Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A morte e a morte de Augusto Pinochet

O general Augusto Pinochet não morreu apenas uma vez. Morreu antes, quando, com a arrogância e o isolamento típicos dos ditadores, achou que poderia convocar um plebiscito e vencê-lo. Perdeu e deixou o poder. Morreu de novo quando, por ordem de um juiz espanhol, foi preso na Inglaterra – justo na Inglaterra, que apoiara na Guerra das Malvinas. Morreu uma terceira vez quando se descobriu que, por trás da imagem de ditador duro e cruel, mas honesto, havia um pinocheduto ligando o Tesouro chileno às suas contas privadas no exterior.

Deus concedeu a Pinochet o martírio de uma vida longa, longa o suficiente para ser preso e desonrado, longa o suficiente para ver Michele Bachelet, a moça torturada por seu regime, chegar à presidência da República.

A imprensa, no geral, cumpriu seu papel ao tratar de Pinochet. Há quem se ressinta da falta de mais elogios ao programa econômico do ditador, mantido em suas linhas gerais até hoje, que promoveu o desenvolvimento do Chile; há quem se queixe de que, ressaltando também seu êxito econômico, parte da imprensa deixou de informar que não há sucesso na economia fundado sobre a barbárie.

Mas é preciso, desde já, lembrar que Pinochet não era o único ditador da América. Outro, mais antigo do que ele, mais insensível – tanto que, ao contrário de Pinochet, jamais admitiu deixar o poder – responsável por mais mortes, sem qualquer êxito econômico a mostrar, tem problemas de saúde que parecem insolúveis. A mesma imprensa que destacou a barbárie de Pinochet não poderá tratar Fidel Castro como herói romântico. Ditador é ditador, assassino é assassino.Como Pinochet, Fidel Castro tem as mãos sujas do sangue de seu povo.



A vida pública e a privada

A iniciativa privada tem todo direito de focar seus eventos num único veículo. Uma entidade pública, não: uma entidade pública tem de tratar igualmente todos os repórteres, sejam de que publicação forem. E a polícia é pública: o hábito que se difundiu de escolher uma rede de TV, sempre a mesma, para cobrir seus eventos, é incorreto. Para usar o termo da moda, é anti-republicano. Se a polícia vive dos impostos que todos pagam, por que privilegia uma só rede?

Não se pode, no caso, usar o critério de audiência – até porque não se trata de anúncio, mas de jornalismo. Mesmo em publicidade, conceder o monopólio a um só veículo não é correto. No jornalismo, então, é favorecimento escandaloso, que tende a perpetuar uma situação de monopólio de fato.

Já havia acontecido na prisão de Maluf, nas diversas operações com nomes esquisitos. Repetiu-se agora na prisão de Madame Gigi, apontada pela polícia como a maior cafetina do Brasil. Só uma TV foi convidada para acompanhar os acontecimentos. E pôde entrar na casa de Madame Gigi sem a autorização dela.

Concorrência é bom e faz bem. E é por isso que não se pode aceitar que órgãos do governo patrocinem o favorecimento em vez da competição.



Pecados e pecadores

Muitos leitores reclamam da omissão de nomes nesta coluna. É uma opção editorial: esta coluna analisa os pecados, não os pecadores. Não tem o objetivo de falar mal, ou bem, de pessoas ou veículos, mas o de comentar as notícias que foram publicadas. Não há diferença entre portais grandes ou pequenos, jornais ricos ou pobres: nenhum é citado.



Primeiro Mundo

Lembra da foto que mostra as melhoras de Isabelle Dinoire, a francesa que sofreu um transplante de rosto depois de ser atacada por um cachorro? Pois é: ao que tudo indica, a foto foi retocada no computador. E, cá entre nós, com foto retocada não é preciso nem ter havido transplante: um bom retoque resolve tudo.

Houve falha ética, é certo; mas não apenas no jornalismo. Houve falha ética também na medicina. O público foi enganado; os especialistas que acompanham o caso com curiosidade profissional, também. E uma pergunta ficou sem resposta: a moça terá sido consultada sobre a divulgação de suas fotos retocadas?



O crime e o crime

A leitora Jacqueline Souto faz uma pergunta:

‘Após ouvir as palavra do William Bonner no dia do crime em Bragança Paulista – ‘Brasileiros de bem, que respeitam as leis, que respeitam os outros cidadãos, que pagam impostos e que tentam levar a vida com dignidade ficaram sem palavras, hoje, diante de um crime registrado na cidade…’ – fico me perguntando qual a diferença entre os bandidos que cometeram o crime em Bragança Paulista contra Eliana Faria da Silva, seu marido Leandro Donizete de Oliveira, o filho Vinícius Faria de Oliveira e Luciana Michele Dorta, e os bandidos que cometeram o crime contra Daniele Toledo e Vitória, sua filha.

‘Os bandidos do crime de Bragança Paulista serão punidos, assim que identificados. E os bandidos que cometeram o crime contra Daniele Toledo e Vitória, sua filha? Essa é a pergunta que não quer calar’.

É uma boa pergunta, e a resposta é simples: os bandidos de Bragança, que queimaram as vítimas, pegarão alguns anos de cadeia. Os que difamaram Daniele Toledo e lhe puseram apelidos pejorativos continuarão no exercício da profissão – policiais, jornalistas – e, de vez em quando, bem de vez em quando, algum chato como este colunista lembrará o feio papel que desempenharam. Responda rápido, Jacqueline: quem foi o repórter que espalhou o caso da Escola Base?



E eu com isso?

A epidemia de famosas (moças que aparecem nas revistas porque são famosas e são famosas porque aparecem nas revistas) fotografadas sem calcinha parece ter acabado. Veja só a última notícia sobre o momentoso assunto:

** ‘De vestido curto, Dieckmann evita mostrar calcinha’

Se Caroline Dieckman evita mostrar a calcinha, é óbvio que a veste, não é mesmo? Então, assunto encerrado: outras notícias trepidantes aguardam a vez.

1. ‘Pneu de bicicleta de Alessandra Negrini fura em passeio’

2. ‘‘Eu quero ser normal’, afirma Beyoncé Knowles’

3. ‘Duas bombas: Adriana Galisteu e Daniela Winits tomaram banho de sol juntas. E Ana Maria Braga, que está novamente solteira, não quer um novo amor em 2007’.

4. ‘Angelina Jolie e Brad Pitt se mostraram bastante renovados depois de passar longos períodos na Índia e na África’

A propósito, que é que isso quer dizer?



O grande título

Este é imbatível: não enfrentou nenhum concorrente na semana. Vamos lá:

** ‘BM&F prepara a sua desmutualização’

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados