunciasse os companheiros, deu o nome de Dulce, que estava no exterior, fora do alcance da polícia. Segundo, Dulce Maia é Dulce Maia, tem existência real, jamais foi codinome de ninguém. Vive hoje em Cunha, cultivando plantas sem agrotóxicos. Mas responder às mensagens é enxugar gelo: a difamação continua.
Estranho orgulho
Está no blog de um bom repórter esportivo, respeitado no meio, avesso à guerra do ‘meu patrocinador é mais honesto que o seu’ que assola o setor. Mas se orgulha de ter sido informante de CPI. Tem coisa que pode, tem coisa que não pode. Dedo-duro não pode. A polícia usa o dedo-duro mas o despreza. Se o sujeito é informante, que pelo menos mantenha o fato vergonhoso em segredo.
É ela, de novo
Maria Lydia é a âncora do Jornal da Gazeta, em São Paulo, e consegue se destacar mesmo trabalhando numa emissora pequena, desligada das grandes redes. Foi Maria Lydia que fez os comentários mais duros e mais apropriados a respeito do relacionamento entre o secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma Jr., e um cavalheiro envolvido não apenas no contrabando como na imigração ilegal. O furo foi do Estado de S.Paulo? Não importa: Maria Lydia deu o crédito a quem levantou a matéria e fez os comentários que cada um de nós gostaria de ter feito.
A guerra dos jornais
O Estadão levantou a lebre; e foi constrangedor ver alguns concorrentes, nos dias seguintes, tentando esfriar a notícia para reduzir o impacto do furo. Não, o cavalheiro citado não era ‘o maior contrabandista’, era apenas ‘um contrabandista pequeno’ – como se isso reduzisse a gravidade dos fatos revelados no noticiário. Em vez de avançar nas investigações e dar ao consumidor de notícias as informações mais atualizadas, procura-se brecar a apuração, apenas para não dar ao concorrente a importância que ele tem no caso.
Coisa estranha
Os meios de comunicação pensam em criar um Conselho de Autorregulamentação, nos moldes do Conar, que atua na publicidade. O Conselho daria as normas de conduta da profissão e teria acesso privilegiado a todos os veículos, como o Conar no caso das agências de publicidade.
O estranho é que os líderes do governo e do PT na Câmara Federal querem que o Congresso participe da criação do Conselho. Há duas incongruências na proposta: primeiro, o Conar, Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, modelo que se pretende seguir, não contou com a colaboração de parlamentar algum, nem foi votado pelo Congresso Nacional. Segundo, se o Congresso entra no jogo, deixa de ser autorregulamentação. Fica parecido com aquelas organizações não-governamentais brasileiras montadas por governos.
Dunga x Pelé
Pelé disse que tem conversado muito com o técnico Dunga, que lhe garantiu que, se houver surpresa na convocação, Ronaldinho Gaúcho, do Milan, tem mais chances do que Neymar, do Santos. Frase citada pelo Rei, atribuída a Dunga: ‘Veja o Ronaldinho, que eu tirei da Seleção. Ele voltou a jogar bola e está jogando muito, está fazendo gols. Se eu tiver de convocar alguém, acha que vou levar quem? O Ronaldinho, que já disputou Copa do Mundo, que já esteve lá, ou o Neymar?’
Dunga assegura que nunca falou nada disso: aliás, nem tem falado com Pelé. Sua última conversa, disse, ocorreu em 31 de outubro, data de seu aniversário.
Quem está mentindo?
Depende: se o Brasil perder a Copa, nada do que Dunga diga ou tenha dito será verdade. Se o Brasil ganhar a Copa, ele jamais terá dito uma mentira na vida.
É do Werneck. É bom.
Este sabe escrever – tem maldade, tem charme, sabe contar uma história. Tanto que este colunista, que ainda não leu o livro, sabe que só pode ser bom. Humberto Werneck lança na quarta-feira (12/5), na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, Pinheiros, em São Paulo), a partir das 18h30, as crônicas de O espalhador de passarinhos.
São 66 crônicas escritas nos últimos 20 anos. A julgar pelos outros livros de Werneck, (O desatino da rapaziada, Chico Buarque – tantas palavras, Pequenos fantasma, O santo sujo), não tem erro: deve-se ler o mais rápido possível.
Como…
De um grande portal da internet:
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‘Em primeiro encontro entre os pré-candidatos à presidência Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PT), o clima (…)’Agora já se sabe por que Serra fala tanto de governo de união: se até já o passaram para o PT, a união fica muito mais fácil.
…é mesmo?
De um grande jornal, na matéria sobre o jogo Corinthians 2 x Flamengo 1:
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‘Derrota no Pacaembu por 2 a 1 tira outra vez o clube do torneio continental, a taça que mais cobiçava no ano de seu centenário’
É assim mesmo
Do anúncio de lançamento da nova série de Lost:
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‘Ancioso pela última temporada?’Anciozícimo! Mais do que hãciozu!
De um grande jornal regional, recontando pela milionésima vez a piada de que os políticos, como as fraldas, têm de ser trocados, e pelo mesmo motivo:
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‘Políticos são como fraudas’Fraudas, pêssegos em cauda, piano de calda – coisas do Brasiu.
Vasto…
Ele foi tolerado por algum tempo, advertido algumas vezes, mas continuou: o professor de jornalismo Jerry Dunklee, de 64 anos, acabou preso por se masturbar em frente à janela de seu apartamento, em New Haven, EUA.
No Brasil houve um incidente semelhante, mas sem prisão: um empresário famoso se masturbava em frente à janela do apartamento, sempre quando a vizinha estava olhando. Um dia, ele recebeu um pacote de fotos: no apartamento de baixo da vizinha, havia outro publicitário, que fotografou tudo. O empresário chegou a pensar que era chantagem, mas logo se tranquilizou: era apenas uma advertência para aprender a comportar-se. Parece que aprendeu.
…mundo
Outro escândalo ocorreu na Florida, EUA, quando um senador estadual foi flagrado enquanto olhava fotos de mulheres nuas no laptop, durante um debate. Deu uma de brasileiro: não sabia o que havia no e-mail, e quando abriu as fotos logo tratou de fechá-las. Mas não explicou por que estava abrindo o e-mail em vez de assistir ao debate que ocorria em plenário antes de uma votação.
E eu com isso?
Ah, as questões de vida em comum! Em vez de procurar aqueles chatíssimos artigos especializados, por que não buscar bons exemplos nas notícias frufru?
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‘Casadas conversam mais com o cachorro do que com os maridos’**
‘Alemão se casa com gata depois de 10 anos de convivência’**
‘Dez por cento das pessoas com menos de 25 anos acham normal enviar SMS durante o sexo’**
‘Sandra Bullock dorme com nove cachorros na cama’**
‘Placa sinaliza área `oficial´ para sexo ao ar livre na Inglaterra’**
‘Elas relatam aventura de ser mãe em blogs’Deve ser difícil. Se em casa já é complicado, imagine em blogs.
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‘Sócrates: `Ganso é o maior dos últimos anos´’Cada coisa que andam medindo ultimamente!
O grande título
Vale a pena começar por um título que um dia alguém poderá explicar:
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‘Grécia e EUA penalizam e Ibovespa despenca’Este colunista procurou em vários dicionários. Em nenhum deles há qualquer significado para ‘penalizar’ que dê sentido á frase.
Um título sobre futebol, nesta época de Copa, é essencial:
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‘Jogador morre em campo e leva amarelo por simulação’E deve ter sido expulso logo em seguida, quando o juiz o mandou levantar-se e ele não obedeceu.
E agora, um título imbatível:
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‘Mãe de bebê não estava grávida’Deve fazer sentido, claro. Afinal de contas, era manchete do jornal.
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados